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DABI POVS

Eu amo ela, eu sempre amei. Quando éramos crianças, começou como uma frase inocente: "É com ela que eu quero me casar." Mas nunca foi uma brincadeira. Todo ano, no aniversário da minha "morte," ela ia ao lugar onde eu "morri," mesmo eu tendo feito mal a ela. Ela acendia uma vela, levava flores e chorava. Passava a noite deitada na grama e voltava para casa quando amanhecia. Todo ano era a mesma coisa, até ela sair de casa.

Eu adorava observá-la. Foram muitos anos assim. Eu sempre via o quanto ela tentava proteger as crianças para que não passassem pelo que passei. Ela nunca resolvia nada no grito ou na violência. Sempre que as crianças faziam algo errado, ela as chamava, subia numa árvore alta e explicava que o que elas tinham feito estava errado, e que ela sentia uma dor muito grande quando isso acontecia. Ela comparava essa dor a cair de cara no chão de cima da árvore. Meio tosco, mas funcionou com aqueles pirralhos.

Não vou mentir, também me importo com eles, mas isso graças a ela. Ela conseguiu preservar um lado humano em mim. É pequeno, mas existe. O que seria alguém sem sentimentos? Ainda tenho sentimentos, e é só graças a ela.

Mas em momento algum quero que ela saiba disso. Ela vai saber... um dia, quem sabe. Sei que agora é um momento vulnerável para ela. Ela sempre foi mais sensível. Imagine ser abandonada, depois seu irmão se suicida e seu pai abusa psicologicamente dos seus irmãos e de você. Sua mãe vai embora para uma clínica de loucos e você tem que cuidar de três crianças sozinha. Ela é psicologicamente fraca, mas consegue aguentar bem a barra.

Eu sei que, depois que eu cumprir meu objetivo, vou ter que parar de ver ela, e com certeza as crianças vão se virar contra ela por ter me ajudado. Mas ela é forte o suficiente para aguentar isso. Ela me quis de volta na vida dela, e agora, infelizmente, eu vou arruinar tudo o que ela vem construindo.

**Uma semana depois**

— Você é perfeita demais para o meu gosto — eu disse, sentando ao seu lado.

Mary: — Eu? Por quê?

Eu: — Só você conhece seus próprios defeitos. Por fora, quem te vê acha que você é uma adolescente que trabalha, estuda, faz estágio e cuida de três adolescentes. Mas mal sabem eles que você esconde um grande assassino.

Mary: — Nossa, falando assim eu me sinto mal.

Eu: — Por que você me encobre?

Mary: — Porque eu realmente não devia, mas você... você é meu irmão...

Eu: — Você sabe que sempre fomos mais que "irmãos."

Mary: — Olha — ela disse, apontando para a TV — a reportagem sobre o intercâmbio. As crianças vão aparecer.

Vi os olhos dela brilharem ao ver as três crianças na TV.

Eu: — Você devia ser mãe, seria uma boa mãe.

Mary: — Mal tenho tempo para cuidar deles, imagina com um bebê. E para isso eu precisaria, pelo menos, de um namorado.

Eu: — Essa parte eu poderia fazer por você — eu disse, me aproximando dela.

Mary: — Deixa de ser bobo — ela disse, me afastando com a mão.

MARY POVS

Hoje eu acordei cedo. As crianças voltam para casa, e ontem o Dabi ficou aqui enchendo o saco até tarde. Fui olhar meu celular e tinha duas mensagens do Dabi. Era um bom dia, mas diferente, pois logo embaixo havia uma foto dele sem camisa.

Eu: — Fogo no rabo logo de manhã — desliguei o celular.

Levantei para ir ao banheiro, mas ouvi um barulho na frente da porta.

— Tá, não enche, eu vou desligar.

Abri a porta e lá estava o Dabi.

Dabi: — E aí, gatinha? Tá pronta?

Eu: — Eu acabei de acordar, você está uma hora adiantado.

Dabi: — Você que está atrasada. — Ele disse, sentando no sofá.

Eu: — Vai dormir, Dabi.

Dabi: — Se for com você, eu vou...

Sai da sala e deixei ele falando sozinho. Hoje vamos visitar a mamãe. Talvez, se ela souber que o Toya está vivo, ela melhore.

Eu fiquei um tempo me encarando no espelho. Eu sofri bullying por ser adotada até o 9º ano. O Toya vivia brigando na escola para que parassem, mas nunca parou. Isso aconteceu, eu nem me formei com meus colegas. Nunca me achei bonita o suficiente. Com tudo o que aconteceu com o Toya, eu não tinha cabeça para me cuidar, fazer academia ou qualquer coisa assim. Desde os 10 anos, eu não corto meus cabelos; atualmente, eles estão passando da cintura. Minhas unhas são quase inexistentes, meu rosto, por mais que eu não tenha muita acne, tem olheiras gigantes pela falta de sono. Sem perceber, lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Eu tenho que me cuidar mais...

Acordei dessa viagem, me vesti, passei chapinha nos cabelos e tentei esconder as olheiras com maquiagem.

Saí do banheiro e o Toya estava dormindo no sofá.

Eu: — Ei — disse, cutucando-o — EIIIIII.

Ele logo acordou assustado.

Dabi: — Que demora, hein? — Ele encarou meu rosto por um tempo — Por que você está de maquiagem? Seu rosto é lindo sem.

Eu: — Pare de viagem e vamos.

DABI POVS

Ela estava demorando demais. Fui até o banheiro e ia bater na porta quando ouvi ela chorando. Voltei para o sofá e tentei entender o porquê dela estar chorando. Será que era por minha causa?

Acabei apagando pela demora. Quando ela saiu do banheiro, eu entendi. O rosto dela estava totalmente coberto por maquiagem e o cabelo estava totalmente liso, ou seja, problemas com autoestima.

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você ainda é meu toya?Onde histórias criam vida. Descubra agora