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Kim So Hyun

Acho que nunca pensei que um dia eu poderia viver aquilo, não da forma como eu estava vivendo. Você ouve histórias assim e sabe que elas são dignas dos dramas, na tela da TV, e você definitivamente não acha que vai acontecer com uma fulana qualquer de Daegu na vida real, mas ali estava eu: sozinha no quarto do Wook, cercada pela intimidade dele do jeito que eu jamais, jamais, jamais pensei que ficaria.

Ok, não era exatamente o quarto dele, porque eu percebi logo que era impessoal e limpo demais, mas ainda assim...

Eu estava na casa dele.

Eu dormi sozinha com a paixão platônica da minha vida.

Que não tenha sido no mesmo quarto, na mesma cama, debaixo da mesma coberta pouco me importava, era debaixo do mesmo teto! Sozinhos! A bolha de êxtase me domina até eu lembrar da hora e da prova de design que eu teria no dia, enquanto o coração dispara por ser da matéria mais importante do semestre e o professor mais exigente do curso. Em pânico, percebo que não dará tempo de ir em casa e depois para a faculdade; eu ainda estou com a roupa do dia anterior – suja da briga e da delegacia – e gritando por Wook pelos corredores do apartamento elegante percebo também que estou sozinha. A última porta do corredor encerra minha esperança: a cama vazia e ligeiramente desarrumada me diz que aquele é o quarto do Dong Wook e que se ele passou a noite ali, agora realmente não estava mais.

"Merda, merda, merda..."

Preciso me desesperar com calma, então respiro fundo e faço uma lista mental do que dá e do que não dá pra fazer no momento.

colocar o celular para carregar um pouco

tomar um banho, mesmo que minha roupa esteja imunda

comer algo da geladeira do Wook

pegar um uber até a faculdade

O banheiro do quarto onde eu dormi está vazio, tanto de toalhas quanto de produtos de higiene, uma prova de que Wook não costumava receber ninguém, então é com todos os pés atrás que me tranco no banheiro do quarto dele e realizo mais uma transgressão ao usar as coisas pessoais do meu crush. O cheiro dele deixa minhas pernas fracas, – assim como o sabão, o shampoo e o roupão enorme – e de banho tomado, me recuso a usar as mesmas roupas do dia anterior. O que me faz automaticamente olhar para o guarda-roupa de Lee Dong Wook com cobiça.

"Kim So Hyun, não se atreva."

Tenho menos de quarenta minutos para estar na minha sala esperando o professor Choi e as minhas roupas ainda estão rodando dentro da lavadora na área de serviço de Dong Wook.

"Kim So Hyun, isso é ultrapassar TODOS, todos os limites!"

São apenas roupas! É uma emergência!

"Eu desisto de você..."

Eu também desisto de discutir com minha voz interior e vasculho as araras do closet de Dong Wook e improviso uma combinação que pareça com algo que eu usaria. Uma camisa branca de botões chega até meus joelhos e a menor calça social de Dong Wook vai precisar de muitos clipes de papel e um cinto para ficar ajustada na cintura. Tento não pensar muito no que estou fazendo quando pego uma cueca limpa em uma gaveta e termino de colocar a roupa e um paletó por cima, que fica largo como um casaco chique. Estou aceitável quando me olho no espelho e fico repetindo em looping que logo devolverei tudo lavado e cheiroso, até escrevo isso em um post-it e deixo preso na porta do closet.

Resta pouquíssimo tempo para comer uma maçã e tomar um copo de suco e logo estou saindo do apartamento com toda a velocidade. O elevador demora uma vida para descer ao térreo e quando as portas se abrem, não sei qual dos dois toma o susto maior: Dong Wook me encara horrorizado e eu solto um gritinho nada discreto.

Puta merda, fui pega no flagra. 

The Sea of HopeOnde histórias criam vida. Descubra agora