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"Nota fiscal"
🇧🇷 ⁰⁹/⁰⁸

Sʰᵒʸᵒ

No fundo, todo mundo espera por um amor, para complementar qualquer vazio que há dentro de si, no entanto, alguns têm dificuldade de encontrar tal amor, e para preencher esse vazio, buscam satisfação em rolos sem sentimentos.

Caraca, eu tô quebrado! A madrugada passada foi uma loucura, aquela morena me quebrou, puta que pariu, nunca mais caio na ladainha de gente mais velha. A dor de cabeça tá foda também, nunca bebi tanta coisa que eu não faço a mínima ideia do que seja.

Minhas pernas queimam de tanto pedalar, o mormaço quente bate contra meu corpo, enquanto sou iluminado pelo belo pôr do sol do calçadão da praia de Ipanema.

"Nem de graça" toca no meu fone, estourado, escutar algo é a única maneira de deixar esse trajeto um pouco mais "leve".

Mesmo com o calor infernal, a praia estava lotada, não consegui nem ver os malucos que fica aplaudindo o sol na beira do mar. Vários vendedores ambulantes caminham eufóricos pela areia, e um grupo de jovens jogam vôlei parto do mar, aí como eu adoraria estar no lugar deles!

Meu celular vibra em meu bolso, solto um guidão e apanho o aparelho, dando de cara com cinco mensagens na dm, uma de cada garota diferente, me desejando boa noite, não vou responder tão cedo. Desligo o aparelho e volto para seu lugar, deixando a música rolar sem interrupções através de fone.

Continuo pedalando com raiva, ainda me pergunto porque raios eu tenho que fazer a entrega tão longe, entretanto, não posso ver só o lado ruim da coisa, devo agradecer por ter um emprego e conseguir me sustentar, isso já está de bom tamanho.

Já me distanciei da praia, algo que me aliviou, pois significa que daqui a uns dez minutos eu já chego no condomínio.

As ruas estão bem movimentadas, o normal para o horário, muitos estão saindo do trabalho, outros estão indo, as ruas do Rio às seis da tarde são uma loucura.

Como mente vazia é oficina do capeta, começo a ser atormentado pelas lembranças de todos os trabalhos e seminários que tenho que entregar. Eu jurava que pedagogia seria um curso fácil, mas cara, tô ralando igual um condenado naquela faculdade! E a única coisa que me conforta é saber que daqui a alguns anos, estarei em uma sala repleta de pedaços de gente me chamando de tio, ai, que ansiedade!

Passaram-se os sofridos dez minutos, e eu finalmente estava em frente a entrada do condomínio, me dirigindo até o porteiro enquanto empurrava a minha bicicleta e retirava o fone de ouvido.

O velho me olhou com uma carranca assustadora, espero que o coroa não seja mal-educado comigo!

— Boa noite, senhor, eu vim fazer uma entrega — digo, já apresentando a nota fiscal ao homem, que a apanhou de minhas mãos sem exitar.

Me encarou de cima a baixo com um olhar de desprezo.

— Certo, pode entrar — foi a única coisa que aquele carrancudo disse antes de abrir o portão.

Subi novamente na bicicleta, adentrando o condomínio, as casas de alto padrão eram bem iluminadas, o asfalto estava vazio, e não tinha nenhuma alma viva na rua, estranhei, já que lá no meu bairro, a essa hora, deve estar lotado de pivetes brincando na rua. Se bem que não dá nem para comparar os dois lugares né.

Ser rico deve ser massa em, imagina, morar num lugar desses? Sonho demais! Pena que isso tá meio fora da minha realidade.

Pedalando, encaro casa por casa, tentando achar o endereço descrito na notinha.

𝗚𝗮𝗿𝗼𝘁𝗼 𝗱𝗲 𝗜𝗽𝗮𝗻𝗲𝗺𝗮; 𝘒𝘢𝘨𝘦𝘩𝘪𝘯𝘢Onde histórias criam vida. Descubra agora