•20•

11 1 0
                                    

 Kim So Hyun

Eu já devia estar acostumada ao ritmo de trabalho intenso no bar, mas nunca, nunca, nunca consigo achar normal a quantidade de pessoas desesperadas por bebidas e petiscos até tão tarde da noite. Tae Yul tira o avental, antes de entrar na pequena cozinha enfumaçada do bar, onde eu estava escondida, massageando os pés.

— Três minutos. – diz, se encostando no batente da porta e suspirando com força. – Preciso de três minutos sem ver nenhum braço acenando para fazer mais um drink ou vou matar alguém esta noite.

— Eu... – minha voz falha, encabulada por estar fugindo do trabalho, enquanto todos estão agindo.

— Shhh... eu não ligo, juro, não ligo. Dong Wook sabe que depois de termos viralizado deveria contratar mais um meio período para render você, mas aparentemente ele gosta de te torturar e ver seu rostinho lindo suado toda noite... quando volta pra te buscar e te deixar em casa... – não consigo responder à provocação, engasgada na minha própria saliva. – Saenaegi, jinjeonghae... calma, novata, respira... – Tae Yul bate nas minhas costas, com um sorriso malicioso. Quando o acesso passa, escutamos Park Ha Jun gritando por nós do lado de fora e a voz grossa de Dong Wook acompanha. – Falando no diabo... –Ha Jun abre a porta da cozinha, reclamando.

— O que as velhinhas fofoqueiras estão fazendo aqui escondidas? Tá o maior caos lá fora! – Tae Yul recoloca o avental e eu calço de volta os chinelos – como os que Wookie usa – para voltar a zanzar pelas mesas com os pedidos.

— Dois minutos para recuperar minha barra de sanidade e não tacar sua cara no balcão, Ha Junnie... – ela sai, arrastando-o e eu engulo o bolo de nervosismo.

Há algo diferente no ar, uma expectativa, uma eletricidade esquisita quando saio ao ar livre. Mesmo que Tae Yul implique, não consigo evitar que meus olhos o procurem no bar, primeiro porque ouvi a voz dele, segundo porque tenho necessidade de ver na expressão, quase sempre severa, se será uma carona tranquila de volta ou uma daquelas em que viremos calados e retraídos.

Ele nunca me olha de volta.

Desde o aniversário e o presente extravagante em dinheiro, Dong Wook parece estar sempre andando com a tensão de uma corda esticada ao limite. Não arrebenta de vez comigo, porque também estou mais arredia que o costume, sentindo que minha fortaleza impenetrável contra ele está cheia de buracos e rachaduras, então fico completamente abalada quando Dong Wook não somente me olha fixo, como também anda na minha direção e para, colocando as mãos enormes nos meus ombros. Meus joelhos tremem, só um pouco, quando ele me aperta, amistosamente.

— Preciso falar com você depois do expediente. – há uma animação na voz dele que me inquieta e acende todos os meus alertas, ao mesmo tempo.

— Do que se trata? – Dong Wook sorri e eu desmonto mais um pouco.

— No carro eu explico. – fala como se fosse a situação mais corriqueira do mundo as caronas que se tornaram hábito nosso. Sei que Tae Yul nos observa com seus olhos de águia e que apesar de nada estar acontecendo, eu estou sob um holofote figurado.

E não gosto.

— Mande um kakao, Do Hyun vem me buscar hoje. – me desvencilho dele, que parece murchar um pouco e tento disfarçar o azedume súbito com o trabalho. – A mesa 6 está chamando, geureomyeon... – estou fugindo em vão, eu sei.

Não há como correr da confusão, se ela está alojada no fundo do peito. 

 

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
The Sea of HopeOnde histórias criam vida. Descubra agora