8. Demons

16 0 0
                                    

As vezes temos que deixar de lado nossos demônios, nossos problemas, nossas inseguranças, nossos medos, todas as incertezas, e canalizar a força para o que realmente importa, o que temos nas mãos naquele momento. Por que as vezes precisamos estar muito focados em fazer história.

***

Desço do jato no calor escaldante do Bahrein, colocando o óculos escuros e expressão de poucos amigos, Hashida desce atrás de mim, caminhando ao meu lado na pista de pouso em direção ao SUV que nos aguardava.

- Francamente, pra que todo esse calor? - Reclama o japonês que já estava começando a ficar vermelho.

- Ainda bem que corremos a noite, já pensou se fosse durante o dia. - Falo mal humorada.

O homem apressa o passo e se põe na frente de mim, eu suspiro olhando para ele com uma expressão desanimada.

- O que está acontecendo com você? - Ele pergunta preocupado.

- Como assim? - Me faço de desentendida.

- Eu não sou esse tipo de pessoa, mas somos parceiros, temos que ajudar um ao outro, mas desde Melbourne você está estranha. Tem ficada quieta nos boxes entre os treinos, tem saído pra correr sozinha, acha que não percebi que anda evitando a academia do QG cheia?

- Estou focada demais, preciso recuperar os pontos que o babaca do Gailard tirou de mim. Aquele imbecil. - Fala com expressão de poucos amigos.

- Alex, você não me engana, nem um pouco. Mas tudo bem... - ele ergue as mãos em rendição - ...a hora que precisar conversar com alguém, estou aqui.

O rapaz abre a porta do carro para mim e agradeço com um sorriso educado, vou tomando meu acento enquanto ele dá a volta. Assim como toda a equipe de assessoria de imprensa e engenheiros que foram para os demais carros e logo partiu a caravana rumo ao hotel. Com meus óculos escuros, através da janela do carro, eu via a paisagem moderna que se misturava com o tradicional. Bem vinda ao Bahrein!

***

Ao chegar no hotel, já estava vestindo a abaia, um vestido longo e de mangas longas bem folgados típico da região, e um hijab, o véu também típico utilizado por mulheres. Na verdade todas as mulheres da equipe em sinal de respeito utilizavam a roupa típica do local em sinal de respeito aos costumes e a religião do país, e aquela seria minha roupa para aquele período em que aconteceriam as corridas do Bahreim e de Jeddah, principalmente a segunda que seria na Arábia Saudita, pois a apenas 5 anos atrás as mulheres obtiveram o direito de ter carteira de habilitação e dirigir no país, e ter uma mulher pilotando um Formula 1, seria um marco histórico para o país, tanto que um grande público feminino era aguardado no autódromo.

Na verdade, Stephania tinha uma verdadeira maratona para conciliar minha agenda, principalmente nos dois países, todos queriam conversar com a primeira pilota mulher da história da Formula 1 a disputar uma temporada toda e ainda por cima pilotar em dois países tão machistas. Por isso as roupas eram muito importante, eram um sinal que respeitava a cultura local e estrava ali apenas para desempenhar o meu trabalho. E para que eu não fizesse um dos meus atos de rebeldia, a vigilância era redobrada mesmo, sempre acompanhada de seguranças, para todos os lugares, todo o aparato planejado era impressionante.

Aquela tarde teríamos o primeiro compromisso oficial que era a coletiva de imprensa no autódromo, reconhecimento da pista e a foto oficial. Parece que a chefe de comunicação da equipe sabia de alguma forma que precisava ficar muito ocupada, ou estava me tornando uma mulher cobiçada e muito ocupada. O ruim daquilo é que quanto mais eu chamava atenção, mas me tornava uma carne sendo balançada na frente dos pedradores, dos chacais, como Gailard, que não gostava de dividir a atenção e os holofotes com ninguém.

Bad Girl || F1 - Carlos SainzOnde histórias criam vida. Descubra agora