• 02 •

27 6 0
                                    


Mas Kevin desvia rapidamente.

Changmin fita a superfície da mesa, desnorteado, pensando em como agir. Deveria olhar outra vez ou continuar no mesmo lugar? Não, ignorá-lo era o melhor a se fazer. Respirando fundo, ele tenta relaxar o corpo que não havia notado ter ficado tenso, e ouve a porta bater.

Quando levanta a cabeça, só vê o tom mais escuro que dominou a sala depois que o brilho do sol foi interrompido. Ele estava sozinho outra vez.

Esticando o pescoço e decidido a ignorar a estranha sensação anterior, o coreano se levanta e caminha pelo corredor ao lado da cozinha, chegando até seu quarto. Depois de fechar a porta, dá passos adiante na direção do pequeno armário abaixo de um espelho. No quadro de moldura dourada, seu pequeno eu mais novo sorria sobre os ombros de um homem de óculos iguais aos seus.

Mais alto!

A voz masculina chama a atenção do Ji, que logo vira os olhos na direção da janela. Através do vidro e do pouco espaço deixado pela cortina, Changmin vê dois de seus vizinhos antigos prestando favor aos novos, carregando um imenso piano preto para o lado de dentro. Apesar do esforço para não fazer qualquer reação, a pontada em seu estômago acaba sendo algo inevitável.

Changmin bufa e se dirige para fora do quarto.

O chão frio era confortável considerando a temperatura alta que fazia do lado de fora. Ao voltar a sala de estar, acaba sendo surpreendido pelo som da porta que se abre no mesmo instante. Sua mãe está com a mão na maçaneta e se curva enquanto sorri. Atrás dela, Changmin vê a figura que vestia verde. Kevin.

Changmin caminha para perto da mãe no momento em que ela faz menção de que vai fechar a porta. Quando ela o vê, perde a expressão por conta do susto, mas Changmin apenas passa direto por ela e pisa na calçada, colocando as mãos nos bolsos da frente da larga calça jeans.

ㅡ Você, de novo?

O tom infeliz somado a uma expressão infeliz faz Kevin hesitar. Seu sorriso se torna mais contido.

ㅡ Sinto muito se te incomodei mais cedo ㅡ Kevin junta as sobrancelhas.

ㅡ Vai fazer todos os vizinhos de empregados por mais quanto tempo?

ㅡ Changmin!

Sua mãe agarra seu braço, mas Changmin não se move. O desinteresse em se mover está pleno em seus olhos. Kevin abre a boca para falar, mas nada sai. No entanto, ele não aparenta estar abalado ou mesmo com raiva.

ㅡ Bom, eu... também sinto muito se dei trabalho a sua mãe. Não foi minha intenção.

Changmin estreita os olhos, mantendo a mesma expressão por segundos. Kevin não sorri, mas parece esperançoso. Esperançoso de algo que Changmin não sabia o que era, e a dúvida o irritava mais a cada segundo.

No entanto, ele apenas se vira para dentro, levando a mãe junto, e fecha a porta severamente.

ㅡ Por que falou desse jeito com ele? ㅡ a mulher para ainda na entrada, vendo o filho apenas seguir pelo corredor sem a dar ouvidos, e o baque leve do fechar da porta a faz arquejar.

Com as costas apoiadas na porta, Changmin inclina a cabeça para trás e respira fundo. Calmamente, se aproxima da cama e senta na beira, apoiando os cotovelos nas coxas. Talvez tivesse sido severo, talvez devesse ser mais como sua mãe e fosse adaptável. Mas ele era diferente. Odiava aparências boas porque já havia confiado demais em rostos bonzinhos. Kevin certamente era do tipo que gostava de causar boa impressão e só de imaginar isso, Changmin sente o sangue ferver. Sua mãe era boa demais, gostava de agradar demais, mas Changmin não a deixaria cair em nenhum tipo de falsa gentileza.




୨୧



O coreano bufa ao abrir a porta dos fundos, tendo dificuldade em carregar a sacola grande em sua mão. A tarde já estava em seu fim, mas mesmo o clima sereno da aproximação do crepúsculo não lhe era interessante. Após enfiar o saco na lixeira, Changmin relaxa o corpo tenso e abaixa a tampa. Metros à esquerda, seus olhos enxergam o quintal vizinho através do espaço deixado pela única tábua faltante na cerca.

Caminhando naquela direção, pouco a pouco seus ouvidos sensíveis captam o som suave de uma melodia que ia ficando mais alto a medida que ele se aproximava. Ele apoia as mãos no cercado, aproximando o rosto do espaço existente. De onde está consegue ver uma janela fechada pelo vidro, de onde enxerga a movimentação de cabelos castanhos. Erguendo o corpo e ficando na ponta dos pés, Changmin finalmente reconhece que era Kevin ali, movendo a cabeça e o tronco no ritmo da música. Seus ombros estão rígidos e seu rosto pouco visível está focado. O som do piano entra pelos ouvidos de Changmin e quase alcança seu coração, até que a música para.

Ao abrir os olhos, os quais nem percebeu ter fechado, sente o coração acelerar. Kevin está em pé, e quando está prestes a se virar, Changmin decide rapidamente se jogar na grama, parando com os joelhos e as mãos no chão. Ele aperta os olhos, perdendo o controle da respiração. Eu fui visto, tenho certeza que fui. Como vou evitá-lo agora? Que desculpa darei se ele me perguntar? Considerou todas as opções de saída completamente inúteis. Ao levantar a cabeça, hesitante, percebe que já não há mais ninguém. O alívio retorna ao corpo e ele se ergue outra vez, apoiando a mão na cerca. A porta dos fundos se abre de repente, fazendo Changmin congelar. Mas não há tempo. Kevin está o olhando, apoiando sua mão na maçaneta da porta como se já soubesse que iria o encontrar lá. Como se tivesse flagrado Changmin o assistindo tocar piano um minuto atrás.

summer heat • kevkyu᠉Onde histórias criam vida. Descubra agora