21 - Oração

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Diante da porta, Baltazar começou a suar de nervosismo, pois viu uma névoa branca saindo vagarosamente por debaixo dela. Sua mão foi até a maçaneta que estava gélida como um cadáver. Finalmente tomou coragem e abriu a porta, viu Percival Professor ao centro da mesa em formato de U quadrado, estava com o mesmo sobretudo de sempre, mas sem sua cartola. Não haviam chifres ou qualquer coisa parecida sobre sua cabeça. Parecia calmo, calmo até demais. À sua frente, duas taças borbulhavam com um líquido azul, que era a fonte da névoa que Baltazar viu na porta. Com um sorriso gentil, ele convidou seu aluno para sentar.

— Boa tarde, Baltazar Guarda-Livros. Por favor, queira se sentar — Percival estava 'lúcido', não ria ou fazia expressões estranhas em seu rosto. Estava absolutamente calmo e sorrindo gentilmente — Aceita um destilado? Fiz especialmente para você.

— Não, obrigado, não gosto de beber. Quer dizer, nunca bebi na realidade, mas não pretendo começar hoje — Ele respondeu enquanto se sentava, tentando tirar o excesso de fumaça causada pela bebida.

— Tudo bem, tudo bem, não irei insistir, talvez facilite para você concordar comigo sobre o que quero conversar — o sorriso calmo e tranquilo não saia de seu rosto, mal sabia Baltazar como aquele homem estava se controlando para não parecer o lunático que era — hoje mais cedo, aconteceu uma coisa peculiar... Você acabou sangrando ao se cortar com o papel, já está melhor?

— A ferida foi superficial, fechou quase que na hora — o Aprendiz de Mago levou a mão até o dedo que foi cortado num instinto —, mas acredito que não veio aqui pra se preocupar comigo, mas sim pra me chantagear.

— Não ache que sou tão baixo! Fique tranquilo, jovem, só estou me preocupando com você e queria conversar sobre uma coisa ou outra. Teve a aula de introdução a magia com Sarah? O que achou?

— Foi incrível — ele sorriu com a felicidade que estava quase certo que tinha perdido para sempre — não consegui entender todo o conteúdo, mas vou revisar assim que chegar em casa e ler algumas outras coisas sobre magia e o Cosmo para aprender mesmo, estou muito atrás dos meus colegas e acho que preciso me esforçar mais. Eu adorei cada segundo da aula principalmente quando ela mostrou as estrelas através daquela magia e sem nem falar nada! Sarah é uma Maga incrível e...

— Respire, rapaz! — Interrompeu Percival — Que bom que está empolgado, mas controle seus ânimos. Infelizmente, eu não consegui te cativar tanto quanto minha colega, mas acho que você também aprenderá bastante comigo. Sobre uma parte da aula, você se recorda que ela disse sobre uma coisa que é banida aqui na Capital?

— Banida...? Sim, ela falou algo sobre uma Arte Arcana com prática banida. Era Dominação, se não me engano.

— Está correto, aposto que não sabe o que é, gostaria de saber?

— Mas eu posso? Já que a prática é banida.

— Claro que pode — Percival respondeu quase deixando sua máscara cair, precisava persuadir o rapaz e o seu 'normal' não convenceria ele — a prática é banida, não o estudo dela.

— Não sei exatamente a diferença, mas tenho certeza que é quase a mesma coisa.

— Permita-me pelo menos explicar o porquê é banida. Justo?

Baltazar assentiu com a cabeça.

— A Dominação não trabalha com os átomos da matéria como as demais Artes Arcanas, ela altera as propriedades da consciência de um indivíduo. As magias dessa arte podem alterar memórias ou retirar o livre arbítrio do alvo da magia. É bem cruel, simplesmente invadir a mente e alma de alguém e fazer disso seu parquinho, concorda?

— Isso é verdade? Existe mesmo uma coisa tão maligna? — Ele estava incrédulo de como alguém poderia ter feito uma coisa tão nefasta com a magia. Podia não ter função, como Merlínio disse em seu discurso na cerimônia de boas vindas, mas aquela era a pior finalidade possível para a magia.

Limiar da RealidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora