Distrações

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Alessa

"Mas lembre-se, o que realmente
importa é encontrar a Hannah"

   Essas palavras não paravam de rodar minha cabeça enquanto andava até a cafeteria. Eu sabia que não devia ter explodido, mas não aguentei mais. Tudo se juntou: a preocupação com a Cleo e o Dan. A frustração dele sempre me manter afastada, a urgência dele para encontrar a Hannah. A pulseira, e a possibilidade dele ser o amante da Hannah.

Hannah, Hannah, Hannah. Tudo na minha vida agora era sobre a Hannah. Raiva irracional me invade e um desejo egoísta de deixar Hannah à seu próprio destino.

    Cheguei à cafeteria, e sentei na mesa mais afastada possível. Chamei o Sam porque precisava de um amigo, mas na realidade não fazia ideia do que iria falar para ele. Não podia contar a verdade. Não queria outra parte da minha vida invadida pela Hannah.

   Sam chega cedo demais, e ainda não pensei no que diria para ele. Ele senta na minha frente.

- Ok, qual é a emergência? Em quem eu preciso bater?

- Ninguém - eu digo suspirando - só tive um dia difícil. Sabe quando tudo parece maior do que é? Provavelmente é o fato que eu não saio daquele apartamento a dias.

- Tem certeza? - Sam pergunta, nada convencido.

- Aham, certeza - tento sorrir. - Só me tire da minha vida por um tempo, me conta o que anda acontecendo na sua. É sempre mais interessante.

- Tudo bem.

   Sam desata a falar sobre como convenceu um amigo hétero dele a ir a um bar gay com ele, e ai, o fez surtar porque incentivou um cara a dar em cima dele. Eu rio enquanto ele me conta a história, sempre exagerando. A distração era boa, e era por isso que, mesmo sem acreditar no que eu falei, Sam deixou para lá e contou essa história. Carinho me invade, era por isso que eu o amava. Ele sempre sabia como me fazer rir e não me afundar na minha própria cabeça.

Quando eu já estava quase chorando de tanto rir com o Sam. Ele faz uma pausa e vai pegar um café para a gente. Meu celular vibra na bolsa, quando pego, vejo que é o Jake.

Eu... não sou bom em
me expressar.
Mas, quero que saiba, que você
não é um meio para um fim.
Talvez, no começo fosse, mas agora...
Me perdoe. Nunca quis que se
sentisse dessa forma.

   Sorrio e sinto meu coração aquecer. Eu sabia que o Jake não lidava bem com emoções. Tenho certeza que ficou todo esse tempo pensando no que dizer. E saber que ele se preocupou o suficiente para dizer isso, é o suficiente para mim... por enquanto. Tenho uma ideia quando escuto a música tocando na cafeteria, uma coisa que venho querendo perguntar.

Ei, Jake
Você gosta de música?

   Nada. Eu começo a rir sabendo que eu confundi totalmente a pobre cabecinha dele.

O quê?

Sabe música?
Aquilo que normalmente as pessoas
usam para dançar

Eu sei o que é música.

Então você gosta?

Gosto.

Qual gênero?

Rock.

Boa. Também gosto
Rock, Pop.
Amo música
Faço tudo escutando música
Até toco um pouco

Você toca?

Sim, piano
E canto bem também
Pelo menos meus amigos dizem que sim

Tenho certeza de que eles estão
certos
Isso significa que você me perdoa?

   Eu rio com o quão fofo ele é, sem sequer perceber.

Sim, eu perdoo
Podemos continuar a nossa conversa
quando eu chegar em casa

Tudo bem.
Até, Alessa.

Até, Jake

Jake está offline

   Ainda devo estar com um sorriso bobo na cara quando o Sam volta, porque assim que ele senta com as nossas bebidas na mão, ele me olha desconfiado e diz:

- O que aconteceu? Você estava com cara que queria cometer assassinatos a 3 minutos atrás. Agora parece que arco íris pode sair da sua bunda, que nem um unicórnio.

- Nojento - digo pegando meu café.

- Eu conheço essa cara! - ele diz muito animado de repente. - Ai meu deus! Está acontecendo.

- O quê? - pergunto confusa.

- Minha melhor amiga está apaixonada.

- O quê?! Não!

- Quem é o cara? Nome? Onde conheceu? Por que eu não sabia dele até agora? Vocês já transaram? 

- Meu Deus, Sammy, não. Não é ninguém.

- Então definitivamente é alguém - Sam sorri cheio de si para mim. - Normalmente você diria "Até parece, Sammy. Você sabe que eu só saio com personagens de livros." Me conta, eu preciso saber quem foi o espécime de homem que fez minha amiga exigente gostar dele.

- Me conta o que aconteceu lá com aquela funcionária que foi pega transando com o chefe na sala de impressão - Mudo de assunto, e graças aos deuses, depois de me olhar atentamente, Sam permite.

***

  Ficamos um tempo conversando. Antes de irmos embora, eu vou ao banheiro, quando volto Sam está com um sorriso estranho no rosto.

- O que você fez? Você está com sua cara de quem aprontou.

- Nada - ele ergue as mãos. - Você que sempre pensa o pior de mim. E além disso, eu não tenho uma cara de aprontar.

- Ah tem sim.

- Eu não fiz nada - ele revira os olhos. - Então vamos? Quer que eu te acompanhe até em casa?

- Não, obrigada.

Nos despedimos, e eu volto pra casa. Mas eu ainda tenho a sensação que o Sam fez alguma coisa.

You are the reason - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora