Capítulo 6

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Não trocamos uma única palavra. Assim que saímos pelos fundos, percebi que haviam dois cavalos negros equipados com celas de couro, o símbolo dele cravado nas laterais, um sol em eclipse. Ele já havia planejado retornar comigo desde o momento em que nos falamos pela conexão.

As pessoas que estavam próximas se afastavam quando passávamos por elas. O Darkling não tinha o respeito do povo, isso eu já sabia, desde muito cedo. Mas uma coisa era ouvir as histórias, outra totalmente diferente era presenciar. Ele tinha o seu medo.

Cavalgamos lado a lado durante todo o percurso. Ele me fitava algumas vezes, talvez esperando que eu falasse algo, mas eu simplesmente o ignorava. Então ele parecia tentar formar alguma frase, mas trincava o maxilar antes mesmo de produzir qualquer som, em seguida voltava a olhar para a frente.

Meus quadris e coluna já estavam doloridos quando ele fez um sinal pedindo que eu deixasse o cavalo próximo de um córrego de água corrente, para que descansasse.

Eu não compreendia o motivo de estarmos ali. Estávamos rodeados apenas por ruínas do que deveria ter sido um dia um observatório de pedra.

Ele indicou uma espécie de portal na altura da minha cintura formado por algumas pedras, e quando atravessei, me deparei com a coisa mais bela que já vi em toda minha vida. Não fazia ideia de que lugar era aquele; mas parecia ser mágico. Até o cheiro do ar ali era diferente; era fresco, mas ao mesmo tempo tinha algo que o tornava peculiar.

Estar naquele bosque era como estar dentro de um conto de fadas ravkano, os que eram contados para os órfãos em Keramzin. Tudo era mais verde, as flores silvestres lembravam mais pedras preciosas do que todas as flores que eu já tinha visto nos jardins do Pequeno Palácio. E também havia um calor bem-vindo. Ele parecia estar me abraçando da forma mais confortável possível.

Parecia ter sido preservado por anos, longe do contato humano. Foi aí que eu percebi o motivo. Merzost. Era esse o cheiro que tornava o ar tão diferente.

Caminhamos por um tempo, até que nos aproximamos de um chalé que, mesmo tendo uma arquitetura antiga, estava tão preservado quanto todo o bosque. Eu não suportei, então perguntei:

"Que lugar é esse?"

Ele pareceu processar minha pergunta direta por minutos, até que disse:

"A casa de um parente."

Eu não sabia se estava surpreendida com o fato do Darkling não ter algo que chamasse de lar, talvez porque era uma casa simples. O que eu esperava? Que a casa dele fosse um palácio?

Quando ele abriu a porta, eu me deparei com móveis de madeira, cômodos comuns, nada de extraordinário. Era só uma casa comum.

"Fique à vontade", ele disse ao mesmo tempo que retirava o kefta negro e o colocava cuidadosamente num suporte por trás da porta; agora, ele só estava com roupas cumuns, pretas também, só que daquele jeito... daquele jeito, ele só parecia um garoto simples que tentava dar o máximo de si para proteger a sua família.

Ele foi em direção a uma poltrona que ficava ao lado da lareira, conseguia ver Baghra nele agora. Fez um gesto silencioso convidando-me para sentar na outra poltrona, de frente para ele. E assim eu fiz.

Eu nunca me senti tão desconfortável em toda a minha vida. Não o encarava, mas sabia que ele estava me estudando como se eu fosse sua última experiência científica que deu errado, e ele estivesse buscando a parte que estava falha.

Light and Dusk- an alternative ending for the grisha trilogyOnde histórias criam vida. Descubra agora