𝚂𝚘 𝚋𝚎𝚊𝚞𝚝𝚒𝚏𝚞𝚕 - 𝙳𝙿𝚁 𝙸𝙰𝙽 𝟹:𝟶𝟽

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Não demoraram a perceber que aquele bairro escondido por árvores altas estava cheio de sombras que cantavam lindamente como se não tivessem garras afiadas no lugar dos dedos. Também não foi difícil descobrir que elas eram uma excelente fonte de EP, bastava as atrair para a luz e viam os pontos subirem loucamente.

Com os espaços liberados os dois agentes podiam entrar sem muitos problemas e revirar em busca de qualquer coisa que fosse útil.

As casas que entraram nos dias que se seguiram eram simples e foi fácil perceber que aquele era um bairro humilde e isolado, nenhum grande centro comercial onde poderiam encontrar o restaurante da carta, muito menos algo que se destaque no meio de tantas casas destruídas. O mapa se estendia para além das árvores, mas o único indicio de construções ficava ali naquele bolinho de ruas que não passava de alguns poucos quarteirões.

- É um lugar pequeno - Hoseok comentou, bebendo um gole da água em sua garrafa. - Talvez o restaurante esteja fora da cidade.

- Tipo um de beira de estrada? - Ele assentiu e Mia procurou por algo no mapa aberto em seu celular. A estrada que parecia mais larga e talvez fosse a continuação da rodovia quebrada não ficava tão longe daquele bairro. - Faz sentido. Podemos dar uma olhada para o lado de lá antes de anoitecer.

- Tem mais alguma coisa para olharmos aqui no bairro?

Mia abriu os arquivos que tinha salvo no celular que estava em mãos quando não tinha nada de novo no mapa. Não encontraram com mais nenhum jogador ou corpo, o que era um alívio, mas não ver uma alma viva sequer significava que teriam que enfrentar o chefe sozinhos.

Tinham encontrado mais algumas informações sobre o tal Mito: A primeira era que aquele era um apelido carinhoso dado à um homem chamado Christian, nada além de uma pessoa comum que morava por aquele bairro e saía para trabalhar no centro. Esbarraram em algumas notícias sobre o desaparecimento dele muito antes da energia paranormal devastar aquela terra e o Mito nasceu quando alguns assassinatos começaram a acontecer, pessoas cochichavam pelos cantos e diziam que a sombra que ceivava vidas e vinha em noites de lua cheia. Uma figura cega de um olho e coberta de tatuagens que aparecia e desaparecia como um fantasma.

Eu só quero que isso acabe, só quero o silêncio dos meus próprios pensamentos de novo.
Não aguento mais ter tantas vozes na minha cabeça.
Eu só quero que tudo isso pare.
Só quero que acabe
Só quero que acabe
Só quero que acabe
Só quero que acabe

- Só quero que acabe - Hoseok leu o bilhete que encontraram perdido no que eles imaginavam que era um quarto de pousada, a única coisa distinguível ali era o papel de parede florido e extravagante. - Isso se repete muitas e muitas vezes.

- Acha que é do Mito?

- Talvez seja do Christian - Já tinham encontrado alguns dos cartazes espalhados pelo lugar que estavam rabiscados com aquela letra. - Antes da energia paranormal tomar ele por completo.

Mia não respondeu, sem querer pensar muito a respeito do que tinha levado um homem aquele extremo, muito menos, pensar que teriam que matá-lo para avançar no jogo e sair daquele mundo de uma vez.

- Para a rodovia então? - Perguntou e ele assentiu, já guardando suas coisas pelos bolsos.

- É onde falta - Ele já andava em direção a saída. - Juro que se não tiver um restaurante por ali, eu vou coringar.

Mia soltou um risinho com o quão expressivo o Jung conseguia ser.

- Por favor, não coringue e me deixe aqui a mercê da sanidade - disse de maneira exagerada e ele sorriu em resposta.

- Mas isso é fácil de resolver - Olhou para ela e como os cachos castanhos ficavam bonitos à luz do dia. - A gente fica doido juntinho e saí por aí cometendo loucuras.

- Parece divertido - Mia deu de ombros e seguiu em frente ouvindo a risada de Hoseok pelo comentário. Aquele era um som que facilmente a fazia sorrir e no fundo sentia que aquilo não era um bom sinal.
Não quando teriam que se separar eventualmente.

A ideia de ficar sozinha a assustava, mas o pior era reconhecer que estava se apegando àquele rapaz alegre nos dias que se passaram e que teria que se despedir dele para procurar por Jungkook.

Aí estava um nome que ia aos poucos sumindo de seus pensamentos. Com tanto acontecendo a preocupação com seu amigo ia ficando em segundo plano e se sentia culpada ao se dar conta desse fato.

Toda noite antes do sono chegar ela encarava o teto se perguntando por onde começar a procura-lo, torcendo e rezando para que ele estivesse vivo e bem em algum lugar daquela ilha.
Ele tinha que estar.

Mia e Hoseok seguiram sem muita pressa até a estrada principal, mesmo que a noite estivesse se aproximando, não era difícil conseguir abrigo com tantas construções abandonadas. Não ter nenhum sinal de luz colorida também era um alívio e ouviam algumas poucas sombras cantando solitárias no caminho até a larga pista de asfalto. O mapa da área acabava não muito longe dali em um declive que marcava o fim da parte inteira da rodovia, Mia evitou olhar para a estrada que caía para um abismo, mas com a noite chegando e as sombras cantando em alto e bom som era impossível se distrair naquele ambiente.

Os dois viram o brilho vermelho piscando conforme o ambiente escurecia. Escondido pelas árvores estava uma pequena construção que estava em uma excelente qualidade mesmo quando tudo ao redor estava destruído. O letreiro e a fachada se acendiam como um restaurante pequeno dos anos noventa e dizia "Devil's Dinner" em vermelho e verde, junto das laterais em diferentes tons de azul.

Mia e Hoseok trocaram um olhar e decidirem muito rapidamente que a melhor alternativa era entrar quando a noite se aproximava e não ficariam para ouvir mais das sombras cantando.
O lugar estava em ainda melhores condições por dentro, as luzes funcionavam, as mesas brancas com cadeiras vermelhas estavam limpas e cada uma delas tinha uma luminária do lado. Entraram estranhando o lugar bonito e vazio e ouvindo a mesma música que as sombras cantarolam vindo de uma caixa de som daquelas antigas que se poderia escolher o que estaria tocando. O chão era um xadrez preto e branco e assim que pisaram no centro daquele lugar aconchegante e bonito as luzes do teto se apagaram, deixando apenas as luzes azuis das mesas.

Mais luzes piscaram, agora vindo da cozinha que era visível através do vidro. Andaram até um pouco mais perto do lugar escuro que era iluminado em pequenos intervalos, foi quando os sprinklers da cozinha acionaram e água caía e molhava todo o lugar e em meio aquele espaço que mais parecia estar recebendo uma chuva com trovões conseguiram reconhecer a silhueta de um homem de costas, usava uma jaqueta de couro e o cabelo castanho chegava aos ombros largos. Ele se virou devagar, revelando o torço exposto e cheio de tatuagens junto do rosto bonito e com um único olho branco.

Ele sorriu e com o último piscar das lâmpadas desapareceu, deixando uma única frase na parede, as letras pintadas em vermelho.

"Vamos fazer uma viagem por um lugar escuro."

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N.E.O.N » » Jung HoseokOnde histórias criam vida. Descubra agora