16 - Fuga

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Amália então começou a explicar o seu plano. Tinham pouco tempo, sua visita semanal durava apenas uma hora, então se vestiu logo para a tristeza de Sônia e começou a explicar o que tinha em mente:

– Eu tenho uma receita para uma poção que copia as habilidades de um falsário, conseguindo mudar de rosto, tamanho, aparência e etc. – explicou ainda sussurrando, não tinha certeza de que o guarda estava ou não ouvindo.

– Oh! Isso seria muito útil!

– Fale baixo!

– Desculpe! – disse tampando a boca rapidamente.

– Enfim, eu tenho quase tudo aqui, mas falta só uma coisa que é a mais importante: eu preciso de um fio de cabelo ou qualquer outra parte de um falsário, unha, pele, etc...

– Que nojo, precisa mesmo disso?

– Sim, também acho nojento, por isso nunca fiz, mas pelo visto vou precisar. E de duas delas.

– Ué, mas por quê?

– Porque você vai tomar também.

– Mas isso deve ter um gosto horrível – disse com nojo estampado no rosto.

– Você acabou de me usar inteira e não pode tomar uma coisa com gosto ruim? – Reclamou, emburrada.

– Desculpa... Eu tomo.

– Obrigada, acho que você já entendeu mais ou menos o que quero fazer, vou tomar a poção para parecer com você e você o contrário.

– Quanto tempo isso dura?

– Um dia, mais ou menos, você vai ter que ficar trancada aqui por algum tempo ou até alguém descobrir que 'você' sumiu. Pode fazer isso por mim também, né?

– Sim, eu realmente queria resolver isso de outro jeito, mas tenho certeza que está tomando a decisão correta Senhorita Amália – obviamente a opinião de Sônia tinha viés, mas ainda queria acreditar nisso, mesmo não sabendo de toda a situação da profecia com Amália. Era a única exceto do Oráculo e o guarda da porta que sabia da prisão domiciliar, as demais pessoas achavam que Amália estava doente, foram as mentiras que Verônica espalhou para acobertar a situação.

– Eu realmente não sei como agradecer, Sônia, isso significa muito pra mim... Liberdade.

– O que a senhorita pretende fazer quando sair?

– Eu acho que vou tentar resolver essa situação, tentar descobrir um jeito de convencer elas a não me aprisionar, mas não tenho certeza como. Espero mesmo que alguma visão me guie.

– Mas você vai voltar?

– Não sei... Eu gostaria, mas acho que posso também encontrar alguém que cure a minha Vovó. Tem que ter alguém em Vernya capaz disso!

– Espero que tenha mesmo, vou estar contando com você, senhorita.

– E eu com você, Sônia, ele vai bater na porta agora.

O guarda então bateu na porta com três batidas firmes, conforme previsto por Amália, então disse:

– A visita acabou. Criada, se retire antes que eu entre.

Frustrada, ela começou a se retirar enquanto a prisioneira domiciliar observava sua criada ir em direção a saída, quando o guarda abriu a porta e os três se entreolharam. Sônia passou pelo guarda apenas pensando como conseguiria 'uma parte de um falsário'. Era tarde, por volta das oito horas da noite, todos já estavam em suas camas e Sônia resolveu fazer o mesmo, pensaria em como arrumar isso até o próximo dia de Giovo, quando ocorria a visita. Acordando, lembrou-se que nos dias de Luno havia as ações humanitárias da igreja, onde diversos moradores de rua se reuniam para poder almoçar pelo menos uma vez sem precisar mendigar ou implorar por trabalho. Teve que esperar e guardar o segredo de suas demais amigas criadas e candidatas a profetisa, que foi a parte mais difícil para ela, já que não costumava mentir.

Limiar da RealidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora