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Kim So Hyun

Um dia eu ia morrer pela razão mais idiota possível de ser descrita em um obituário: "Kim So Hyun, 20 anos. Causa mortis: deu de cara com Lee Dong Wook no sofá de casa com roupas casuais e pernas de fora." Então eu fazia o quase impossível e tentava ignorar o melhor amigo do meu irmão mais velho quando ele aparecia de surpresa lá em casa e fingia costume, me fazia invisível, e na maioria das vezes não era difícil.

Mas aí as aulas da faculdade começaram... e nós nunca fomos de ter muita grana em Daegu, então três irmãos na capital, dois economicamente bem dependentes, elevaram as minhas economias a - 10. Passagens do ônibus e do metrô, comida em casa e outras necessidades eram supridas pelos nossos pais, mas os gastos "supérfluos" de uma cidade como Seul não estavam no pacote, por isso eu precisava de um emprego de meio período pra ontem.

E aí entrava o Dong Wook.

O Sea of Hope era um bar estável e badalado na orla - com uma clientela que me manteria ocupada o suficiente para não ficar secando o dono com uma cara de imbecil e com retorno financeiro garantido - que por sorte ou coincidência do destino estava contratando uma garçonete de meio período naquele momento.

Só faltava o dito cujo aceitar me contratar e todos sairiam ganhando. O que me leva ao impasse que estamos no carro, a caminho do bar. Vou precisar apelar.

- Pode me deixar perto da estação, vou pegar o metrô. - evito soar presunçosa ou ele ia acabar pegando meu blefe no ar.

- Acabou de dizer que ia pro centro. - Dong Wook se vira pra mim, investigando meu rosto. "Não olhe pra ele, Hyunie, não olhe, não babe, não seja idiota."

- Ah, mas eu vou, vou pro centro de Itaewon. Com certeza tem algum lugar precisando de uma funcionária de meio período. - ainda consigo sentir o olhar do Wook em cima de mim, mas não tiro os olhos do celular.

- Você sabe que não vai trabalhar em um bar, não porque eu não queira, o que eu realmente não quero, mas porque é contra a lei empregar adolescentes em estabelecimentos que vendem bebida alcoólica, não sabe?

- É essa a sua desculpa? Acorda, Wookie, fiz 20 anos sexta-feira, sou legalmente maior de idade. - ele pelo menos parece constrangido. Não somos próximos o suficiente pra que ele saiba quando é meu aniversário ou algo do tipo, mas ele... bom, faz bastante tempo que eu sou a irmã mais nova do Do Hyun, deve ser um choque descobrir que enfim sou adulta.

- Parabéns. - agora não consigo evitar de soar sarcástica:

- Valeu. - viramos a rua da estação para o lado da orla, quase no automático e eu faço as contas de quanto gastaria em um ônibus e o metrô pra Itaewon descendo na próxima esquina. - Pode parar ali? Se cruzarmos a rua xxxxx vou ter que pegar dois ônibus.

- O Do Hyun sabe que você quer trabalhar no Sea?

- Não exatamente no Sea, mas sabe que eu tô procurando um emprego de meio período. As coisas na faculdade não são exatamente baratas, então... - ele pára no sinal que eu pedi, mas não destrava a porta do carro. Sou obrigada a olhar para Dong Wook a uma marcha de distância e sinto que vou acabar desmaiando.

- A Hae Ri se formou e foi embora de Gamchodong, então realmente tem uma vaga de garçonete no Sea.

- Eu sei, ouvi você conversando com o Ji Hyun e já que ele não aceitou trabalhar lá, pensei em me candidatar. Win-win pra nós dois, e tal, mas... - um carro buzina atrás de nós, mas Wook não liga.

- O Do Hyun nunca deixaria você trabalhando na noite de Itaewon, é muito longe do apartamento. - "Óbvio que não, é por isso que eu tô dizendo que vou pra lá, mané."

- Eu sei, mas já coloquei meu currículo em todos os lugares perto. O Sea era a última opção. - mais buzinas se juntam ao coro e o sinal fecha novamente. Estou muito empenhada em não encarar Dong Wook como se fosse pular nele para dar atenção.

- Você tem um severo problema de gênio, é informal demais com um homem mais velho, amigo de família e que seria seu chefe e não poderia falar comigo desse jeito na frente dos outros funcionários e dos clientes. - ele lista nos dedos e é a minha vez de ficar constrangida.

- É... tem isso.

- Sim, tem isso.

- Eu poderia me esforçar...? - dou de ombros, surtando por dentro. Ele ia me contratar?! Mais um ato das buzinas e Wookie dá a partida no carro, bufando.

- As coisas que eu não faço pelo Do Hyun...

The Sea of HopeOnde histórias criam vida. Descubra agora