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Changmin queria que o sol explodisse.

Rasgava em pedaços a folha verde que havia arrancado, deixando-os cair sobre a superfície cinzenta. O início da manhã era seu horário favorito, mas nem mesmo admirar o dia na calçada de casa estava o animando. Sua mãe chegou bêbada no dia anterior, então ainda dormia. Tudo estava silencioso, exceto sua cabeça. Parecia que um martelo acertava a sua têmpora sem dó, atormentando-o sem parar.

Por mais que tentasse fugir daqueles pensamentos, não conseguia ir muito longe. No momento em que abriu os olhos pela manhã, foi o gosto dos lábios de que Kevin que sentiu. Quando segurou a xícara de café, sentiu as mãos delicadas em seu pulso outra vez. Ora, por que ele mexia tanto consigo?

E ali, quando abaixa a cabeça de modo que faz sua testa encostar nos joelhos, se lembra dos olhos dele.

ㅡ Você sabe que não fizemos nada de errado, não é?

Changmin pensa estar delirando. Abre os olhos e ergue a cabeça devagar. Estou delirando. No entanto, vê os sapatos de Kevin quando olha para o lado. Seus olhos sobem lentamente e captam o rosto preocupado do canadense. A imagem lhe acerta forte no estômago.

ㅡ Kevin, agora não é uma boa hora.

Changmin desliza as mãos nos próprios braços, olhando para qualquer lugar que não fosse o rosto de Kevin.

ㅡ Você sabe que não fizemos nada de errado ㅡ Kevin repete, sem reforçar o tom de voz. ㅡ Não é?

Seus olhos se fecham por um momento, então se abrem. Ele suspira, finalmente se colocando em pé. Kevin o olha com expectativa, ao mesmo tempo que parecia triste. Changmin se odiou. Não queria tê-lo deixado triste.

ㅡ Eu sei.

ㅡ Então, por quê?

Os braços de Kevin envolvem o próprio redor. Estava atento a cada centímetro que se movia no rosto de Changmin.

Ele balança a cabeça.

ㅡ Não quero que passe por isso.

ㅡ Me explique de uma vez.

ㅡ Eu não quero que você sofra! ㅡ o grito sai enquanto seus olhos se fecham com força. Um calor surge atrás de seus olhos. São lágrimas. ㅡ Porque todo mundo... todo mundo que esteve comigo foi infeliz ㅡ ele vira para Kevin, batendo a mão no peito, já perdendo o controle do tom de voz. ㅡ Eu sou infeliz! Eu não quero te deixar desse jeito também, eu só quero...

Sua fala é interrompida. Um calor envolve seu corpo. Um abraço. Um aperto tão forte que quase lhe tira o ar dos pulmões. Kevin chia para que ele faça silêncio, apertando os olhos. Changmin força as mãos contra ele, mas não é forte o suficiente para afastá-lo. Kevin continua insistindo e insistindo. Ele sempre estava insistindo. Seu aperto é o que afrouxa as correntes no coração machucado de Changmin, e ele cedo ao choro, grita alto como uma criança, grita como se o desespero em sua alma fosse grande demais para o seu corpo pequeno. Kevin acolhe seu medo e protege seu coração. Com um abraço.

Changmin já não fazia ideia de quanto tempo havia se passado. Aos poucos fungava mais baixo, sentia o peito parar de subir e descer com tanta força. Se sentia mais calmo.

ㅡ Eu acho que o mais infeliz nas suas relações pode na verdade ter sido você, mas você se recusa a pensar em si mesmo. Se não lhe trataram da maneira que você merecia, não há motivo para se culpar.

A voz de Kevin soa perto de seu ouvido, fluindo como calmante em suas veias, e Changmin assimilava cada uma de suas palavras, sentindo menos lágrimas escorrendo agora. Ele se afasta minimamente, agarrando seu ombro com uma das mãos.

ㅡ Você não sabe nada sobre mim ㅡ sua mão se firma no tecido de sua blusa, agarrando com toda a força. Os olhos em sua frente permanecem calmo, atentos a cada gesto.

ㅡ Eu sei. Nós nem mesmo somos amigos. Eu poderia ter te ignorado quando te vi aqui e dado meia volta. Mas eu não fiz ㅡ diz sinceramente, vendo os olhos do outro se perderem em um ponto aleatório. ㅡ Eu poderia... ter esquecido o que houve ontem à noite, mas você era tudo o que vinha a minha cabeça. Você é tudo o que fica nos meus pensamentos quando vai embora, mas nós nem nos conhecemos.

Changmin morde a parte interna dos lábios ao se afastar, sentindo o tremor em seu punho fechado. Sua força então diminui e sua palma se abre. Seus ombros relaxam. Ele estava ouvindo direito? Kevin cansa de esperar e agarra o rosto de Changmin com as mãos, fazendo-o olhar para si.

ㅡ O quanto eu preciso te conhecer pra ajudar você?

ㅡ Eu não pedi ajuda alguma ㅡ diz de forma sombria, arranhando a própria pele com a unha do dedo polegar. Seus olhos ferozes se firmam na direção do rosto insistente a sua frente.

ㅡ Está bem, eu não vou te ajudar ㅡ Kevin abaixa as mãos, relaxando os braços em cada lado do corpo. ㅡ Só quero ficar perto de você.

ㅡ Você não aguentaria... ㅡ Changmin sorri, balançando a cabeça enquanto sentia as duras lágrimas deslizarem de seus olhos avermelhados. ㅡ Não sabe quem eu sou.

ㅡ Quem você é então?

A vista embaçada tenta focar em Kevin, então se vira para o céu mais ao lado, alcançando as copas das árvores.

ㅡ Eu sou... ㅡ diz soltando a expiração pesada, sorrindo com os lábios trêmulos. Após segundos, ele encara Kevin. ㅡ Eu não sei.

E cai de joelhos, sentindo a tontura tomar conta e seus membros doerem. Parecia que tudo doía. Kevin o abraça por um momento, mas logo o leva para algum lugar que Changmin perde a noção de qual seja. Anda passos tortos e passa por uma porta, depois um corredor, depois outra porta. Algo macio conforta suas costas. Está deitado. Kevin está logo ao lado sentado em algum lugar, mas o ambiente não é familiar, não é a sua casa.

É a de Kevin.

Kevin tenta chegar perto, mas Changmin se deita de costas, de frente para a parede. Dobra seu corpo e aperta o estômago como se estivesse com dor. Talvez realmente estivesse. Kevin senta-se à beira da cama, depois se deita, abraçando-o por trás. Dizia para que ele chorasse mais, e Changmin gritava. Estava tudo bem, afinal. Estava tudo bem.



summer heat • kevkyu᠉Onde histórias criam vida. Descubra agora