E, por fim, depois de muita ponderação... Edward parte para Londres.
De todos os lugares que ele devia e poderia ir, essa foi sua primeira e única escolha. Não pensara em visitar sua família em Bath ou rever caros amigos enquanto fiscalizava grandes negócios em Oxford. Afinal de contas, ele tinha coisas muito mais importantes para resolver em Londres, claro que tinha. Não visitava sua propriedade há muitos meses, Sra.Melot — a governanta — haveria de estar ansiando o retorno do patrão. Seus negócios na cidade estavam a cuidados de um velho amigo, mas era de conhecimento de todos que Philip era um bom rapaz, entretanto, extremamente acomodado e preguiçoso.
Durante todo o caminho, o jovem senhor esteve aturdido, preso em pensamentos ocultos. Pensava e logo sobrepunha um pensamento com outro. Pensava em lindos olhos azuis, depois, em como a estrada estava cheia de protuberâncias, uniformidades que o deixavam mais desconfortável que o usual. Já havia percorrido aquelas estradas diversas vezes, mas nunca as incomodaram tanto. Pensava na elegância em que os louros cabelos eram envoltos em arrumações elaboradas. Como seriam completamente soltos? Como seria completamente solta? Numa ruptura, pensava no cavalo à frente, voltava à estrada e logo: cabelos esvoaçados ao vento enquanto cavalgava, o louro traçando um rastro dourado no vento.
— Mas que diabos!
— Está tudo bem, senhor? Há algo errado?
— Como? — percebe a voz do cocheiro — Ah, sim... A estrada parece pior do que nunca! Um balanço tortuoso! Tome cuidado, está bem?
— Sim, senhor.
...
Edward era um jovem rapaz de vinte e três anos de idade, que herdara uma grande fortuna e, com ela, grandes responsabilidades... Cuidava da maior parte dos negócios de seu pai e recebera, quando ainda muito mais jovem, apenas nove anos de idade, uma imensa herança de seus falecidos tios. Eles o estimavam muito...
Desde criança era reconhecido por sua beleza e forte intelecto, porém o que mais ressoava no caráter do rapaz era seu bom temperamento, sua bondade. Podemos dizer que grande parte disso já viera com ele. Claro. Mas boa parte da personalidade do rapaz era fruto da criação que tivera, sua mãe o ensinara a ser gentil e forte e aproveitar tudo o que a vida tem a oferecer. Edward crescera com ela, ouvindo as histórias que inventava para o pôr para dormir, com as cantigas que cantava para acalmar o coração do rapaz quando criança, assim ele teria um sono tranquilo e se recuperaria de qualquer eventual estresse. Com os eloquentes e singelos sermões que a mãe dava, Edward pensava que jamais precisaria ir aos cultos de domingo para saber o caminho certo a seguir e o sentimento de amor e respeito ao próximo.
Edward foi muito mimado pelos seus pais, sim, mas da melhor maneira que uma criança deve ser mimada: de afeto, respeito e boa educação.
Apesar do imenso desejo da mãe, Edward não pensava em se casar, acreditava que a paixão era algo raro de se encontrar e que nem mesmo ele poderia ter tanta sorte... Sua pobre mãe, coitada, se ela não encontrou uma dessas paixões dos livros, quem seria ele para merecer encontrar? Não se considerava bom, tinha medo de cometer os erros de seu pai, de se assemelhar mais a ele do que pensava e perceber tarde demais. Por medo de errar, Edward nunca tentou. Todos os flertes do rapaz não passavam de flertes... Conhecera mulheres esplêndidas, mas nunca pensara em casar com nenhuma delas, mantinha uma lista enorme de amigas mulheres, tinha facilidade com elas, até mesmo desejo por algumas, mas não passava disso.
...
No momento em questão, Edward estava sendo, de certa forma, sugado por um desejo que, para ele, parecia muito incoerente. Um desejo que ele nunca sentira antes, não era um desejo carnal, como os que a grande maioria dos homens sentem e se deixam levar... Não, era diferente. O desejo de estar perto, um sentimento estranho, sim, muito estranho! Que não estava deixando o pobre dormir a noite. Um desejo que aumentava com a distância e a certeza de que aquilo não era o certo... Ou era?
...
Netherfield Park estava passando por um período de mudanças, no aguardo de seus novos donos.
Jane, doce criatura, estava no aguardo ansioso do início de sua vida ao lado do noivo e, com desespero, ansiava mais do que nunca a data de seu casamento. A questão é que Jane não estava mais se sentindo segura com sua própria decisão, a de esperar o retorno dos familiares de Charles, algo que nem mesmo ele pensava ser de grande importância.
"Jane, cedo ou tarde eles virão, não devemos definir nossa vida em casal a partir do itinerário de meus pais! Eles viajam muito, e essas viagens duram séculos! Só para comunicá-los de nosso noivado e recebermos o retorno já foram meses! Eles nos aprovam Jane... Cedo ou tarde irão te conhecer e, o melhor de tudo é que já a conhecerão como Jane Bingley, Jane, minha esposa. Isso não será maravilhoso? E eles vão aprovar, não há como não, meus pais não mentiram naquela carta, Jane. Eles deram aprovação! Quando eles finalmente puserem os olhos em você, lhe conhecer, ver o ser humano gracioso e angelical que é em todo seu caráter... Oh, Jane! Minha Jane... E, mesmo se eles não dessem o aval definitivo, de nada isso valeria para mim.
Bingley era sincero em todas as suas palavras, mas Jane temia, mesmo com todas as garantias do noivo, com todas as palavras de acolhimento e certeza, Jane ainda andava com pedras no sapato, pedras que a perturbavam muito, não sabia ao certo, sentia que algo estava errado, ela estava errada, assustada. Pobre Jane, não percebia, mas tinha medo de ser feliz. A felicidade, traiçoeira, assusta até os corações mais dignos de tê-la.
No momento em questão, Jane estava de volta a Longbourn. Era como se nada tivesse mudado... Tirando a dolorosa ausência de Elizabeth, que tornava tudo ainda mais sem vida. Jane sentia-se estagnada. Mesmo passando a maior parte dos seus dias ao lado do noivo, planejando suas vidas, indo a cidade em busca de mobília para sua futura casa, comprando vestidos com os melhores tecidos, da mais recente moda, tendo a possibilidade de prestar todo o conforto para si e para sua família. Algo estava faltando... Ela amava seu noivo, mas aquilo não parecia certo. Bingley proporcionava tanto para ela, ela achava que seu amor, seu profundo, obstinado, fervoroso amor, não parecia o suficiente para se dar em troca. Claro que seria uma ótima esposa para Bingley, mas isso seria o suficiente? Valia a pena talvez quebrar o elo que ele tinha com a própria família apenas por ela? Charles podia ter conseguido alguém tão melhor, pensava. Charles merece o melhor. E, tudo ficará bem, sempre teremos Elizabeth e Darcy. Eles não irão ficar chateados, afinal terão sempre Elizabeth e Darcy. Elizabeth garantira a segurança dos Bennet's de maneira definitiva, não precisarão de mim. O que esse casamento beneficiará além de meus desejos egoístas?
Próximo capítulo em breve.
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O Depois
FanficApós Elizabeth Bennet se tornar Elizabeth Darcy, sua história entra em um novo curso. Lizzy e Darcy mudam completamente de vida e passam a viver de amor e felicidade um ao lado do outro, com diversas novas experiências, eles passam a se conhecer ain...