Capítulo 8

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 "Está tentando ser educado?" Perguntei em análise, até porque, honestamente, eu não me lembrava de um único momento em que ele havia me agradecido por algo desde que nos conhecemos.

"Eu posso ser educado, sabia?"

"E você acha que vai ganhar algo com isso?"

"Você veio, não?"

"Precisamos conversar", eu disse calma, ignorando totalmente a fala dele, por ser algo que eu não poderia refutar; observei que ele analisava as minhas vestes, depois o olhar retornava para o meu.

"Você fica bem assim", retrucou, "mesmo que eu prefira o kefta."

"Eu me sinto mais confortável assim. Você vai se acostumar."

"Não vai ser difícil", sua voz ficou rouca, talvez pelo frio advindo da janela "mas diga-me, Alina, como esteve durante a minha ausência?"

"Você se sente bem? Com o medo deles?"

O Darkling caminhou até mim, tanto que só quando eu realmente parei para observar seu movimento, que percebi que ele estava há poucos centímetros do meu rosto; ele refletiu em silêncio por longos segundos, olhava para mim da mesma forma como a de quando soube que eu era a Conjuradora do Sol — esperança — mas, dessa vez, havia um toque de angústia do qual eu não sabia bem o motivo.

"Não no começo", sua voz estava baixa, "mas com o tempo, tive que me acostumar."

"Por que?"

Era uma pergunta arisca. Mas simplesmente havia escapado, como se aquela palavra fosse um metal atraído por um ímã — era como se ele também quisesse que eu perguntasse aquilo.

"Porque você teve a sorte de nascer em uma época em que Grishas não são sentenciados a morte em qualquer lugar do continente, não só Fjerda, quando manifestam seus poderes" ele se afastou de mim, indo em direção até uma poltrona, convidando-me para me acomodar na outra, de frente a lareira "e eu não digo isso esperando que sinta pena de mim. Só para mostrar que você é incapaz de entender algo que nunca viveu."

"E a Dobra?"

"Você sabe que foi um acidente, Alina. Eu não queria criar a Dobra." Ele tirou o kefta enquanto falava, mantendo sua atenção em mim conforme eu me acomodava na poltrona à sua frente. "Mas, você já parou para pensar que a única coisa que mantém os grishas no Pequeno Palácio é a Dobra?"

"Por que diz isso?"

"Porque sem uma guerra, uma Conjuradora do Sol" ironizou "Etherialkis, Materialkis e Corporalkis são melhores mortos aos olhos da Coroa. Somos os únicos que podem transportá-los em segurança pela Dobra. Ou você acha que o rei nos manteria aqui?"

"Mas nada disso justifica a forma como você perseguiu tantas pessoas, meus amigos e-"

"Eu queria você, Alina. Não tenho motivos para sair correndo até Ketterdam como um louco atrás de seus amigos se você está aqui."

Parei de respirar por um momento. Então meus amigos estavam em Ketterdam? Também poderia ser um blefe, mas a possibilidade de ser real me machucava. Eu não podia me fraquejar perto dele, ou ele teria poder sobre mim.

"Então o que você quer?"

"Agora? Trazer os grishas de volta para Os Alta. Recomeçar da estaca 0, mesmo que leve um ano inteiro, ou até mais."

"E como você pretende recomeçar?"

"Eu errei em várias coisas do processo, Alina. Eu poderia ter confiado em você da mesma forma que confiou em mim quando chegou, deixado que matasse o cervo em condições melhores, por exemplo."

"Então você quer me pedir desculpas?"

Ele abriu um sorriso.

"Convenhamos, amor, não é como se qualquer coisa que eu dissesse agora a fizesse esquecer ou perdoar" ele me encarou novamente, e meu polegar foi em direção a cicatriz da minha palma, contornando-a como forma de direcionar meu desconforto em não saber como reagir àquela frase, ou a forma como ele me chamou "eu tenho esse péssimo hábito de não querer depender dos outros, mas, preciso da sua ajuda, afinal."

"Então esses dias que esteve fora... não estava caçando meus amigos?" Perguntei, ainda concentrada na própria mão. "Estava resgatando os grishas?"

"Pode ver por si mesma", ele ficou de pé, indicando que eu caminhasse até a porta "mas eu adoraria acompanhá-la."

Caminhei devagar até a saída da Sala de Guerra, abrindo a porta para deixar o local, quando decidi por alguma espécie de intuição me virar uma última vez, porque ele ainda estava lá — era estranhamente a primeira conversa daquele tipo que eles tinham fora do laço.

"Disseram pelos corredores que você parte amanhã em missão", respirei fundo, esperando que a resposta dele respondesse o quão confiável ele poderia ser "posso ir com vocês?"

Um meio sorriso surgiu em seu rosto conforme ele me analisava, talvez pensando se aquilo era apenas uma forma de fuga dele, ou então se eu queria checar se ele iria atrás dos meus amigos — eu não podia julgá-lo, porque eu provavelmente faria aquilo em outras circunstâncias.

"Esteja pronta às cinco."

"Boa noite, Aleksander."

Então eu retornei para o meu quarto e, só quando finalmente me deitei, percebi que havia chamado-o pelo seu nome.

Seria uma longa viagem.

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Light and Dusk- an alternative ending for the grisha trilogyOnde histórias criam vida. Descubra agora