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Uma noite de sono às vezes é capaz de fazer milagres. Poucas horas de descanso podem fazer uma nuvem carregada se dissipar do seu corpo e mente.

O sentimento que acompanhou Changmin durante o dia foi o de culpa. No entanto, ele não sabia se era pelo que disse a Kevin, ou se era por simplesmente tudo em sua vida.

Seu passado vinha à tona. Era como se seu cérebro de repente o estivesse castigando com reproduções de todos os erros que ele já havia cometido no passado. Alguns deles nem mesmo eram erros. Alguns eram apenas decisões que ele tomou sem pensar, coisas das quais ele poderia sentir orgulho já que se arriscar era algo que poucos ousavam fazer. Porém, sua mente sobrecarregada apenas aceitava que deveria sentir culpa, culpa e culpa.

A xícara caí dentro da pia num estrondo. Changmin apoia as mãos ensaboadas na beirada prateada, apertando o material frio com força. Patético. Respirando um pouco mais lentamente, decide recolher a alça que se partiu junto a outro dois pedaços menores, depois o copo restante. Joga tudo na lixeira embaixo da pia, um pouco frustrado e decepcionado.

ㅡ O que aconteceu? ㅡ sua mãe surge na porta da cozinha, alarmada.

Changmin balança a cabeça.

"Você não conhece todas as pessoas".

Uma pontada lhe acerta o estômago.

ㅡ Quebrei uma xícara. Foi um acidente.

Changmin volta a lavar o sabão do resto das louças. Sua mãe o fita em silêncio, apoiando uma mão em cada lateral da porta. Segundos depois, ela inclina a cabeça.

ㅡ Amanhã é aniversário da Nina. Você se lembra, não é?

Nina é a vizinha que mora em frente, uma menina de quinze anos que acredita que vai se tornar uma celebridade na internet. Talvez ela não esteja errada. Changmin não gosta muito dela, e pensa que prefere manter distância de pessoas com uma idade tão distante da sua.

ㅡ Esqueci. Você vai? Sei que ela sempre convida a rua toda.

O comentário amargo soa natural aos ouvidos de sua mãe, ela mal percebe.

ㅡ Vou, sim. Ela vai notar se não irmos, não quero bancar a vizinha maldosa. E eu conheço a mãe dela há anos.

Changmin sabia que o que ela queria realmente dizer era "eu vou e você definitivamente irá comigo", portanto, ele apenas assente com a cabeça.

ㅡ Vou escolher uma boa roupa depois.

ㅡ Eu também.

Com um sorriso animado, ela retorna à sala para voltar a um programa de sobrevivência que passava na tevê. Changmin suspira. Sabia que não tinha outra saída. Encontraria Kevin novamente.


୨୧


A chuva deixava rastros grossos de água deslizarem sobre o vidro. Changmin estudava as partituras pouco antes de ir dormir para conseguir memorizar. Era algo estranho em que ele acreditava. Clicando o botão traseiro da caneta, começou a cantarolar uma música enquanto batia a lateral do pé na perna da mesa, distraindo-se do seu verdadeiro foco. Após notar a si mesmo, suspira pesadamente e fecha o caderno. Depois de trinta minutos de estudo, já estava ficando com sono.

Changmin recolhe o material de escrita sobre a mesa e o guarda no estojo, depois arruma o caderno e o livro no canto. Coloca as mãos na cintura e olha ao redor para se certificar de que não estava se esquecendo de arrumar nada, então nota a cortina aberta da janela em sua frente. Com um som de surpresa, prontamente se inclina sobre a mesa para alcançar os fios que prendiam a cortina, mas a imagem da casa ao lado o faz parar de repente. Kevin.

Aquele sorriso irritante aparece em sua mente instantaneamente, fazendo seu estômago pulsar. Ele afasta-se da janela e caminha para fora do quarto. Da casa.

O ar do lado de fora era gelado e a ventania proporcionava o som do balançar das folhas. Apenas um leve chuvisco caía em leves gotas. Changmin caminha pela parte dos fundos da casa e chega até a cerca. Havia o espaço de uma tábua. Com a mão, testa a tábua ao lado, que também está apodrecida. Ele força um pouco e consegue a desencaixar do prego, abrindo um espaço maior. Não estava pensando tanto enquanto agia, como da última vez em que parou ali para escutar o som do piano. Por algum motivo, seu instinto falava mais alto.

Caminhou com cuidado sobre a grama alheia, chegando aos fundos. Ali, havia uma bicicleta e algumas caixas vazias provavelmente sem utilidade. Changmin percorre o caminho da lateral da casa e logo acha a janela que dá para a sala com o piano, onde Kevin estava da última vez. Está trancada, tal como deveria estar àquela hora da noite. Changmin retorna aos fundos mas, dessa vez, anda pela outra lateral. Há uma janela próxima de onde um brilho se destaca na escuridão. Ao se aproximar, vê o vidro fechado com uma cortina sobre ele, mas há uma pequena brecha entre os dois lados da cortina que dá espaço para a luz sair. Luz? Changmin inclina o corpo e espia pelo pequeno espaço.

Kevin? ㅡ sussurra ao estreitar os olhos.

Kevin está deitado de lado na cama coberto até o pescoço. Seu peito sobe e desce de maneira tão serena e gentil que é quase imperceptível. Seus olhos fechados dão a ele uma aparência quase angelical. Changmin morde o lábio e se afasta, balançando a cabeça. Não devia estar ali.

Seus passos se movem rapidamente de volta para casa. Ao passar pelo espaço da cerca, acabando arrastando o ombro contra um prego. Changmin solta um gemido de dor ao sentir a ardência, mas se preocupa primeiramente em ajustar a tábua retirada de volta. Feito isso, se apressa a adentrar sua casa pela porta de trás.

Com as costas contra a porta, tenta normalizar sua respiração acelerada. Torcia para não ter sido visto, embora a probabilidade fosse muito pouca. A sensação ainda doía em sua pele. Changmin coloca a mão sobre o ferimento e retorna ao seu quarto, fechando a porta num baque alto sem querer, por conta das mãos trêmulas. Sem ter motivo para colocar um curativo, apenas passa um pomada cicatrizante sobre a linha avermelhada que marcou seu ombro, e não demorou a deitar e cobrir-se com os lençóis. Na hora de apagar a luz, então, concluiu algo intrigante que não sabia como não havia percebido logo de cara.

Kevin dormia com a luz acesa.

summer heat • kevkyu᠉Onde histórias criam vida. Descubra agora