Apenas uma (curta) noite.

148 16 8
                                    

Acho que eu enlouqueci. Eu só posso estar ficando louca de aceitar dormir na casa dos Armstrong, simplesmente não sei. Desde criancinha eu não gosto de dormir na casa de outras pessoas, por achar falta de educação, não sei porque. E não consegui negar o pedido de Becky para dormir na casa dela, mesmo que a situação entre nós esteja intensa, também não sei porque.

A única coisa que sei é que vou dormir no quarto dela, e isso por conta de um susposto Jonathan. Um homem alto e de cabelos castanhos claros, que parece que saiu da família real Mountbatten-Windsor, e que no chute, teria uns 27 anos.

Eu já o vi zanzando pela casa pra lá e pra cá com o senhor Armstrong, sempre com uma expressão séria. Um olhar atento a tudo, tal qual de um guarda-costas mesmo. E, de fato, não há nada que me incomode nele.

Mas falando em dormir no quarto dela, a essa altura, Becky está no banheiro enquanto eu sigo andando pelo quarto da mesma e observando as coisas. Tentando me abstrair da situação. Apenas uma noite, Freen. Apenas isso.

Retirei a parte de cima do meu terno, ficando apenas com a camisa social e uma regata por baixo. E me concentrei em o dobrar, e o posicionar sobre a cama. Depois de um tempo, cansada de ficar em pé, eu me sentei na ponta do colchão.

Será que ela vai demorar? Ainda estou entre sair correndo daqui e aparecer só amanhã ou realmente esperar.

-Ah, droga - Escutei em um murmuro, a voz de Becky baixa e abafada.

-Tudo bem?

Não ouço resposta e me aproximo mais da porta do banheiro.

-Becky?

-Urgh. Tô de boa - Ela profere do outro lado da porta e escuto o som da fechadura, me afastando abruptamente em leve desequilíbrio.

Um cheiro doce, porém exótico se espalha pelo o ambiente e vejo uma Becky de Baby Doll azul clarinho, encarando o braço com uma expressão concentrada. Ela finalmente me olha, com suas orbes castanhas.

-Você ficou vigiando até na porta do banheiro, Freen? Está realmente comprometida com seu trabalho - Ironizou, e tenho certeza que captei um sorrisinho no canto da boca.

Devo estar com cara de idiota, talvez pela pouca roupa, ou pela ousadia, ou pelos olhares que Becky vem lançando para mim desde o início do dia. Cocei a garganta de forma alta.

-Onde estão os lençóis? Eu posso me deitar em um forrado no chão mesmo - Olhei ao redor.

-Temos colchões sobrando na sala de instrumentos - Ela disse, enquanto revirava seu armário, procurando algo.

Sala de instrumentos? Agora esse pessoal rico foi longe demais.

-Sala de instrumentos...? Nunca vi uma sala de instrumentos aqui - Eu questionei, confusa.

-É por que não tem - Becky acrescentou, ainda séria. Ué.

-Está tirando uma com a minha cara, senhorita Armstrong? - Eu entrei na brincadeira.

-Senhorita? - Ela fechou a cara mais ainda, enquanto carregava uma caixinha branca até a cama.

Eu apenas ri baixinho e a segui. Notei um arranhão avermelhado no braço que ela estava averiguando desde quando saiu do banheiro.

De dentro da caixa ela tirou um algodão, uma garrafinha rosa transparente e um band-aid. Começou todo um processo no machucado, e eu apenas observava.

-Você dorme cedo?

Para de puxar assunto, mulher. Fecha essa boca, por Deus. Conhece a palavra evitar? E-V-I-T-A-R...

Pronto, agora eu mesma estou me dando um esporro mental, graças a situação em que eu topei entrar. Hilário.

-Não costumo, por mais que hoje eu esteja exausta, e provavelmente irei dormir logo - Ela disse -E você, dorme cedo?

Realmente foi um dia exaustivo, não a culpo. Todo aquele estresse em não saber o por que o pai estava com uma mulher sozinho em um restaurante e seu nervosismo iminente em função a isso.

-Definitivamente não. Se eu estivesse em casa, estaria trabalhando até umas duas horas da manhã, só pararia quando estivesse quase caindo encima do tablet.

-Trabalhando? - Becky questiona e eu tiro as pontas adesivadas do bandaid.

-Sim, eu tenho meio que um segundo emprego. Desenho por encomendas e tal, coisa do tipo - Posiciono ele sobre o arranhão já limpo.

-Sério? - Becky abre um sorriso em minha direção - Posso ver?

Decidindo não me aprofundar muito na minha vida pessoal, que se tornava cada vez mais interessante para Becky, eu me levanto e:

-Seu braço está novinho em folha. Será que tia Olga está lá embaixo ainda?

Aquela mudança repentina no semblante de Becky novamente.

-Vamos lá antes de pegar seu colchão. Vou passar no escritório do meu pai também.

Descemos a escada em passos calmos, a cozinha estava vazia, provavelmente Olga já havia adiantado tudo na cozinha e ido dormir. Becky avisou que ia conversar com o senhor Robert, e eu assenti, sentando no chão a frente do sofá. Abri um aplicativo de relacionamentos que já tinha baixado e comecei a passar o tempo nele.

Me sinto boba por seguir essa linha de raciocínio de "conhecer alguém interessante para evitar outra pessoa" mas neste caso, meu emprego também está em jogo, então deixo passar.

Mulheres, mulheres e mais mulheres. Eu passava o polegar para a esquerda e direita, observava biografias, descrições curtas e nomes repetidos e diferenciados.

Parei de prestar atenção no meu celular ao sentir um cheiro forte de cigarro, procurei com os olhos até encontrar o sujeito Jonathan.

Ele ainda estava de terno, seu uniforme de trabalho. O cabelo jogado para trás e um cigarro nos lábios, o tragando levemente na janela da cozinha dos Armstrong. Obviamente chegou ali agora.

Como a cozinha se tratava de um ambiente aberto, mesmo com a baixa iluminação na casa por conta do horário, eu o via de forma nítida dali do sofá mesmo.

-Hum, oi? - Eu disse, ainda o encarando, curiosa.

-Olá, desculpe a fumaça - Jonathan falou e notei um sorriso...estranho.

Talvez apenas impressão.

-Senhor Armstrong mencionou que você está dormindo aqui já que essa semana ele tá trabalhando de casa, você trabalha pra ele tem muito tempo?

-Quatro anos. Já que você me fez uma pergunta, posso devolver com outra? - Ele questionou e eu apenas assenti com a cabeça. Há metros de distância, começamos essa conversa - Becky, ela aprontou alguma pra você até agora? Ou a garota está se comportando dessa vez?

Franzi o cenho, não curtindo o modo que ele a mencionou. Do que ele está falando?

-Por que da pergunta?

-Ahn, ahn - Ele negou com a cabeça e olhou diretamente em meus olhos - A resposta.

-Becky nunca me fez e nem faria algo para me prejudicar - Eu disse de forma genuína, mesmo que eu não a conheça há tanto tempo assim - Mas por que essa conclusão?

-Ela foi difícil comigo, sempre tentando me sabotar - Deu mais uma tragada - Precisei tomar algumas medidas para conseguir ser respeitado.

Lembrei de Becky revirando os olhos ao ouvir a menção do nome de Jonathan. O que...

-O que você fez?

-Nada que ela não gostasse - Aquele maldito sorriso novamente. Senti meu sangue ferver com as hipóteses geradas em minha mente - Não sei se conversam com frequência ao ponto dela te contar, mas chegamos até a namorar.

Apertei levemente meu celular. Quem liga pra isso? Não preciso e muito menos quero saber dessa história.

-E depois? - Eu questiono, querendo saber dessa história.

-Depois, eu voltei a trabalhar para o senhor Armstrong e como ela andava fazendo algumas coisas que eu não concordava, acabei contando para ele. Ela tem raiva ainda, sabe? - Uma última tragada e Jonathan esfregou a ponta acesa do cigarro no cinzeiro na borda da janela - Terminei com ela na semana seguinte. Meu salário aumentou antes disso, Robert garantiu minha recompensa. Esse é o meu conselho, caso ela tente algo com você. Sei que você é nova nessa área.

Respira, mantém a conversa. Saber o que realmente aconteceu é mais importante do que socar a cara de um sujeito que usou Becky para uma promoção no trabalho. Por mais que eu...super faria.

-Eu seria muito intrometida se questionasse o que ela estava fazendo? Ando querendo auxiliar melhor ela durante o dia, mas ela anda bem fechada - Mantive o tom ameno, mentindo.

-Ela estava com a chave do quarto da mãe. Todo esse lance da mãe dela e tal - Jonathan continuou e...

-Espera, está me dizendo que dedurou a Becky para o senhor Armstrong por ela querer ver a mãe dela?! - Levantei a voz, indignada.

Como que ele tem coragem de contar isso para as pessoas? "Nossa que legal, eu dificultei a vida da minha namorada de forma drástica por que recebo dinheiro do pai dela todo mês". Se bem que foda-se esse lance de namorada, foi tudo por dinheiro mesmo.

Acho que ele não esperava por isso, ficou estático me fitando, parecia me analisar. Desviei o olhar levemente.

-Espera... - O sorriso de gato da Alice está de volta no rosto do guarda-costas.

Alguns minutos antes. Escritório de Robert. Armstrong, Rebecca.

Robert despejava Whisky em seu copo pequeno, me recebeu em seu escritório hoje com um sorriso amigável, diferente da última vez. Pensei em questionar sobre a mulher do restaurante, mas isso seria totalmente em vão, sabendo que de assuntos que ele diz serem "de privacidade dele", eu nunca consigo tirar nada na base do diálogo direto. Não em um modo funcional de "pai e filha".

Fingido.

Silêncio. Luz. Câmera e...Ação.

-Pai, me desculpa por ter insistido em ver a mãe quando você tinha tentado me alertar... - Comecei direta, mas o mesmo estendeu a mão em minha direção, pedindo de forma silenciosa para que eu ficasse em silêncio. Como se não importasse, seja lá o que eu fosse dizer.

-Não precisa se desculpar, leãozinho. Você sente falta da mamãe, eu entendo - A mesma compreensão de todos anos, mesma fala desde quando eu era criança.

Já está ficando repetido, senhor Armstrong...Se você ia me interromper, deveria ser algo ao menos novo, não?

-Preciso sim! - Eu exclamei e forcei a expressão no intuito de parecer indignada - Fui injusta com o senhor.

-Meu amor, você não tem culpa de nada - Ele se direcionou até o sofá, se sentou. Ainda com sua expressão sôfrega - Deita aqui.

Me levantei e fiz o que ele disse, deitando minha cabeça em sua perna e o resto do meu corpo no couro do sofá. Ele começou a pentear meus fios do cabelo com os dedos, olhava para frente como se estivesse legitimamente triste.

Meus olhos seguiam para todos os lados, procurando a bendita chave ou pelo menos um lugar que eu possa chutar ter arquivos importantes. Notei uma decoração nova. Um aquário relativamente grande na mesinha de café e bebidas. Anotei mentalmente.

-Mas, escute bem...

Agora sim chegamos no ponto da conversa.

-Não esqueça seu lugar dentro daqui de casa como filha, pois eu não esqueço o meu como pai. Ainda mais em minha própria casa - A fala era definitivamente uma ameaça, mas o tom calmo ainda estava presente ali.

Nada em seu discurso mudou, ainda.

Ajustei meu gravador de voz no bolso por cima do tecido assim que senti o objeto começar a me machucar devido ao peso do meu corpo encima dele.

Nada mudou em seu discurso. Mas quando mudar, eu vou estar aqui para usá-lo contra você, senhor Armstrong.

-

mai aqui !

boa tarde, queridos. trouxe mais um capítulo recém saído do forno !! <3

peço desculpas pela demora, muitas coisas mudando por aqui no pov mai, prometo tentar aumentar a frequencia

(capítulo mais ou menos revisado)

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Feb 04 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

The Bodyguard.Onde histórias criam vida. Descubra agora