Follow You - Amanda e Antônio

A primeira conversa 2023

Amanda se sentou no banco que eles compartilharam mais vezes do que ela gostaria de se lembrar. Ela sentia falta de quem ela era e ao mesmo tempo sentia o perfume daqueles dias que ela compartilhou ao lado de pessoas que tanto amava.

Naquele lugar, ela teve as suas maiores alegrias e suas maiores tristezas. Naquele banco simples de praça, ela chorou e sorriu. Todos esses momentos que nos marcam e nos impactam.

Antônio estava de pé a encarando enquanto ela suspirava. Ele também tinha aquelas memórias, todas elas. E era exatamente isso que o machucava. Ele simplesmente fez tudo que podia para esquecer tudo que ele amou um dia naquele bairro. E ele acreditava que Amanda já havia esquecido a muito tempo.

- Eu sinto muito! – Amanda disse séria o encarando. – Eu devia ter estado aqui.

Antônio quis gritar. Era isso que ela queria dizer? Que SIMPLESMENTE deveria ser mais presente? Eles eram amigos, mas não era qualquer amizade, eles eram melhores amigos. E ele era apaixonado por ela desde que se lembrava por gente. Não parecia real que ela simplesmente não entendesse o quanto doeu nele quando ela simplesmente se afastou. Não eram dois dias, eram quase dez anos, não era esquecer um compromisso, era desaparecer. E se casar com o melhor amigo dele, o que foi um bônus quase cruel.

- Pelo que? – Ele disse se sentando ao lado dela e olhando para frente. Na ausência da resposta dela, ele a encarou e perguntou novamente ainda mais seco. – Pelo que exatamente você sente muito?

Amanda queria dizer tudo o que sentia. Mas ela não era assim. Ela não era como todos os seus amigos que eram italianos apaixonados e passionais. Ela era mais objetiva e mais prática. Enquanto Antônio era ótimo em expressar sentimento, Amanda os guardava profundamente.

- Por tudo, Antônio. – Ela disse sentindo que estava fracassando novamente. Como já tinha fracassado anteriormente.

Aqueles dois fracassos rondavam a cabeça de Amanda. Tudo poderia ser diferente. Mas não era e por culpa da incapacidade dela de expressar os seus sentimentos.

- Vamos lá, Amanda Alice, sobre o que você está se desculpando hoje especificamente? – Antônio olhava para a frente sem encará-la.

Amanda tinha algumas coisas para se desculpar com Antônio. Talvez até mais do que ela própria imaginasse. E ela se sentia culpada por não conseguir elaborar uma fala perfeita e eloquente como ele conseguoria a qualquer momento.

- Por não ter te dado notícias. – Amanda começou a dizer entre a voz embargada. – Por não ter vindo batizar a Sofia como madrinha dela. Sei que significava muito para você. – Nesse momento Antônio a olhou nos olhos e ela notou as lágrimas escorrerem no rosto dele. – Por não ter ligado. – Ela disse já entre os soluços. – Por não ter te visitado. Por não visitar vocês dois. Por não ter visto quantas responsabilidades você assumiu, por ter pensado apenas em mim naquele momento quando você sempre pensou em todo mundo. Só que doía ok?

Amanda parou de falar porque já estava aos prantos. Ela sempre sustentava a pose de fortaleza para quem quer que fosse. Ela era a médica de sucesso, a filantrópica. Mas, ali, ela tinha voltado para dez anos atrás.

- Você me prometeu. – Antônio disse secando as lágrimas do rosto com a manga da jaqueta. Ela sabia da promessa, ela se lembrava como se fosse hoje. – Prometeu que não me abandonaria.

Amanda queria gritar com ela. Queria dizer que jamais teria ido embora se não fosse aquela situação. E a situação também era culpa dele.

- Eu sinto muito. – Ela disse. – Eu não sabia o que fazer.

Antônio se levantou e a olhou nos olhos.

- Você não precisava fazer nada. Não precisava deixar de ir para Harvard. – Antônio disse sincero. – Eu torci por você mais que ninguém. Eu só queria notícias, eu só pedi migalhas. Eu te amava e você não me amava, então, eu fiz uma idiotice para a época. Mas eu jamais vou me arrepender de Sofia. – Amanda não conseguia conter as lágrimas que escorriam pelo seu rosto sem parar. – E nem isso você me deu.

Amanda ficou ali por horas. Ela não sabia muito bem. Foi Bruna, sua irmã caçula que tinha acabado de chegar da faculdade que tirou a irmã do sereno e a abraçou para que ela chorasse mais.