• Fernando •
Jessica deixou uma pasta em cima da minha mesa enquanto eu digitava um protocolo. Os estagiários estavam agitados, era tarde, chovia e eu contava os minutos para terminar o trabalho e finalmente ir para casa ficar com minha mulher e filho. Queria tirar os sapatos, a roupa, tomar banho e comer algo oriental no chão da sala, assistindo a qualquer besteira só para aliviar o estresse.
Maiara estava ficando sozinha com Lorenzo à noite e eu não gostava. Embora não houvesse nenhum perigo e morássemos em um bairro seguro, queria aproveitar todo tempo possível com minha família. A gravidez estava passando em um piscar de olhos. Nossos compromissos familiares giravam em uma espiral que mal conseguia controlar enquanto não me livrava do enrolo de compromissos de trabalho que nunca aliviavam. João estava ficando estressado com as testemunhas e o processo se arrastando por mais tempo que o normal.
Esperava conseguir tirar uma licença paternidade. Com Lorenzo, fiquei sozinho, minha mãe e irmã ajudaram muito, mas era a primeira vez da Maiara e não importava a experiência, os primeiros meses de um bebê sempre seriam um desafio. Nós estávamos fazendo aulas de parto, amamentação e conversando com uma enfermeira-parteira uma vez por semana, nos preparando para a chegada da nossa princesa. Montei o berço, faltavam poucas coisas no quartinho dela, alguns móveis que queria montar sozinho, mas, para isso, precisava estar em casa.
Enviei uma mensagem para Maiara sobre o jantar, ela respondeu na hora. Duas coisas empolgavam minha mulher na gravidez: comida e sexo. Ah, se eu organizasse minhas gavetas também. Seus olhos chegavam a brilhar! Nossa convivência como casal morando juntos tinha altos e baixos, em sua maior parte, eu tirava sarro de sua irritação e levava a vida como sempre: aproveitando cada minuto como se fosse o último ou iria enlouquecer. Maiara podia ser chata com coisas inimagináveis, porém, eu tinha que admitir que, normalmente, ela estava certa.
Assim que terminei o trabalho, me despedi de todos e por estar chovendo, enfrentei um longo trânsito para chegar ao restaurante que gostava de encomendar comida. Ela podia comer, contanto que houvesse um preparo responsável e sem coisas cruas, então, ali era onde mais confiava. Era badalado, portanto, fiquei na fila, ouvindo música e lendo pelo celular, adiantando alguns e-mails e enviando mensagens a ela, que não me respondia.
Provavelmente, pegou no sono. Liguei para o telefone da casa e não fui atendido. Estranhando, agarrei os pacotes e fui embora, aumentando a velocidade nas ruas que podia e estacionei na frente, estranhando ao encontrar tudo escuro. As luzes dos vizinhos estavam acesas.
Saí rápido, deixando tudo para trás e subi as escadas com o coração acelerado. A porta estava aberta, algo que Maiara jamais deixaria. Andei silenciosamente, empurrei a porta da sala de televisão e não encontrei ninguém, só alguns brinquedos e dois copos de água. Eles estavam ali. Segui adiante e parei, vendo os pés de Lorenzo debaixo da mesa. Eu me agachei.
Fernando: Filho?
Lorenzo: Papai! Mamãe mandou esconder! — Ele se jogou em mim, com os olhos cheios de lágrimas e apertou os braços com muita força.
Fernando: Onde está a mamãe?
Lorenzo: Eu não sei. O homem mau... — Seus olhos estavam arregalados.
Fernando: Vá para a sala de televisão e feche a porta. — pedi sério e ele assentiu. — Vá. Eu vou buscar a mamãe.
Andei com cuidado, não querendo assustar quem estivesse com Maiara e fazer com que ele a ferisse. Tirei o telefone do bolso com cuidado, disquei para a polícia, falei baixo sobre uma invasão, ditei meu endereço e desliguei. Olhei a sala de estar, o escritório e virando para a cozinha, peguei uma das facas, enfiando na parte de trás da minha calça.
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Por acaso: Mãe
أدب الهواةMaiara Carla Pereira sabia o que queria e quando queria. Decidida e ambiciosa, escondia dentro de si uma garotinha sonhadora, que tinha planos comuns e românticos, julgados no meio em que vivia e principalmente, no futuro que almejavam para ela. Pub...