Narrador.

426 34 11
                                    


Gotículas de chuva se acumulam no vidro do consultório que Becky mais visitou nos últimos meses. Homens, mulheres e outras pessoas transitam pela avenida do outro lado da janela e seus olhos finalmente param na doutora Carmen. Ela lhe oferece um copo de água e Becky o nega, respirando fundo e já sabendo o que vem a seguir:

-E então, eu vou começar pelo início que é melhor - Becky avisou, já imersa em sua própria vida.

-Comece por onde você se sentir mais a vontade, eu estou aqui apenas para compreender - A doutora sorriu.

-Certo. Meu pai adorava jogar golfe, ele frequenta o clube mais próximo lá de casa desde que eu me entendo por gente. Nesse dia eu fui jogar com ele antes de ir pra escola. Passei a noite em claro treinando meus arremessos para impressioná-lo, e então conseguir algumas respostas sobre coisas que eu não fazia a mínima ideia da gravidade e, do transtorno que me trariam.

Segunda-feira, Royal Blackheat Golf Club. Londres.

Becky fitava o falatório constante vindo da mesinha de metal em que seu pai e mais alguns "parceiros de golfe" se encontravam. Ela se esforçava discretamente para ouvir a conversa, mas só foi possível ouvir "apenas até as 21 da noite", "nos fundos". A morena suspirou pesado, desistiu de sua curiosidade e largou seus equipamentos de golfe já gastos no chão, indo até o bebedouro.

Secava sua testa suada, causada pelo calor absurdo e extremamente irritante para Becky e tentava se concentrar em seu "teatrinho" de boa menina, assim ela gostava de chamar parte de seu "plano", plano com aspas porque não conseguiu o bolar por inteiro ainda. Quem sabe se seu pai deixasse escapar mais coisas sobre sua mãe e...

-Foi um bom jogo, leãozinho - O pai de Becky sorriu, mostrando suas marcas de expressão já um pouco mais nítidas do que ano passado.

Ele começou a encher a garrafinha de plástico no bebedouro e deu uma piscada para Becky:

-Só pega mais leve com eles na próxima, tudo bem? - Um abraço apertado e depositou um beijo na testa da garota - Se eles ganharem, eu ganho.

-Queria que eu perdesse para eles de propósito? Sabe o quanto eu pratiquei para hoje?

-Parabéns, filha. Eu reconheço seu esforço. - Robert olha em seu relógio - Opa, já está em seu horário!

-Eu sei, eu sei. Vou para o vestuário.

Becky recolheu sua toalha de suor e seus materiais, sem nem mesmo olhar no rosto dos caras com quem seu pai dava sua maior atenção. Ela preferia assim, era melhor do que o ver mentindo o tempo todo para a "proteger".

(...)

Ainda cansada após as rodadas de golfe, a morena estava com suas pálpebras pesando, encarava o quadro de sua sala da escola com dificuldade e finalmente se deixou vencer pelo sono ao notar que não havia mais professor na sala. Isso tudo antes de um tapa ser desferido em sua mesa e Becky quase saltar de sua carteira.

-PORRA - Os alunos restantes na sala a olharam curiosos e ela deu tossidas falsas, na esperança de disfarçar a situação.

Rapidamente se virou para a garota que a encarava com uma feição indiferente, responsável pelo maldito tapa em sua mesa, no meio de seu quase sono.

Ela rapidamente a reconheceu, Freen Sarocha, definitivamente fazia sucesso com todos naquela escola, não havia um que não a conhecesse por seu carisma, ou por sua beleza arrebatadora. Seus cabelos longos e escuros, traços em seu rosto orientais assim por dizer e principalmente seus olhos que engoliam qualquer alvo que eles encontravam.

-Me encontra no banheiro - Freen proferiu e se virou, saindo rapidamente dali.

Becky pensou até em perguntar o porque a garota estava de smoking na escola, coisa que não era normal, por mais que não fosse muito de reparar nas pessoas. Pensou em perguntar uma série de coisas como por exemplo, o por que de Freen ter a acordado abruptamente, mas ela apenas seguiu em direção ao banheiro feminino.

Era quase possível ver um ponto de interrogação surgindo na cabeça da estudante ao adentrar o recinto.

-O que estamos fazendo aqui? - Becky indagou ao notar a morena fiscalizando as cabines de banheiro e trancando a porta de entrada do banheiro.

Freen a encarou e assim que entendeu a preocupação da garota, abriu um sorriso e deu uma risadinha.

-Você é linda, mas eu sinceramente prefiro garotas mais velhas. Não foi esse o propósito que trouxe você aqui - A mais alta parcialmente explicou.

Becky torceu seu rosto e acomodou suas costas na porta de saída. Não queria mostrar seu incômodo em estar sendo encarada por ela sem razões conhecidas.

-Qual propósito então?

-Desculpe por atrapalhar sua aula, senhorita Armstrong - Freen proferiu enquanto se acomodava na ponta de uma das pias do banheiro - mas seu pai me pediu para lhe informar o mais rápido possível.

-Meu pai?

-Robert Armstrong, sim, seu pai. Meu atual patrão. Ele disse para que você o telefonasse, disse que você não acreditaria - Uma pausa e Freen finalmente disse que - A partir de hoje, eu sou sua guarda costas.

Becky franziu o cenho. Por que seu pai contrataria uma repetente insuportavelmente simpática com tudo e todos? Sim, ela não acreditava. Não até seu pai atender e...

-Que bom que Freen conseguiu falar com você antes do final das aulas, meu amor. Aconteceu um imprevisto aqui no trabalho, você sabe como as ameaças estão cada vez maiores - Robert justificou e logo as peças se juntaram na cabeça de Rebecca.

Mas isso não fez o fato de seu pai contratar uma estudante de ensino médio para ser sua guarda costas parecer menos absurda.

-Conversamos em casa.

-Tudo bem, meu amor. Estão me chamando aqui, Freen te explicará tudo por agora - O som de chamada encerrando se fez presente e Becky correu seus olhos para a morena.

Freen a observava atentamente, com seus braços cruzados mas prendendo um sorriso. Um sorriso que Becky ignorou com todas as suas forças.

-E então, posso chamá-la de Becky? Acho seu sobrenome muito formal - Freen indagou e a mais nova rapidamente assentiu - Me conta, é tão ruim assim ter um guarda costas?

-Não liga pra isso, vai ser só questão de tempo até eu só simplesmente não ter mais um - Becky deu o seu sorriso mais presunçoso.

-Está ameaçando meu emprego, senhorita Becky?

-De forma alguma...Mas, já adiantando, meu pai mencionou que você ia explicar como isso vai funcionar.

-Positivo, - A mais velha jogou seus longos cabelos lisos pro lado - basicamente, vou a acompanhar em quase todos os lugares, com exceção da sua casa durante os fins de semana, que a sua segurança passa a ser de Jonathan.

Jonathan, ex chefe de segurança de seu pai. E, claro, ex de Becky. A mesma não conseguiu não revirar seus olhos ao escutar seu nome. Sentiu o estresse dominando seu corpo só de imaginar mais um fim de semana o aturando.

-Já teve outros seguranças, senhorita Becky? - Questionou, Freen, a tirando de seus pensamentos extremamente ofensivos em relação a Jonathan.

-Infelizmente sim, vamos ver quanto tempo você irá durar - respondeu de forma rígida. Saindo do banheiro rapidamente.

Um "zzzzz" ecoou do celular de Becky, a fazendo puxá-lo do bolso enquanto seguia pelos corredores de seu colégio.

"O funcionário da Microhydra, Oliver Herrera foi encontrado brutalmente assassinado na rua Francès, em frente a construtora. Marcas de resistência contra golpes e dois tiros na cabeça foram eficientemente identificados na vítima. Ambulantes e mercantes da região foram interrogados, mas sem rastros ou suspeitos pela causa."

Oliver Herrera. Melhor amigo de Robert e, padrinho de Becky. Morto.

(.)

eitas. primeiro cap, curtiram?

- maria aqui !

The Bodyguard.Onde histórias criam vida. Descubra agora