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"...Mas isso voou para longe de seu alcance
Então ela fugiu em seu sono..."
•••

Emilly Spellman

Me olhava no espelho todos os dias e me sentia suja, imunda, usada! A minha vida tinha dado uma virada tão grande que as vezes eu custava a acreditar, e quando a ficha caía eu me colocava a chorar.

Meus pais devem estar tão decepcionados...

Em dezoito anos jamais pensei que um dia poderia trabalhar assim, sonhava com uma vida cheia de conquistas, e não viver em uma montanha russa que só vai pra baixo.

Peter havia me enganado, ele não tinha nada de "caça-talentos", era um cafetão dos piores! Enganava várias meninas e eu fui uma delas, e infelizmente não tinha outra escolha a não ser trabalhar com ele para pagar a minha "dívida". E eu jurava que conseguiria pagar com o que ganhava na cafeteria... mas isso mostrou-se impossível.

Eu não tinha experiências com homens, jamais fui com um para a cama. Então Peter disse que seria generoso e me colocou para dançar em sua boate, e era nojento demais sentir os homens tocando em seu corpo sem o seu consentimento. Então sempre que chegava em casa eu esfregava fortemente a esponja para me sentir menos suja.

Durante o primeiro mês eu tentava conciliar o trabalho no café, com a boate... mas meu desempenho só piorava então decidi abrir mão do trabalho na cafeteria.

Respirei fundo mais uma vez e me encarei novamente no espelho do "camarim". A maquiagem pesada feita por uma de minhas "colegas" escondia meu rosto inchado, minha falta de vontade de estar ali.

— Emilly! — Peter disse invadindo o local me fazendo levar um susto que afastou meus pensamentos. — Está na sua hora.

— Já vou indo. — falei sem vontade.

— No final da noite quero falar com você! — ele disse seguro e bateu a porta logo em seguida.

Fechei os olhos e respirei fundo. Tirei o roupão que escondia a roupa que eu usaria por aquela noite, e depois saí do camarim. Enquanto caminhava pelo corredor até o palco, senti o frio habitual. Assim que as cortinas se abriram, eu fiz o meu melhor andar sexy até a barra de pole dance que havia no meio do palco.

Enquanto dançava eu sentia minha gargante fechar, e a vontade de chorar se fazia presente. Fechei os olhos por alguns segundos e senti aqueles nojentos tocaram meu corpo como sempre faziam, outros colocavam cédulas de dinheiro no meu sapato ou na minha calcinha, e os poucos minutos da música pareciam demorar uma eternidade para acabar.

As cortinas fecharam mais uma vez, e enquanto eu saía dali Peter me deu um olhar aprovativo. Fui descansar para as próximas duas vezes que eu subiria naquele lugar... não poderia reclamar, podia ser pior.

•••

Já estava quase amanhecendo quando as portas da boate se fecharam, Peter passou a chamar cada uma das garotas em seu escritório para o acerto de contas. Fiquei por último visto que ele queria ter uma conversa comigo.

Assim que a penúltima menina saiu, eu adentrei a sala que exalava um fedor repugnante de álcool. Peter abriu um sorriso cafajeste ao me ver, e sentei-me na cadeira à sua frente, em seguida joguei todas as notas que havia recebido durante a noite. O homem se pôs a contar cada libra vagarosamente, me fazendo respirar fundo e revirar os olhos inúmeras vezes.

desirée - henry cavillOnde histórias criam vida. Descubra agora