9 - Cosmo

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Gram tinha acordado de excelente humor naquele dia, afinal era Luno. No dia de Luno, o 'treinamento' era diferente, todos os membros começavam a ajudar na limpeza e colheita da semana, era a coisa mais simples no mundo, mas ao final daquilo Gram sentia uma gratidão e tranquilidade imensuráveis, como se os sóis só pudessem nascer depois de todos fazerem a sua parte nessas tarefas. Em resumo, ele adorava fazer tarefas domésticas, como limpar e arrumar.

Vestiu seu avental para limpeza e começou a juntar baldes de madeira, esfregões e vassouras, estava pronto para a 'guerra'. Decidiu acordar Baltazar primeiro, já que provavelmente teria dormido mal. "O corpo dele é tão franzino... Acho que nunca teve que trabalhar ou carregar algum peso em sua vida, deve ter sido super mimado e consequentemente, dormido bem mal. Pobrezinho, mas aposto que uma boa faxina vai animar ele" pensava com um sorriso estampado no rosto quando finalmente chegou na porta, bateu e o chamou para o 'treinamento'. Ao não responder, achou que o garoto tinha sono muito pesado, mas então ouviu uma voz extremamente cansada reclamar.

– É Luno! Vocês treinam no primeiro dia da semana? Todo mundo descansa em Luno!

– E como você acha que vai comer ou ter as coisas limpas pelo resto da semana? Ande logo e saia desse quarto, rapaz! Tenho certeza que vai gostar, lembre-se que eu não consigo mentir.

– É que... Eu tive um problema...

– Eu sei, teve uma noite mal dormida, tenho certeza que o feno nem se compara a cama que tens – "tinha..." pensou ao ouvir –, mas o 'treino' de hoje vai te revigorar, pela tarde poderá dormir mais, é coisa rápida, vamos!

Completamente à contragosto e ainda com o pergaminho em suas mãos ele foi até a porta. O pergaminho que tinha era o que explicava sobre o que era o Cosmo, é extenso e bem grosso, aparentemente existem diversas definições e discussões que os autores daquele rolo acrescentaram ao longo das gerações de Santos Cavaleiros sobre não só o que é, mas também suas propriedades.

Quando eles olharam, um silêncio estranho começou. Simplesmente Gram não sabia o que comentar sobre aquelas olheiras profundas e as vezes que o rapaz quase desmaiava de sono, mas voltava subitamente. Baltazar não conseguia levar a sério o avental que ele vestia, era um avental simples branco sem nada, mas a discrepância dele com o homem de ar sombrio e experiente nas artes das armas simplesmente o fizeram quase rir, se não fosse o cansaço.

– Você não dormiu?

– Não pude... Fui começar a ler um pouco e – bocejou preguiçosamente – acabei encontrando um pergaminho muito interessante sobre o Cosmo... – Terminou fechando os olhos, escorando seu corpo na porta, dormindo em pé.

– Pelos Antecessores... Você perdeu o juízo? Me dê isso! – Tomou o pergaminho da mão dele, se pergunta como e porque aquilo estava lá, afinal era um conteúdo muito avançado para discípulos, ele não deveria ler coisas desse nível. "Alguém trocou os pergaminhos?" pensou enquanto olhava para suas mãos, deu um suspiro e continuou – Está completamente acabado, vai ter que dormir pela manhã, mas lhe adianto que estou muito irritado com sua negligência! Praticamente jogou o treino de ontem fora, rapaz. Pela tarde eu te acordarei, durma agora.

– ... Podemos... Falar sobre isso depois? – Balbuciou Baltazar ao levemente conseguir abrir seus olhos, nunca tinha virado uma noite e isso fez ele começar a cair de seu encosto.

Numa velocidade inacreditável e num silêncio tão imensurável quanto, Gram adentrou o quarto e o segurou antes de cair com um sorriso singelo no rosto, não passou a noite virado por mal, apenas queria aprender. Sabendo disso, deitou o rapaz no feno pensando que ele deveria gostar de ler, Astierr contou para ele sobre a perda da família e ficou realmente entristecido por compadecer de seu luto. O deitou e foi até o quarto de Astierr, um podia ter deixado de dormir a noite, mas o outro iria ajudar ele com a limpeza. Prontamente, foi até o quarto de Astierr, que abriu a porta assim que ele bateu na mesma.

Limiar da RealidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora