19 – Intuição
O sol nascia tímido no horizonte quando Emmy despertou. Um sorriso resplandecente iluminava seu rosto com as lembranças vividas da noite anterior, a noite de amor tão linda que teve com seu amado Dimitri. Levantou com energia renovada, foi ao banheiro e se olhou no espelho, fechou os olhos por um instante ao lembrar do beijo apaixonado que Dimitri deu em seus lábios. Foi diferente dos beijos que já havia ganhado dele, havia um desespero, diria até uma fome de amor, teve a nítida impressão que ele poderia devorá-la naquele instante, e o mais surpreendente era que ela queria desesperadamente ser devorada por ele. Lembrou-se da sua cena de ciúmes, sentiu-se ridícula e envergonhada, ela já era uma mulher, adulta. Era óbvio que ele teve outros relacionamentos, seu amado era mais velho, ela deveria entender que pela idade que ele aparentava ter, poderia sim já ter sido casado… Ao lembrar da discussão, Emmy sentiu um medo se apoderar de seu coração, o medo de perde-lo. Estava a ponto de começar a chorar pelo ocorrido, quando ouviu seu telefone tocar, pelo toque era mensagem, foi até a escrivaninha e o pegou, era Tessa.
MENSAGEM ON
- Oi
- Emmy, quer vir na minha casa hoje? Tenho uma coleção de livros que vai te deixar encantada.
- E você sabe que na outra escola eu não tinha muitos amigos, então minha mãe quer conhece-la, só para ter certeza que de fato eu fiz uma amiga dessa vez. Ela está muito ansiosa.
- Oi, Tess, adoraria ir na sua casa e conhecer sua mãe. E ver a coleção de livros, se tem algo que amo nessa vida são livros que me façam sair da realidade.
- Que bom, então eu passo aí para te pegar daqui a pouco.
- Combinado.
Emmy deixou o celular na escrivaninha e foi tomar uma banho, logo sua mais nova amiga estaria ali, estava um tanto quanto curiosa, sentia algo estranho com relação a Tessa, não era nada ruim, era mais como se elas se conhecessem há muito tempo. Era uma espécie de reconhecimento, e isso a deixava curiosa.
Em sua casa, Tessa avisou sua mãe que Emmy tinha aceitado o convite, Tess havia usado a desculpa dos livros, porque Emmy já tinha lhe contado sobre uma de suas paixões, que era conhecer novas culturas e suas histórias, então não foi difícil convence-la a vir. O real objetivo do convite, era que sua mãe queria mesmo conhecer Emmy, mas não por duvidar de sua filha , mas porque Breanna tinha uma forte intuição sobre Emmy, e quando isso acontecia, sua mãe sempre acertava o que iria acontecer em seguida.
Emmy estava no banho toda sorridente, pensando em Dimitri, pensou em ligar ou mandar uma mensagem para ele, então revirou os olhos quando lembrou que não tinha como entrar em contato com ele, aquilo teria que mudar logo, se não enlouqueceria de saudades. Terminou seu banho, trocou de roupa bem a tempo de ouvir a campainha tocar, eram Tessa e sua mãe. Emmy aproveitou a deixa e já apresentou sua mãe a ela, até mesmo para que as duas pudessem ter um vínculo de mãe para mãe.
Depois que as duas mulheres foram apresentadas, Emmy, Tessa e Breanna foram em direção ao carro, quando estava para abrir a porta, sem querer Emmy esbarrou em Breanna, algo estranho aconteceu, Emmy sentiu sua pele arrepiar e seu coração acelerar, já Breanna ficou totalmente imóvel por uns segundos e seus olhos ficaram vidrados, Tessa por sua vez, ao ver o que estava acontecendo interrompeu o contato das duas.
- Vamos, ou vocês duas vão ficar só pensando na vida? Quero ir logo, Emmy precisa ver minha coleção de livros.
- Ah, sim Tess, vamos sim.
O caminho todo as duas garotas tagarelaram sobre tudo, enquanto Breanna se mantinha quieta, ao parar o carro na entrada da casa, Emmy conseguiu ver o semblante da mulher, achou estranho, porém preferiu não comentar, afinal acabava de conhece-la, não queria ser invasiva. Breanna era mais velha e sua educação lhe dizia que não poderia sair por ai questionando pessoas mais velhas assim como fazia com suas amigas. Outra coisa que achou estranho na mãe da sua amiga, era sua aparência, ela era jovem e bonita, aparentava ter no máximo uns 30 anos, o que era bizarro, já que Tessa tinha sua idade, mas somente sua aparência era jovem, a mulher exalava uma aura antiga, então lembrou de Dimitri, Breanna era exatamente como Dimitri! Os dois tinham aparência jovem, porém dava para notar que suas almas eram antigas, será que Breanna tinha mais coisas em comum com Dimitri do que a aparência? Era impossível não se questionar, depois de conhecer Dimitri, tudo parecia ser possível, a senhora era tão peculiar quanto seu amado, mas qual seria esse segredo afinal? Sentia em seu coração uma energia muito grande e estranha.
No caminho do carro até a porta de entrada, Tessa pegou na mão de Emmy, para apressar a amiga, mas sentiu que as mãos da garota estavam frias.
- Você está bem, Emmy?
- Estou bem sim, mas me sinto como se estivesse em uma montanha russa, até senti um calafrio, um frio na barriga, um sentimento de saudades, mas não sei o porquê disso.
Breanna olhou Emmy curiosa, sabia que algo estava acontecendo e precisa descobrir o que era.
- Vamos minha jovem, entre, farei um chá para vocês, te fará bem. Pode ser que andar de carro até aqui, a tenha deixado enjoada.
As três mulheres entraram na casa.
- Enquanto faço o chá, Tess vai te levar para conhecer nossa casa.
- Obrigada senhora.
- Ah por favor, não me chame de senhora, pode me chamar de Breanna.
- Está bem, Breanna.
A mulher sorriu para as garotas, virou as costas e foi em direção a cozinha, estava perplexa, sabia que Dimitri estava envolvido com a garota, viu a marca não vista pelos humanos em seu pescoço. Sabia que ele era impaciente, mas ao vê-la soube na hora que ela havia se deitado com o vampiro, pôde perceber isso quando tocou-lhe o braço. Dimitri era irresponsável, ele havia esquecido que na situação em que se encontrava poderia facilmente engravidar a noiva destinada? Espero e desejo está enganada sobre isso, preciso falar com ele, ela era jovem demais para que ele fizesse algo assim com ela, não poderia questionar a menina qual era o nível de seu relacionamento com o vampiro, então teria que encontrá-lo, e ter uma conversa muito séria com o amigo.
Tessa pegou Emmy pela mão e foi mostrar sua casa, a residência não era muito grande, porém era muito organizada. Na sala havia dois sofás e uma estante com as mais diversas esculturas estranhas que Emmy já tinha visto, a decoração era simples mas bonita. O tapete era marrom com muitos detalhes bordados, as paredes eram de cor neutra clara. As duas continuaram, Tess então levou Emmy para conhecer os outros cômodos, quando chegou ao quarto da garota, Emmy ficou surpresa, não havia livros, somente uma cama, uma mesinha e um guarda roupa.
- Tess, cadê seus livros?
- Sabia que iria me questionar, eles estão no sótão, aqui é muito pequeno e lá eu consigo manter mais organizado. Venha, vou te mostrar.
As duas subiram por uma escada caracol apertada até um cômodo que ficava na parte de cima da casa, quando Tess abriu a porta e Emmy pôde entrar, a garota sorriu, o lugar era pequeno, porém as prateleiras abarrotadas de livros cobriam as quatro paredes, havia somente uma janela que dava para os fundos da casa, na pequena biblioteca. Tinha uma mesinha no canto e uma poltrona confortável que ficava alojada embaixo do parapeito da janela, tudo ali era muito limpo e organizado, ao contrário do que via em outras bibliotecas, ali não tinha cheiro de mofo, assim como em toda a casa. Ali também cheirava a floresta, Emmy não sabia o que era, mas a casa de Tess tinha um cheiro de plantas e ervas, mas não do jeito sufocante e estranho que irritava o olfato, não, ali cheirava a floresta na primavera, o ar limpo e fresco, Emmy sorriu abertamente para a amiga.
- Tess, estou encantada com sua biblioteca, é linda.
Foi até a amiga e lhe deu um abraço.
- Você tinha razão, estou encantada por esse lugar.
- Sabia que iria gostar.
As duas ouviram do topo da escada a mãe de Tess chamando.
- Meninas, venham! O chá está pronto!
As três se sentaram a pequena mesa que tinha na cozinha, Breanna serviu o chá. Quando Emmy tomou o conteúdo da xícara, começou a ficar melhor, aquele sentimento estranho e pesado que sentia foi sumindo aos poucos, dando lugar a uma sensação de relaxamento.
- Nossa, que delícia esse chá. Incrível, estou me sentindo muito melhor. Obrigada Breanna.
Breanna e Tessa sorriram.
- Emmy, quais serão seus próximos passos? Quero dizer, o que quer ser quando for para faculdade? Quais os seus sonhos? Quem sabe não vamos para o mesmo campus. Sei lá, ainda não sei...
- Calma, Tess. Uma pergunta de cada vez.
As duas caíram na gargalhada com a enxurrada de perguntas.
- Desculpa, eu me empolguei .
- Em??
- Achei mais fofo te chamar assim.
- Eu gostei.
- Muito bem, vejamos, não sei ainda se irei para faculdade, mas o meu sonho é ser escritora, amo escrever, imaginar histórias... Não sei ainda que estilo de livro quero escrever, so sei que quero fazer isso.
- Que legal, Em, acho incrível isso, ainda não decidi também se irei para a faculdade, e também não sei o que irei fazer, mas quero manter as pessoas que amo por perto o máximo possível, e você está incluída nesse grupo.
- Ah Tess, eu também quero te manter por perto.
As duas sorriram e continuaram o chá. Porém Breanna olhou para Emmy muito séria e perguntou.
- Então minha jovem, esse seu coração tem dono? Ou será que estou enganada?
Emmy arregalou os olhos, a pergunta de Breanna era um tanto quanto direta, deixou Emmy assustada. Breanna percebendo a reação da garota tentou amenizar.
- Calma querida, perguntei porque está muito óbvio em seus olhos que alguém está lhe fazendo feliz, o brilho que vejo só pode ser de amor, e não é qualquer amor, é o brilho do primeiro amor. Emmy confirmou balançando a cabeça.
- Estou apaixonada sim, senhora Breanna, é o meu primeiro amor com toda certeza, ele me deixa muito feliz, mas ao mesmo tempo sinto esse medo tomar conta do meu coração, sinto que posso perde-lo a qualquer momento, e isso me assusta demais. Tem horas que acho que irei morrer com esse medo, porém tem momentos que sinto que se morresse naquele instante, morreria feliz, sei lá, não sei bem o que se passa no meu coração. Isso tudo me dá realmente muito medo.
Breanna usando um poder muito antigo, foi ouvindo a garota e captando suas emoções e lembranças, torcia que ali conseguisse encontrar Dimitri.
- Minha querida, o amor dói e cura, amar dói muito sim, para falar a verdade, o amor é a morte em vida, mas é justamente isso que o faz ser tão bonito, viva intensamente esse amor, não perca nada o que ele pode lhe oferecer, assim você pode fazer ele viver para sempre e nunca morrer.
Emmy olhou para Breanna, sentia a verdade daquelas palavras, e sentiu o conforto que elas lhe traziam. Uma brisa suave e quente tocou seu rosto, aquele toque aqueceu sua pele, nesse instante percebeu como a mãe de Tessa era sábia, ela parecia aqueles anciães que o povo procurava para conselhos antigamente, era reconfortante.
- Obrigada.
Chegou então a hora de ir embora.
- Obrigada Breanna pelo chá e as palavras, foi muito gratificante.
- Não precisa agradecer, criança, sempre que quiser pode vir aqui, estamos sempre com a porta aberta para você.
- Obrigada.
- Emmy, não pode ficar mais um pouco?
- Tess, sinto muito, já está ficando tarde. Mas foi maravilho passar a tarde com vocês, adorei sua casa e sua biblioteca, sua mãe é maravilhosa, prometo voltar mais vezes. Você também tem que ir me visitar.
- Pode deixar. Também adorei sua visita Emmy, espera um pouco que vou chamar minha mãe para te levar.
- Não precisa Tess, minha casa não é longe daqui, e estou querendo caminhar um pouco sozinha processar todos esses sentimentos que estão aqui dentro, não se preocupe, vou andando para casa.
- Tem certeza? Peço para ela te levar, é bem rápido.
- Não precisa, de verdade. Mas obrigada novamente.
- Tudo bem. Vai com cuidado está bem? E qualquer coisa me ligue. Me avise quando chegar em casa
- Pode deixar. Tchau amiga.
As duas se despediram com um abraço apertado, então Emmy partiu sozinha para sua casa, a gama de sentimentos que havia sentido naquela tarde a estava sufocando, precisava se acalmar, e nada melhor que uma caminhada noturna, então seguiu seu caminho em silêncio, era tudo o que precisava naquele momento.
Já era noite quando Dimitri acordou, impossível evitar o sorriso que nascia em seus lábios ao lembrar da noite maravilhosa que havia tido com sua amada, abriu um sorriso escancarado, se sentia um jovem, nunca em sua vida tinha se sentindo daquela forma. Suspirou, sua vida tinha sido miserável esses séculos todos e só agora ele se dava conta. Emmy era muito mais que sua noiva, ela era sua salvadora. Houve um momento na noite anterior onde ela havia pegado no sono… como ela estava linda, era um anjo, em todos os sentidos! Era linda, amorosa, tinha o coração puro e o mais importante, havia salvado a sua vida da miséria total. Levantou de sua cama e tomou um banho, vestiu uma roupa elegante como sempre e estava para sair da sua casa quando sentiu sua presença. Lissa acabava de chegar em sua casa, não tinha a visto ainda, mas sentia seu cheiro, ouvia seus passos. Não acredito, praguejou baixinho. Desceu as escadas com passadas firmes, falaria com sua ex esposa e sairia para encontrar sua amada, nada nem ninguém arruinaria seu humor. Chegando aos pés da escada, Lissa estava parada no Hall de entrada. Sorriu timidamente.
- Olá, querido.
- Boa noite Lissa. Não me chame assim, você sabe que já não compartilhamos esse vínculo.
- Hum.
Lissa se aproximou, a expressão em seu rosto mudou de simpatia para ódio. Ela sentiu em Dimitri o cheiro de Emmy. Apostava todas as suas fichas que Dimitri havia levado a humana para sua casa, a casa que um dia compartilharam, a cama... Era melhor não pensar, senão temia que perderia o controle…
- Vejo que seu relacionamento com a humana vai muito bem… Sinto o cheiro dela em você e na casa. Levou ela para a cama que era nossa?
- Lissa, por favor. Não estamos mais juntos!
- Eu te dei um tempo Dimitri para colocar a cabeça no lugar, mas vejo que já fez sua escolha.
- Sim, você tem razão, eu fiz minha escolha!
Lissa reprimiu um palavrão, queria sair dali e matar a humana com suas próprias mãos, de forma lenta e dolorosa, mas não faria isso, Dimitri a odiaria, e esse não era o objetivo.
- Muito bem Dimitri, espero que aproveite bem esse momento de felicidade, você sabe como é, os humanos são tão frágeis quanto uma pétala de flor.
- O que você quer dizer com isso? Não ouse tocar em um fio de cabelo de Emmy se quer, se o fizer, esquecerei todo o nosso passado e a caçarei eu mesmo! Terei o prazer de arrancar sua cabeça ainda viva! Você sabe quem eu sou, você sabe que se eu ativar o que tem dentro de mim nem você e nem mil vampiros ganharão de mim.
- Nossa, Dim, isso é uma ameaça? Você não era assim, vejo que a humana mudou muito mais do que eu imaginava. Não precisa se preocupar querido, juro que não tocarei em nenhum fio de cabelo dela, mas você não pode esquecer que ela ainda é humana, e isso por si só já faz da vida dela curta e miserável.
- Lissa, o que você quer? O que veio fazer aqui?
- Eu senti a sua falta, mas vejo que não sou bem vinda, te desejo felicidades Dimitri, e quando essa sua pequena aventura terminar, estarei aqui te esperando. Eu amo você e sempre o amarei.
- Lissa...
- Não diga nada, por favor, já vou embora. Mas não esqueça, sempre estarei te esperando.
Dizendo isso Lissa desapareceu, deixando Dimitri nervoso, ela claramente tinha intenções, e seus instintos diziam que não eram nada boas. Tinha que ver Emmy, só quando colocasse os olhos nela poderia acalmar seu coração. Só de imaginar perder sua amada, a dor que sentia era insuportável. Abriu a porta, sentiu o ar fresco da noite em seu rosto, lembrou do rosto da sua amada e então se teletransportou para a casa de Emmy, tinha que contar para Emmy o que era, e precisava urgentemente tomar uma decisão, isso determinaria o rumo de sua vida. Quando apareceu no quarto de Emmy, ficou surpreso, a garota não estava em sua cama como de costume, tentou localizar Emmy na casa, mas ela não estava ali, onde sua amada havia ido? Seu coração gelou, e se Lissa estivesse com ela? Não, ela havia jurado não colocar a mão em Emmy. "Calma Dimitri, você vai acha-la, Lissa não faria nada, não é?" Respirou.
Sua mente dizia que ela corria perigo, porém seus instintos lhe diziam o contrário, e Dimitri aprendeu da pior forma que seus instintos sempre lhe contavam a verdade, suspirou, ela poderia não estar correndo perigo, mas estava desaparecida, pelo menos ele não sabia onde ela estava, saiu da casa de Emmy e então seguiu seu rastro, logo a acharia e então poderia respirar novamente.
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O diário de Emmy
VampireO que você faria se descobrisse que o grande amor da sua vida é um vampiro? Emmy é uma garota de Oslo Noruega, ainda na flor da sua juventude, ela não sabe, mas logo sua vida terá um destino inimaginável. Dimitri por sua vez um vampiro milenar que...