Careless Whisper

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Regina 

Olhei em volta, tentando entender o que todo aquele vazio causava em mim e não senti nada do que achei que sentiria. A saudade dos momentos que vivi ali não veio. A vontade de desistir e voltar atrás, muito menos. Tudo o que estava me preenchendo naquele instante, era o alívio por não precisar mais reviver cada lembrança, cada momento feliz ou não, que compartilhamos dentro daquelas paredes que agora não tinham mais cor, mesmo que suas tonalidades ainda fossem impecáveis. Aquela era a última vez que eu adentrava aquela casa. 

Nos primeiros dois meses de afastamento, foquei em sentir tudo o que precisava sentir em relação aquela traição. Me culpei, culpei Kristin e Fiona, fiquei com raiva, triste e no final, conformada. A culpa não era minha, a decisão não foi minha e mesmo sofrendo com o ocorrido, não tinha muito o que eu pudesse fazer além de cuidar de mim mesma. Me desfiz de todas as minhas roupas, sentia a necessidade de mudar e assim o faria. Troquei as roupas coloridas por muitas de cores neutras. O azul claro foi substituído pelo marinho, enquanto o preto e o vermelho começaram a ganhar mais espaço nas gavetas e cabides. Coloquei todas as coisas de Kristin dentro de algumas caixas e as deixei num canto qualquer, pretendendo lhe entregá-las em algum momento.

No terceiro mês a mesmice e o tédio já me tomavam por inteira, então decidi que fazer uma viagem seria a melhor opção. Apesar de ouvir e ver que as mensagens e ligações não paravam de chegar, eu não me importei. Avisei Zelena que precisava tirar um tempo pra mim, longe de tudo e de todos, e simplesmente fui. América do Norte, Central e do Sul, esse foi o início do meu roteiro, que não parou por aí. Eu não consegui, precisava sentir mais daquela sensação de liberdade, de descoberta e redescoberta. Consegui chegar até a Europa e quando percebi, mais cinco meses haviam se passado e eu precisava voltar para casa. Ainda me restavam quatro meses e eu não fazia ideia do que faria com eles. Pelo menos até voltar para dentro daquelas paredes e sentir que elas não me cabiam mais. Eu precisava me mudar. 

— Regina, você enlouqueceu? — foi a primeira coisa que Zelena falou no momento em que eu abri a porta para ela e Ruby. Tínhamos conversado sobre aquilo por mensagens e eu já esperava aquela reação, o que não me impediu de revirar os olhos e bufar em seguida — Você passou praticamente a sua vida inteira aqui. Essa é a sua casa desde sempre. 

— Mas eu não consigo ficar mais aqui, Zelena! Não depois de tudo o que eu vivi com ela aqui dentro, principalmente depois daquele dia — já estava ficando cansada de ter que responder as mesmas coisas para Zelena. 

— Eu concordo com a Regina! Se ela não se sente bem morando aqui, acho válido ela se mudar — sorri levemente para Ruby. 

— Você sempre concorda com ela, Ruby! — Zel resmungou.

— Claro! Ela é minha amiga, Zelena! Se ela diz que esse é o melhor pra ela, eu vou apoiar essa decisão — falou firme — Se no futuro, ela perceber que não foi uma boa escolha, vou estar aqui para ajudar a superar o momento e seguir em frente.

— Como eu me arrependo de ter apresentado vocês duas — resmungou revirando os olhos e levando uma das mãos à testa — E você pretende se mudar quando e pra onde? 

— Estou de olho em alguns apartamentos e já marquei visitas para amanhã e depois. Preciso fazer isso até o final do mês, quero me estabilizar bem antes de voltar às aulas — olhei em seus olhos e vi o exato momento em que ela resolveu que iria me ajudar. Zelena era uma boa amiga, uma das mais antigas que tinha e eu sabia que toda a sua implicância era apenas preocupação excessiva. 

Graças a eficiência do corretor de imóveis que estava me ajudando com os trâmites do meu novo lar, não tive problemas em achar o lugar perfeito pra mim. Sala de estar, cozinha, sala de jantar, dois quartos, um escritório e área gourmet. Tudo muito bem decorado e planejado, do jeito que eu esperei encontrar. A mudança veio logo ao final do mês e o próximo passo seria a venda da casa, o que demoraria um pouco mais, principalmente considerando a reforma que decidi fazer. Mas para aquilo, não teria pressa. 

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