Mia acordou com Hoseok cantarolando.
Ainda se mantinha perto dela, temendo que ela acordasse assustada se saísse dali. Os olhos castanhos dele se demoraram em a estudar quando ela se sentou de repente. Hesitou em fazer qualquer coisa que pudesse a alertar, mas estava preocupado demais para simplesmente ficar quieto.
— Mia — chamou, notando como ela coçava os olhos e se forçava a acordar. — Como você está?
— Cansada — A sensação era a de que não tinha conseguido dormir quando ouviu os gritos do rapaz do lado de fora em seus pesadelos. — E você?
— De coração, eu queria muito um café agora — Ela sorriu, mesmo que sentisse que não tinha motivos para o fazer.
— Infelizmente, só posso te oferecer água — Mia prendeu o cabelo da melhor maneira que conseguiu. — Que deve estar acabando. O que acha de voltar até o córrego para pegar mais antes de explorarmos?
— Acho uma boa.
Se levantou primeiro e estendeu a mão para a ajudar a se levantar, ainda estava preocupado com a atitude de esconder e minimizar o que estava sentindo, mas ela apenas aceitou a ajuda e começou a se preparar para sair.
O sol deixava o lugar inteiro claro, tirando alguns restos de lojas e casas. Os escombros formavam altas coberturas e em meio as paredes abertas conseguiam notar as sombras, quietas e imóveis, piscando os grandes olhos brancos e começando a cantar no segundo em que os viram. Mia e Hoseok trocaram um olhar, não queriam arriscar um combate com elas, mas eram tão poucas que era quase impossível de resistir. Foi mia que apontou a arma e no mesmo instante o canto daquela silhueta solitária passou a ser um grito agudo.
Nem teve tempo de atirar.
A sombra partiu em disparada na direção dos dois, sumindo e aparecendo a centímetros dela, mas Hoseok a puxou para trás antes que as garras a acertassem.
O som se dissipou, assim que a silhueta apareceu na luz do sol, sumindo como se estivesse queimando até que não restasse nada na frente deles.
Mia olhou no celular por garantia. Recebeu mais duzentos EPs e ergueu as sobrancelhas intrigada. Guardou o celular e puxou o caderno, riscando na página das sombras sem pensar duas vezes.
NÃO SOBREVIVEM NA LUZ DO SOL.
Hoseok bisbilhotou o que ela escrevia e o mostrou sem muito rodeio.
— Você desenha muito bem — Queria muito ter dito isso a ela na noite anterior, mas tinha medo que brigasse com ele por ter bisbilhotado.
Mia guardou o caderno e sorriu para ele.
— Obrigada.
O sorriso dela não durou muito. Andaram poucos passos até sentirem o cheiro ferroso e característico de sangue e foi mais que o suficiente para que entendesse que o que viu e ouvir na noite anterior não foi apenas um pesadelo.
Mais um corpo, mais uma morte.
Se aproximaram para verificar que o rapaz tinha os exatos mesmos cortes que a garota que encontraram, a mochila parecia vazia e ele tinha uma espada segurada com força entre os dedos.
— Mais um — Hoseok se abaixou ao lado dele, nem se preocupou em checar a pulsação. — Que merda.
Mia respirou fundo, se abaixando ao lado dele e evitando olhar para o rapaz estirado no chão. Abriu a mochila dele, pegando algumas barras de cereal e uma única caixa de munição, o Jung a observava sem ter muito o que dizer em um momento como aquele. Notava a respiração acelerada e os movimentos apressados, mas não ousou a interromper, não ousaria piorar o estado em que ela estava. A espada afiada foi posta na sua frente, uma espada de tamanho médio e um gume afiado como as katanas que via apenas em jogos e filmes, mas uma versão reta, menor e com o cabo cumprido.
— Vamos mesmo pegar o que era dele?
— Precisamos mais do que ele — respondeu sem olhar para o Jung.
Não queria discutir, não sabia pelo que Mia tinha passado ou o quão bem estava depois de tudo aquilo, principalmente depois do que aconteceu na noite anterior, concordou muito rapidamente com a ideia que iria manter as coisas o mais calmas possíveis e ficaria ali para dar apoio.
Pegou a espada, o fio era afiado e ela era absurdamente leve. Poderia se acostumar com aquilo, mas agora não era hora quando Mia já estava seguindo o caminho até o córrego.
— Mia, espera — Correu para a alcançar.
Ela passava por entre as árvores, evitando lugares escuros quando conseguia ouvir algumas sombras cantando o que só a deixava mais nervosa ainda. Não queria pensar, não queria continuar revivendo a morte de Anne de novo e mais uma vez, não queria se lembrar dela daquela forma, do sangue e do olhar sem vida num rosto que costumava ser alegre.
Não era para ter acontecido.
Não podia ter deixado acontecer.
Sentia culpa, sentia medo. Medo daquilo não ser um delírio e de todas aquelas mortes estarem acontecendo de fato.
Mergulhou as mãos na água gelada assim que chegou no córrego, as esfregando como se estivessem sujas, como se pudesse se livrar do sangue que parecia as manchar. O sangue de Anne e a morte que não conseguiu impedir.
Sentiu um toque em seu ombro, mas não quis olhar, sabia que era Hoseok e não queria que a visse chorando. Continuou a tentar limpar o sangue inexistente que pintava suas mãos.
— Mia... — Apertou o ombro dela e se abaixou logo ao lado. — Precisa me dizer o que está acontecendo para que eu possa te ajudar.
— Ela morreu, Hoseok — disse baixinho, tentando segurar as lágrimas que escorriam pela bochecha sem sua permissão. — Eu perdi uma amiga, não consegui ajudar, não consegui puxar ela para cima e nós caímos. Eu devia ter tentado mais, eu devia...
— Não foi culpa sua, Mia — Não precisava de muito esforço para chegar nessa conclusão. Da mesma forma que um acidente com os monstros o afastou de Yoongi e imaginava que ela precisava daquelas palavras.
Finalmente olhou para ele. O nariz ficando vermelho e os olhos grandes e castanhos brilhando com as lágrimas.
— Não pode ter controle sobre tudo, ainda mais nesse mundo onde não conhecemos nada — A moça tentou se concentrar na voz dele, apenas nele e não pensar nada. — Tenho certeza que você fez o possível e quando acordarmos desse pesadelo você vai reencontrar com ela.
— Só não quero ver mais ninguém morrer — Hoseok não respondeu quando não tinha o que dizer para ela e também não queria passar por aquilo.
— Queria poder te garantir que não irá — Ela passou as mãos molhadas no rosto e respirou fundo. —, mas eu posso garantir que vou estar aqui com você enquanto precisar de mim.
Mia soltou um risinho triste, queria muito acreditar que Hoseok seria o suficiente para afastar tudo o que a assustava, que aquele rapaz que conhecera dois dias atrás e tinha um sorriso que nunca deixava o rosto poderia a ajudar a encontrar forças para seguir em frente.
— É bom em afastar fantasmas? — Ele sorriu com aquela pergunta.
Hoseok era conhecido por ser uma pessoa que se assustava facilmente, no entanto, estava disposto a superar alguns medos para ajudá-la.
— Acho que vamos descobrir.
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N.E.O.N » » Jung Hoseok
FanfictionNova era: a ordem nociva, uma experiência RPG que promete revolucionar o mundo dos jogos. "O paranormal vem para a nossa realidade de maneira curiosa, se aproveitando de mentes quebradas para se manifestar e contaminar nosso mundo, trazendo o pior d...
