35
Meus joelhos deslizam no piso liso e meus braços movem a katana para o lado, em um movimento ágil a lâmina faz um corte pequeno no tecido do boneco. Deslizo novamente sobre os joelhos na direção contrária, movendo a katana e fazendo um corte no segundo boneco ao lado. Me levanto e viro na direção dos bonecos, vendo os vários cortes que deixei no tecido do boneco. Uso meu antebraço para secar o suor que escorria entre as minhas sobrancelhas, resultado de uma hora e meia de movimentos bruscos com a katana.
– Atrapalho? – me virei em direção a voz e encontrei Jessy parada na porta, encostada no batente e sorrindo, como sempre.
– Você nunca atrapalha. – respondo indo até a mesa para pegar uma garrafa com água. Faço uma pausa para perguntar. – O que te traz aqui, ruivinha?
– Você não apareceu para tomar café, sabendo disso vim te procurar para almoçarmos juntas, a menos que queira desmaiar de fraqueza nesse chão frio e não, não é uma opção. – Jessy pontuou sem me dar escolha. Enchi a boca com água. – Avril.
– Meu Deus, você soa como a minha mãe. – bufei fechando a garrafa e peguei a proteção da lâmina da katana, guardando a mesa. – Tudo bem. Já que não tenho escolha mesmo.
– Isso mesmo. – ela sorriu vitoriosa quando passei ao seu lado. – Você faz parecer que comer é um pesadelo, Avril.
– Meio que se torna quando se está no meio de um treino. – murmurei me arrastando ao seu lado pelo corredor.
– Você é tão dramática, Avril. – Jessy soltou um suspiro arrastado. – Sabia que pra ter energia o suficiente para lutar e treinar é necessário comer?
– Essa parte de aprendizado eu pulei. – respondi ironicamente e Jessy esbarrou no meu ombro, resmungando. – O que tem para o almoço?
– Vamos saber assim que chegarmos ao refeitório se você parar de fazer corpo mole! – ela me beliscou de leve depois de passarmos pela passagem, que se fechou atrás de nós.
Estava preste a revidar o belisco, mas fui interrompida quando o som de um choro familiar soou perto da curva do corredor, em direção as paredes de vidros. Eu reconheceria aquele choro a quilômetros de distância, passei sete anos o escutando com frequência.
– Você ouviu isso? – perguntei para Jessy mesmo tendo total certeza do que ouvi. – Acho que é o Peter.
– Pode ser qualquer outra criança, Avril. – o choro volta a ecoar a pouca distância de nós.
Não, esse é o choro do meu irmão. Ajeito a katana na mão começando a caminhar em passos largos e apressados até o som do choro, que ficava mais estridente e dramático a cada passo meu. Meu coração bombeava mais forte sempre que a distância diminuía, eu mal conseguia ouvir a minha respiração, apenas os meus batimentos cardíacos. Quando fiz a curva do corredor e cheguei até a fonte do barulho algo dentro de mim explodiu. Jenny está segurando Peter pelo braço esquerdo, gritando enquanto o meu está chorando, se inclinando para trás e pedindo que ela o solte. Jenny ignora as súplicas dele e firmou o aperto de sua mão no braço dele.
Eu não posso e nem poderia explicar o que estava sentindo, era raiva, desgosto e algum tipo de enjoou tudo ao mesmo tempo. Eu fiquei furiosa como nunca havia ficado. Ver Jenny mantendo Peter daquela forma enquanto ele lhe pedia para o deixasse foi o suficiente para que todos os meus músculos ficassem rígidos, os punhos cerrados, o peito ardendo e a garganta seca. Caminhei até ela com toda a raiva que inundava o meu corpo.
– O que você está fazendo?! – praticamente grito ao me aproximar. – Ele pediu pra você soltar! Você está o machucando, Jenny!
– Ele estava mexendo nas minhas armas. – a mulher exclamou apertando o braço de Peter e ele chorou mais ainda.
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Amor entre golpes - Duskwood
FanfictionEles quebram suas regras um pelo outro. Avril foi criada por pais fugitivos do governo. Criada pelo seu pai para ser a melhor na luta e com objetos que possuem lâmina. Avril tem instinto de sobrevivência e após ter seus pais brutalmente assassinado...