CURSED KISS

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26

Eu não passo no refeitório para participar do café da manhã, não só para evitar Jake, mas também à Jessy. Ela me viu saindo da sala dele ontem a noite e desde então tenho a evitado o máximo que consigo. Esperei que ela tivesse ido dormir primeiro na noite anterior para conseguir ir até o meu quarto sem encontrar com ela. Se nos encontrarmos ela vai querer saber o que aconteceu e eu definitivamente não sei como explicar o que aconteceu naquela sala, quando nem eu mesma sei o diabos foi aquilo.

Como vou dizer para Jessy que é a segunda vez que Jake e eu nos envolvemos em um momento tão intenso? Dizer a ela que se não fossem pelas interrupções provavelmente teríamos nos arrependido amargamente? Dizer em palavras o quanto fiquei embriagada pelo homem que tenho afirmado com todas as letras que odeio?

Ainda sinto o calor de sua mão na minha bochecha. Me lembro de passar a noite tentando me livrar da situação, lavando o rosto ou esfregando, mas é como cola, ainda está aqui. Quando sua mão tocou o meu rosto foi muito mais estonteante do que quando colocou as mãos nos meus quadris durante o treino. Eu queria o afastar, impedir qualquer toque e atrito entre nossas peles, impedir esses pensamentos que me corroeriam mais tarde, mas ao mesmo tempo é como se o meu corpo vibrasse para suas mãos permanecessem ali, no meu rosto. Ainda sinto o alívio que me invadiu quando as batidas na porta nos obrigaram a encerrar por ali mesmo. Não faço a mínima ideia de como agradecer Jessy por isso e nem vou.

Encosto a cabeça na parede atrás de mim, suspirando ao encarar o teto acima. Tudo seria mais fácil se eu conseguisse controlar o que o meu lado carnal sente quando ele está perto. Seria mais fácil ainda se ainda não existissem as marcas que tanto desejei que desaparecessem com o passar dos anos, mas ainda estão aqui e eu as sinto tanto quanto desejo não sentir.

– O que está te prendendo nos pensamentos hoje, Avril? – olho para o lado quando ouço a voz de Phil a poucos centímetros.

– Que surpresa te ver aqui. – me levanto para ficar em sua altura. – Não se embebedou noite passada?

– Como beber depois do trato que você deu na minha garganta? – ele sorri sem humor, colocando a mão sobre a garganta. – Primeiro o meu pulso e agora a minha garganta. Nós precisamos conversar sobre os benefícios da nossa amizade.

– Você não está muito em posição de reclamar de algo. – digo pressionando a mão contra a parede para que a porta se abra.

Sou a primeira a passar pela abertura e Phil me segue pelo corredor, apressando o passo para ficar ao meu lado.

– O treino ontem foi tão ruim assim? – Phil me lança um olhar, mas eu não consigo o olhar de volta diante da resposta que a minha mente trabalhou.

Não, o treino não foi nada ruim. Foi movimentado e rendeu, nada com o que eu já não esteja acostumada. O problema não foi o treino, foi Jake. Não estava esperando treinar com ele além dos nossos treinos nas sextas, treinar com ele fora do previsto e de uma forma que exigiu tanto da aproximação de nossos corpos foi o que tornou o treino mais difícil do que necessário. A respiração ofegante dele durante os golpes, o calor do corpo pressionado no meu, a voz no meu ouvido, as mãos em mim e toda aquela tensão no ar. Argh, Avril, pare de pensar nesses detalhes! Eles não ajudam.

Puxo o ar, afastando os pensamentos e olho para Phil pronta para responder.

– Dizer que foi ruim seria mentir, mas luta não é a área de foco do esnobezinho. – respondo e Phil esboça um sorriso ao ouvir o apelido. – Já estou acostumada a treinar com você e consequentemente com esse seu humor horroroso.

– Eu sabia que iria sentir a minha falta, fofa. – ele passa o braço em meus ombros, me puxando pra perto.

– Não abusa. – empurro seu braço dos meus ombros, o ouvindo resmungar algumas coisas enquanto nos aproximamos da porta da sala de treinamento.

Amor entre golpes - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora