5. Heathens

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Sabe a sensação de ser a única mulher que entra no vestiário dos garotos?
Pois bem, foi assim que me senti na primeira vez que estiveram todos reunidos, eles me olhando como a intrusa que estava invadindo um espaço deles, só faltou falarem em alto e bom som: "Não viu a placa na porta? Vestiário Masculino". E o que faz diante dessa situação? Banca a sua presença? Se encolhe humildemente? Ou sai de fininho para não quebrar a regra implícita?

***

Quando entrei naquela sala, me senti de volta ao Colégio, estavam ali todos divididos em grupinhos, o que seriam as panelinhas. Tinham os Aplicados, eram aqueles pilotos que seguiam as regras até o último fio de cabelo, conheciam o carro, eram quase uma máquina, certamente eles conversavam sobre ajustes dos carros e como otimizar o tempo. A frente deles estava William Fraser, o moreno com seu ar inglês certinho, mas que curiosamente é filho de mãe espanhola, o pai mesmo nascendo Inglês, vinha da linhagem de Simon Joseph Fraser, puro escocês, conhecido como Lord Lovat, que até chegou a fundar uma cidade no Sul do Brasil, quem diria que sua linhagem ia tão longe. Quem sabe o sangue inglês que corria nas veias o tornou aquele chato estudioso que todo colégio tem? Por que sim, definitivamente ele era um desses caras.

Na outra ponta tinham os Modelos, alguns até chamavam eles de posers, pois parecia que gostavam de correr só para chamar a atenção, adoravam quando usavam seu rostinho para a publicidade, sempre estava na capa dos tabloides por que deu uma grande festa ou pegou a modelo do momento, tinham o estilo de vida invejável documentado em todas as redes sociais possíveis e imagináveis, esses gostavam de ganhar só para alimentar o ego, diferente do grupo anterior que busca apenas a excelência e o perfeccionismo. Todos eles seguiam Jacques Gaillard, um francesinho metido a besta, como se fosse a Paris Hilton do grupo. Se levarmos em consideração o estilo de vida dele, pode ser posto assim.

Tem o grupo dos Esquecidos, aqueles que sempre são um dos últimos no grid, estão lá atrás, com carros não tão ou nada competitivos e que na maioria das vezes atrapalham os outros. Eles não possuem lideres, na verdade todos apenas os consideram os figurantes, tanto que dá pra ver logo quem são eles, por que sempre sentam no fundo da sala, e ficam felizes em apenas estar aqui, em competir. As vezes um deles consegue dar uma sorte e furar o bloqueio, fazer uma boa participação, mas é raro.

Existem os novatos, que são poucos essa temporada, me colocando automaticamente como uma espécie de líder deles, devido ao ineditismo da minha participação, já que eu e minha equipe estávamos dispostos a balançar a ordem natural das coisas. Falando nisso, tinha um grupo que estava acima de todos, eles eram simplesmente A Velha Guarda, os caras que estavam a um bom tempo aqui, era os ícones, aqueles que tinham alcançado um certo respeito e estavam ali como uma irmandade. Eles não tinham O Cara no grupo, por que todos ali eram ótimos, o topo da cadeia alimentar. Por incrível que pareça o tal do Fraser estava nesse grupo também, pois já tinha levado dois campeonatos mundiais, sua ética e seu jeito certinho, fazia com que tivesse o respeito dos mais velhos e campeões como ele.

E um desses experientes era o André Silva, que veio andando na minha direção com um sorriso, ele era do tipo boa praça, um típico brasileiro sociável do Rio de Janeiro. Ele que tinha iniciado meu recrutamento a 1 ano atrás, e antes de sair da Fast Force, para a Red Horse, ele chegou a ajudar na minha preparação.

— E ai! MacAllister! Como vai garota?

— Andy! Que bom te ver aqui. Eu vou muito bem e você?

— Bem também. Os caras estão te tratando bem?

— Sabe como é o Frank, ele aperta um pouco demais, mas eu aguento a pressão, o carro tem se desenvolvido bem.

André levou o dedo até a minha boca, silenciando, e disse em tom de segredo:

Bad Girl || F1 - Carlos SainzOnde histórias criam vida. Descubra agora