33 - Santo

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 Descobrir isso feriu da pior forma possível o pouco orgulho que Astierr tinha sobre seu título de Santo Cavaleiro. Culpou-se por não ter feito as reflexões filosóficas e estudos sobre os benditos ensinamentos que os antigos tinham para as futuras gerações, por nunca ter conversado com alguém sobre os pergaminhos ou mesmo de ter lido de fato ao invés ler duas linhas e ir treinar suas técnicas de combate, musculação e ajudar com as atividades do dia de Luno. Nunca se preparou para outras necessidades. Achou que o que sabia bastava, mas reconheceu a própria ignorância quando sofreu o primeiro ataque dos conquistadores e saqueadores nos limites do Território de Selim. Teve de aprender a liderar a força tarefa dos soldados do Vizir na base do acerto e erro. Com mais erros que acertos.

Falha atrás de falha, a confiança de Astierr era minada pelas suas escolhas, bem como os soldados que julgavam o Jovem Furioso a cada resultado. Não sabia o que fazer diante da necessidade de um comandante de guerra, alguém que guiasse e ordenasse os soldados de forma que as adversidades do campo de batalha não fossem problemas tão grandes. Não sabia nem mesmo contornar trincheiras, respostas básicas a táticas de cerco e quaisquer outras manobras da arte da guerra que ele negligenciou em aprender. Achava que estudar era chato e agora pagava o preço por isso, nunca quis tanto ver seu amigo que provavelmente tinha lido todos aqueles pergaminhos na noite que passou em claro e saberia o que fazer agora.

Marco não era tão inteligente quanto, mas sabia se virar quando o assunto era a segunda parte de suas tarefas. Precisava tentar descobrir a causa daqueles ataques também, coisa que obviamente era ainda mais difícil para Astierr. Diferente da sua irmã, não sabia ser furtivo. Gram tentou ensiná-lo uma vez, mas simplesmente achou errado, estranho. Por mais que não fosse uma violação do código, se esgueirar e espionar pareciam coisas que um Santo não faria. Seu mestre discutiu sobre o assunto uma vez com o Jovem Furioso, mas apenas ignorou a conversa e não levou nada consigo. Suas convicções o impediam de ser alguém sorrateiro, mas não era o caso para Marco e sua trupe.

O bardo não era incrivelmente influente, mas tinha um ou outro contato para conseguir informações sobre estes ataques. Descobriu uma rede de organizada maior do que suas fontes conseguiam cobrir, o que só poderia significar uma coisa: havia um ou mais Vizires envolvido. Um grupos de soldados eram liderados por algum comandante, este era ordenado por algum homem de posses que poderia ser de qualquer outro Território, e afortunados geralmente só respondiam ao seu Vizir, mas sempre havia como fazer o dinheiro falar mais que a honra para alguns. A lista de Vizires cujo governo recaia sobre os culpados era extensa, Mohamed, Ibrahim, Abdul, Xerxes, Farzad, Arsalan, Jamal e até mesmo o Grão-Vizir Gilgamesh poderia estar envolvido, já que todos tinham vassalos que supostamente estavam financiando esses ataques. Todos tinham seus territórios próximos ao sul e era plenamente plausível que fosse de interesse deles tirar lascas das posses de Selim para si.

Diferente das cidades, vilas e vilarejos, os Territórios eram um conjunto desses locais onde o Vizir governava soberano, havia um total de 89 sobre os poderes destes e do Grão-Vizir, o Leste era repartido como uma torta por uma faca e os donos da torta sempre queriam mais pedaços. Não havia uma pulverização do poder em cada cidade, vila ou vilarejo, como nos demais reinos, mas sim a centralização em Territórios. Os Vizires também jogavam um complexo jogo de poder que fazia nós na cabeça de Astierr, que simplesmente não conseguia entender o motivo de quererem mais terras. "Não significa mais trabalho? Eles já são podres de rico!" Era sua dúvida interna, simplesmente não entendia o motivo, mesmo depois dos cinco meses que esteve defendendo os limites do Território de Selim.

— Tenho uma boa notícia e uma má notícia. Quer qual primeiro? — Marco disse ao entrar na tenda, fazendo os sóis escaldantes adentrar o local por um segundo.

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