Antes sozinhos...

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Jake

Estava andando pela rua, precisava procurar algo para comer. Sou obrigado a admitir que a minha alimentação não era saudável. Compreendam, não é fácil manter uma alimentação decente enquanto tem que se manter invisível.

Olho para meu reflexo em uma vitrine. O capuz preto cobria todo o meu rosto, era por isso que sempre o usava. Tinha costume de usar moletom com capuz mesmo antes de... Antes.

Gostava da anonimidade que dava, da proteção. O saber que você podia observar tudo, mas ninguém poderia te observar. O que antes era um refúgio, hoje é minha vida.

Continuo andando. Às vezes parecia que eu era um mero fantasma caminhando por aí. Sem raízes, sem contatos. Nem lembrava a última vez que tinha usado minha voz, costumava esquecer que sequer a tinha. Apenas a usava nas interações simples, como falar com algum funcionário de estabelecimento.

O mundo me olhava, e via mais um adolescente emo amargurado com a vida. Mal sabiam eles da verdade. Não era um adolescente, e nem emo.

Já fazia tanto tempo que eu estava sozinho, vagando sem deixar rastros. Bom... não estava mais tão sozinho. Alessa me veio a mente. O que será que ela estava fazendo? O que ela costuma fazer no dia a dia? Cada vez mais, questões como essas invadem a minha mente.

Eu sabia o quão perigoso era, mas não conseguia me impedir. Alessa estava dominando todos os meus sentidos, e eu me via indefeso para resistir.

Sacudi a cabeça, isso não era o que deveria pensar. Deveria pensar na Hannah. Ela sim estava sozinha, e em perigo iminente, com certeza assustada. Precisava encontrá-la o quanto antes. Só não achei que seria tão difícil.

***

Volto para o meu covil, por falta de uma palavra melhor. Olho para a minha mesa. Sabia que, mesmo que minha saída tenha sido breve, já tinha muitas coisas para eu verificar. O avanço da Alessa, as coisas da Hannah e eles, sempre eles...

Me vejo relutante e empolgado ao mesmo tempo. Relutante porque estava cansado, tão cansado, havia dias que eu queria poder simplesmente deixar de existir. Esses dias eram bem recorrentes, mas agora, apesar de tudo que anda acontecendo, as coisas mudaram. Esses dias não eram mais tão frequentes. Eu sabia qual era o motivo, por mais que não quisesse admitir.

A empolgação era por causa dela, sempre ela. Alessa. Estava ansioso para ver seu avanço, e eu sabia que teria. Mas, mais que isso, queria falar com ela. Conversar com ela. Tinha que fazer um esforço hercúleo para me impedir de falar com ela sobre qualquer coisa que não seja o caso, um esforço para impedir que ela chegue mais fundo.

Ela disse que toca piano. Quando será que ela aprendeu? Por que piano? Gostaria de fazer essas perguntas.

Bufo uma risada, quem diria que chegaria o dia que eu estaria ansiando por conversar. Minha mãe com certeza não. Estanco quando uma chuva de memórias agridoces corre pela minha mente.

Meu celular vibra. Desativei qualquer notificação sobre os outros. Sabia que se deixasse, nunca faria uma pausa. Deixei apenas a Alessa e...

E ai, cara?
Como vai a sua garota?

Reviro os olhos. Sento na cama para responder.

Ela não é minha garota, Max

Max era meu único... amigo? Se é que dá para chamar assim. Nós nunca nos vimos e falávamos apenas em tempos espaçados. Nos conhecemos por estarmos no mesmo... ramo. Em outras palavras, Max era hacker também. Um termo chulo, se quer saber minha opinião. E por algum motivo, que me arrependo amargamente, comentei para ele sobre a Alessa. Omiti muita coisa, como sempre. Alessa me confunde demais, e acabei falando com a única pessoa disponível. Grande erro.

Considerando que você soube
exatamente a quem eu me referia.
E que é a primeira garota, ou qualquer
pessoa na verdade, que vejo você
falar
Ela é sim, sua garota.

Cada dia me arrependo mais de ter falado qualquer coisa.

Agora, me conta
O que está acontecendo entre vocês?

Quem me dera saber.

Anda cara, como está a relação?

Max, não existe nenhuma relação.
Eu nem a conheço.

Isso pode ser mudado

Não, não pode.
E você sabe o porquê.

É, eu sei...
Mas quem sabe. Vocês podem
encontrar um jeito

Não, não podemos.
Não é justo com ela.

Você não acha que é uma decisão
dela pra tomar?

De certa forma, ele estava certo. Mas errado ao mesmo tempo. Não podia ser tão egoísta. Não daria nenhuma opção. Alessa merece muito mais do que posso oferecer.

Não, vou fazer isso com ela.

😪
Você quem sabe, cara
Eu acho que deveria arriscar
Você tem um jeito meio estranho, mas
é um cara legal. E merece um pouco
de felicidade

Tomei essa decisão há muito tempo.
Agora é tarde para mudar de ideia.

Não dei a chance dele responder. Apenas bloqueei o celular. Deito de costas no colchão e suspiro. Fico assim por alguns minutos. Até que enfim, levanto. Estava na hora de voltar para a minha nova realidade.

Verifico primeiro outras... coisas, antes de ir para a Alessa. Começo a ler as últimas mensagens. Teve uma conversa com a Jessica sobre o Dan. E outra com o Richy. Não vi nada demais, apenas ele contando uma história de criança. Passei para baixo, e aí eu vi algo interessante.

Então o Richy tinha sido marcado pela tal lenda. Hmm, não tinha levado muito a sério essa história de lenda. Essas coisas eram comuns, e quase nunca relevantes. Porém, Duskwood era a cidade que coisas estranhas aconteciam. Uma lenda criando vida. Alguém dando vida a ela. Por quê?

O trio das lendas decidiu contar aos outros sobre essa pista. Não gostava de dar mais informações que o necessário, mas via que nesse caso era inevitável. Continuei lendo até ver que a Lilly começou a se exaltar. Raios, essa conversa está indo para um caminho que eu não gosto.

Eu não quero que Alessa faça parte
deste grupo mais

Não. Ela não tinha feito isso. Raiva começa a surgir. A situação com a Lilly era complicada. Mas querer expulsar Alessa? Ela não via o quão importante Alessa era? Lilly estava deixando se levar pelo medo.

Um instinto de proteção toma conta de mim. Lilly podia fazer o que quisesse, mas eu não deixaria Alessa sair do grupo. Existe algo que nenhum deles sabe ou consegue ver. Alessa não está sozinha. Começo meus preparativos.

You are the reason - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora