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Changmin abre os olhos pela manhã e seu primeiro pensamento não lhe é uma surpresa.

Ele. O cheiro dele parece estar em seu próprio corpo, impregnado em si. As palavras do dia anterior na despedida do passeio resistiam em sua mente. O beijo que deram na frente de casa. O sorriso enorme que não conseguiu esconder de sua mãe.

O verão havia se tornado sua estação favorita.

Depois do café da manhã que tomou sozinho, olhou para os lados e percebeu que não tinha muito o que fazer. Batendo os dedos na coxa por puro costume, lamentou internamente ainda ser terça-feira.

No entanto, um novo pensamento se sobrepôs: ele poderia tocar no piano de Kevin sempre que quisesse.

Ao caminhar até a entrada, se perguntou se Kevin estaria lá, mas não teria problema se ele não estivesse. O único problema seria seu pai, e não que ele fosse dizer algo. Pra ele, aceitar uma preferência que não tinha nada a ver com a vida dele ainda era algo difícil, era o que Changmin pensava. Odiava pensamentos tão retrógrados e egoístas. Seria melhor se o senhor Moon não lhe dirigisse a palavra, caso contrário, Changmin poderia não ser tão gentil.

Ao pisar do lado de fora, o sol forte do fim da manhã o fez erguer a mão para proteger os olhos. O fazia sentir. Changmin sorriu.

Porém, seu sorriso se desfez quando andou mais a frente e virou os olhos na direção da entrada da casa ao lado. Kevin estava lá. Um garoto estava com ele.

Changmin endurece o rosto, mas nenhum pensamento exato se formula em sua cabeça. Com certeza era só um amigo, afinal, Kevin era sempre gentil com todos, seria completamente normal ter muitos amigos... O Ji morde o lábio inferior. Não queria saber quem eram seus amigos. Um pensamento rápido e egoísta finalmente lhe surge: não seria melhor se ele não tivesse?

Ao se aproximar lentamente, notou os traços físicos do garoto. Era mais alto que Kevin, magro e com pernas longas. Tinha olhos pequenos mesmo quando não estavam sorrindo, mas Changmin não sabia se era por causa da luz do sol ou se era natural dele. Ele também não queria saber. Usava uma blusa roxa escura e um jeans azul claro. Fazia contato visual demais. Desnecessário.

ㅡ Vim tocar um pouco ㅡ Changmin fala friamente ao passar por Kevin, mantendo a cabeça baixa. O Moon se surpreende e se vira para vê-lo entrar.

ㅡ Espera! Posso te apresentar ele? É meu amigo, Juyeon.

Changmin pisa no tapete do lado de dentro, mas para de andar. Ao se virar, vê Juyeon se aproximar e estender a mão, sorrindo de maneira gentil com a outra mão atrás da costa.

ㅡ Fui um dos professores de piano dele ㅡ declara ele, e recebe um empurrão leve de Kevin.

ㅡ Pare de ser tão convencido, está bem? ㅡ Kevin ri tampando a boca. Changmin imediatamente pensa: ele nunca ria assim.

ㅡ Mas é verdade! ㅡ diz e volta os olhos para Changmin. ㅡ Ele aprendeu metade do que sabe comigo.

Não perguntei nada, Changmin queria dizer, gritar com toda a sua vontade. A mão de Juyeon já havia relaxado a muito tempo, talvez ele nem tivesse percebido que o Ji se recusou a apertá-la. Changmin bufa e balança a cabeça.

ㅡ Você está indo tocar?

A voz de Kevin soa alta na distância, mas Changmin revira os olhos. Ele já tinha dito no momento em que chegou. Seguindo pelo corredor, nem havia percebido quando seu punho havia se fechado. Ele empurra a última porta do lado esquerdo e acende a luz, encontrando o grande piano preto.

Minutos haviam se passado. Changmin mantinha os olhos fechados, treinando conseguir acertar cada tecla. Errou várias vezes, quis bater no teclado, mas não o fez. Não era certo descontar num objeto que tinha tanto significado para si. Recomeçou a música. A porta se abre lentamente.

Changmin sabia que Kevin havia voltado, mas não espiou para vê-lo. Apertou os olhos como se estivesse ultraconcentrado. A música soava levemente, notas eram erradas, seus dedos tremiam. Por que tremiam tanto? De repente, braços o envolvem por trás. Changmin abre os olhos e para de mover os dedos, fitando algum ponto baixo no meio do nada.

ㅡ Por que parou? Eu estava adorando.

ㅡ Há quanto tempo vocês se conhecem?

A pergunta soa quase sombria, dura como pedra. Changmin não se esforçou para disfarçar o peso em seu peito. As mãos de Kevin a sua frente parecem hesitar.

ㅡ Por que está... ㅡ por algum motivo, ele se interrompe por um momento. Parecia ter percebido. ㅡ Bom, ele foi um dos amigos próximos que tive no ensino médio. Aprendi técnicas de piano que não conhecia com ele, mas nada tão... relevante. Não tanto quanto ele fez parecer.

Kevin ri, mas a risada soa sem graça. Changmin mantém os olhos distantes, apertando os lábios um contra o outro.

ㅡ Ele é bonito. Até demais. Parece legal também.

Um rosto confuso aparece em seu campo de visão. Kevin faz o seu melhor para tentar olhá-lo de frente, mas Changmin se recusa a devolver o olhar.

ㅡ O que está acontecendo? ㅡ os olhos de Kevin pousam em cada canto de seu rosto com preocupação.

Changmin bufa e abaixa a cabeça. Quanto mais Kevin era gentil consigo, mais ele se sentia horrível. Seu peito apertava em angústia tanto quanto sua garganta. Isso tudo era medo de o perder para qualquer um que aparecesse?

ㅡ Agora entende por que nada dá certo comigo? ㅡ ele sorri triste, encarando a própria mão sobre o colo. ㅡ Me sinto uma pessoa horrível por agir assim. Sei que acha o mesmo.

ㅡ Você errou ㅡ Kevin diz seriamente. ㅡ Eu não acho o mesmo. Você tem razão em se chatear, eu nunca apresentei nenhum amigo antes.

ㅡ Razão? ㅡ Changmin ri ironicamente, mas não está nada feliz. ㅡ Eu me sinto com um peso enorme aqui dentro por um motivo tão idiota... eu quero chorar por simplesmente ter...

ㅡ Me imaginado com outra pessoa? Isso é comum a qualquer um.

Changmin cerra o punho, desistindo de continuar seu argumento. Os olhos de Kevin estão sérios, atentos, mas não rígidos. O Ji não sabe o que fazer, mal entende o que deve pensar. Por que ele se condenava tanto? Ele abaixa a cabeça.

ㅡ Me desculpa.

ㅡ Eu desculpo você.

Apesar de ouvir algo que queria, Changmin não relaxa o corpo, principalmente porque vê Kevin se afastar rapidamente, como se estivesse com raiva. Ele nunca havia visto Kevin com raiva antes. O canadense para em frente a janela, parecendo perdido em pensamentos. Changmin se levanta e o segue, parando ao seu lado com uma mão apoiada na parede.

ㅡ Kevin...

ㅡ Eu sei que é uma coisa comum ㅡ Kevin começa. Sua voz soa trêmula. ㅡ Mas quero que confie mais em mim.

ㅡ Eu confio em você, eu só...

ㅡ Não tem certeza se é bom o suficiente pra mim, é o que vai dizer?

Changmin morde o lábio com força. Talvez fosse exatamente o que ele estava prestes a dizer. Sentia-se ingrato e egoísta. Kevin abaixa a cabeça e a balança, rindo ironicamente quase sem forças. O coração de Changmin aperta.

ㅡ Até quando terá tantas dúvidas? ㅡ Kevin pergunta em um quase sussurro.

Mas ele tinha o direito de reclamar.

Tantas coisas boas aconteceram entre ambos. Momentos de paz que silenciaram as vozes impertinentes e amargas na cabeça de Changmin. Kevin o fez bem como ninguém mais fez. Roubou o seu coração da forma mais discreta possível. Changmin não havia percebido quando.

ㅡ Eu não vou mais te fazer mal algum.

Changmin dá um passo em direção à saída, mas Kevin segura seu pulso. Ambos se olham por longos segundos. Seus olhos trocavam sentimentos em silêncio, doloridos, cheios de coisas a dizer. Mas ninguém diz nada. Kevin afrouxa o aperto. Changmin deixa seu quarto. E talvez estivesse deixando sua vida.

summer heat • kevkyu᠉Onde histórias criam vida. Descubra agora