𝙵𝚘𝚛𝚎𝚜𝚝 - 𝙰𝚔𝚒𝚛𝚊 𝚈𝚊𝚖𝚊𝚘𝚔𝚊 𝟷:𝟺𝟹

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Os acordos de troca foi o principal recurso que manteve os jogadores vivos quando transações de EP não eram permitidas. Tudo era valioso o suficiente para que pudesse ser trocado por algo de igual valor.

Mia andou a passos largos até um balcão conhecido daquele espaço que deveria ter sido uma praça de alimentação antes de tudo acontecer naquele mundo, já estava a tanto tempo ali que nem mesmo ligava para as vinhas tomando tudo ou os tetos cheios de buracos que deixavam a luz do sol passar. O que era estranho ali era ter tantos agentes no mesmo lugar, já tinha se acostumado estar isolada com Hoseok como sua única companhia.

Uma moça de longos cabelos coloridos como o arco-íris sorriu ao reconhecer a dupla que se aproximava, a raiz escura aparecia conforme o cabelo crescia e as cores estavam desbotadas, tão diferentes de quando conheceram a mulher de olhos verdes e rosto redondo e delicado com as bochechas rosas e cheias se destacando na pele clara. Ela se debruçou sobre o balcão, a roupa preta era decotada apesar do casaco enorme que cobria o corpo gordo cheio de curvas, estava ansiosa esperando para saber o que trazia o par de lobos solitários até aquele lugar depois de tanto tempo sem os ver.

— Cameron! — A voz de Hoseok fez o sorriso dela aumentar, mesmo que não tirasse os olhos da mulher ao lado dele.

— Como vai? — Mia a cumprimentou em tom baixo, retirando a mochila das costas e colocando sobre o balcão por causa do peso.

— Melhor agora — Mia desviou o olhar do dela sem querer entregar que ficava envergonhada com aquilo e Cameron riu e ergueu as sobrancelhas para um Jung Hoseok que sempre se divertia com a situação porque sabia o quão envergonhada Mia ficava. — O que trouxe para mim desta vez?

Olhou para o que ela tinha em volta, procurando em meio aos eletrônicos desmontados algo que se parecesse com o que tinha conseguido, comemorou internamente ao não encontrar nada igual a bateria que tirava da mochila. Os olhos verdes brilharam assim que viu o que Mia estava disposta a trocar.

— Puta merda! — Cameron alternou o olhar entre a enorme bateria e a mulher bem à frente do balcão. — Mia, onde conseguiu uma bateria de carro nesse estado?

— Muita sorte e uma área com alto índice de energia paranormal.

— Essa aí caiu no nosso colo, literalmente — Hoseok se apoiou no balcão, mexendo nos fios coloridos que estavam embolados sem prestar muita atenção no que estava fazendo. — O chefe daquela floresta destruía cada carro que ficasse no caminho dele, o que não falta lá é peça.

— É a área recém purificada perto do lago? — Voltou a olhar para a moça de cabelo de arco-íris e assentiu. — Estão pilhado aquele lugar como loucos, infelizmente para mim nenhum eletrônico sobreviveu, não falam de outra coisa por aqui, mas o crédito tá indo todo para os ceifadores.

— Já estamos acostumados — Ele deu de ombros sem muito interesse.

— Eles ainda tentam entrar em contato com vocês?

— Se você chama tentar nos matar na primeira oportunidade de entrar em contato então sim — Mia respondeu, a voz carregada de sarcasmo. — Depois da história com o aquário eles pararam de ser amigáveis.

— Eles estavam investigando aquilo há semanas e vocês dois purificaram em três dias — Cameron arrancou uma risada de Mia ao erguer as sobrancelhas. — Eu também ficaria puta.

— É justo — A de cabelos cacheados estendeu a bateria de uma vez por todas e Cameron a pegou de bom grado. — O que sabe sobre a área do parque de diversão?

Cameron coçou o queixo ao começar a mexer nos componentes da bateria e analisar seu estado.

— O parque que fica no Sul é uma área que não está sendo tão cobiçada, é de difícil acesso e ainda não descobriram com passar dos bloqueios. Muitas criaturas pelo perímetro, muros altos. Cheguei a ouvir alguns cochichos sobre existir uma passagem subterrânea, mas não encontraram nada até então e tem muito pouco mapeado — Ela limpou a garganta antes de continuar. — Os ceifadores estão focados no cassino do centro, ouvi por aqui que eles estão perdendo muito pessoal naquele lugar, um banho de sangue e eles são muito orgulhosos para largar o osso assim.

— Caminho liberado então?

— Isso mesmo, gatinho — Foi a vez a Hoseok ficar sem graça e a moça ao lado dele disfarçou um pequeno sorriso pelo acontecimento raro. — O parque é todo de vocês.

— Valeu pela informação, Cameron.

— Sempre aqui para ajudar minha dupla favorita — Piscou para Mia com um sorriso de orelha a orelha. — Vê se não some, não é sempre que tenho com quem conversar. Esse lugar vai ficando cada dia mais vazio.

— Não gosto nem de pensar nisso — disse Hoseok na tentativa de afastar qualquer pensamento ruim que pudesse surgir em meio a seus pensamentos.

Não era hora para melancolia, não quando tudo estava indo bem. 

— Então mudando completamente de assunto — Ela deu as costas atrás do balcão, procurando por algo que os dois não tinham ideia do que pudesse ser. — Se lembram do que me pediram para fazer na última vez que estiveram aqui?

Mia ergueu uma sobrancelha, interessada quando sabia muito bem que um meio de se comunicar a distância era um sonho ainda não realizado naquele mundo onde tudo era possível.

— Puta merda — O xingamento deixou os lábios do rapaz que encarava o que Cameron colocava sobre o balcão em choque. — Você não existe, Cameron!

Ela fez um movimento como se tirasse o chapéu imaginário que usava sobre a cabeça tal qual um mágico terminando seu show e arrumou o sobretudo sobre os ombros orgulhosa do trabalho que tinha feito. Mia pegou um dos rádios em mãos, tinha um fone transparente como os que seguranças e policiais usam, aquilo quase a fez voltar no tempo, quando as coisas pareciam ser mais simples e o mundo real tinha um rumo para ela. Ligou e uma luz vermelha se acendeu na parte superior do aparelho pequeno.

— Quando estava fazendo alguns testes descobri que distância não é das melhores, dois quilômetros, mas já é alguma coisa — Deu de ombros e cruzou os braços em seguida. — Demorou um pouco, mas consegui fazer funcionar. As baterias estão novas e não foi difícil encontrar os fones compatíveis nas coisas velhas desse shopping.

— Muito obrigada mesmo — Mia disse em meio a um sorriso e colocou o fone no ouvido direito, conseguiu ouvir um pouco de estática no mesmo instante que Hoseok ligou o dele. — Não sei nem como te agradecer.

— Traga um pouco de carne na próxima vez que for caçar junto desse seu rostinho bonito que estamos quites — Negou com a cabeça em resposta, no entanto ainda sorria para a moça de cabelo colorido. — Vamos, testem!

Deixou que ele se afastasse até o outro lado do centro de troca e observou enquanto o rapaz alto e de roupas escuras caminhava sem pressa alguma com as botas fazendo barulho no piso. Hoseok sorriu travesso antes de colocar o fone e apertar o botão que fica no fio para falar.

Teste teste, tá na escuta? — A voz dele saiu um pouco chiada, mas ouvia cada palavra com clareza — Me ouve bem, mulher mais bonita que conheço?

Ouço, conquistador — Ele sorriu ao ouvir a voz dela pelo rádio. — O que você está querendo ganhar com toda essa puxação de saco?

Seu coração. Pode ser ou fica difícil? — Mesmo do outro lado daquele salão enorme conseguia ver ela segurar um sorriso e provavelmente um xingamento que era comum vir junto de comentários como aquele.

Já mandei você se foder hoje, Hoseok?

— Hoje ainda não — riu e atraiu alguns olhares dos agentes que estavam próximos. —, mas se você quiser ir comigo eu não vou reclamar.

O sorriso no rosto dele aumentou ao ouvir um suspiro pelo rádio seguido da frase mais Mia Gonzales que poderia pensar em ouvir depois de um comentário como aquele na voz calma e baixa dela.

Vai se foder, Hoseok.

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N.E.O.N » » Jung HoseokOnde histórias criam vida. Descubra agora