Capítulo 4

216 16 0
                                    


Alice 👑

Depois de um entra e sai danado numa porrada de beco, ele estaciona a moto, espera eu descer e desce. Sobe uma pequena escadaria que dá na frente de uma casa mais ou menos.

O tal do Taliba anda sem nem me olhar entra na sala e abre a porta devagar, botado a cabeça pra dentro antes de olhar pra mim.

Alice: Que lugar é esse? Vai demorar?

Taliba: Vai demorar o tempo que o patrão achar necessário, gatinha.

Ele entra caminhando em direção ao homem que tá de costas escorado na janela, olhando a vista, porque aqui é alto pra caramba.

X: Pensei que tinha sido claro quando disse que não queria que tirassem meu sossego hoje, Taliba.

A voz ecoa pela sala, grossa, rouca, carregada de raiva. Dou dois passinhos pra dentro, ficando o máximo que eu posso atrás de taliba, como se ele fosse me proteger.

Taliba: Ah, qual é LK, ta de tiração? Sou teu amigo antes de ser seu soldado.

LK: Isso não quer dizer que possa desrespeitar minhas ordens.

Taliba: Como quiser, patrão. - Ele fala num tom debochado, como se tivesse tirando onda com o chefe.

Taliba anda pela sala e se senta no sofá, todo jogado, enquanto eu permaneço estática no mesmo lugar.

LK: Que porra você quer? Fala logo que eu já mandei sair uma vez, se eu tiver que repetir não vou entender legal - fala ainda virado pra janela.

Taliba: Essa paty tava lá na contenção, pedindo pra cortar caminho pela favela.

O tal LK se vira saindo das sombras do canto da sala, encara o menino no sofá por segundos e olha pra mim.

Alice: puta que me pariu, a pessoa nasce uma vez, e nasce assim, vai te fuder - falo em pensamento enquanto sustento olhar marcante dele.

Confesso que eu tava puta pela demora, só queria ir pra casa, mas quando vi esse homem, não senti vontade nenhuma de ir embora. A camisa branca social, com todos os botões abertos, a sombra de uma tatuagem no peito. Aquele homem é a perdição. Dava pra entender porque ele é o chefe, o ar de superioridade aqui é palpável.

Tentei ao máximo segurar o olhar dele, mas não deu, desviei, aqueles olhos azuis penetrantes me deixavam sem graça, não é um azul normal, é profundo é escuro, quase a cor do mar de noite, lindo. 

Eu não sei como reagir sob o olhar dele, até que ele quebra o silêncio e fala.

LK: Tranquilo, desce lá pros moleque, vou trocar uma idéia com a paty.

Taliba: Jaé, qlq coisa dá um toque.

O menino sai da sala e pra completar não sei mais respirar. 

Alice: Meu nome é Alice - o cara me olha sem entender, nem eu tô entendendo.

LK: Cê tem duas opções, princesa: Vai me falar porque que cê tá machucada querendo atravessar minha favela e eu penso se deixo tu passar, ou cê vai sumir daqui pelo mesmo caminho que veio.

Alice: Não quero falar sobre isso. Eu nem te conheço. 

LK: Prazer, Lk, dono do morro. - debocha me olhando.

Alice: Certo. Eu te falo, mas você tem que me prometer que vai me deixar ir embora - ele ri ladino igual um safado psicopata.

LK: Não sou homem de promessas, mas se eu quisesse te matar, como você acha que quero, você já tava cavando sua própria cova. Você vai me falar, porque essa é a única opção pra você, princesa - ele anda devagar até chegar pertinho de mim.

Alice: Eu estava vindo da casa do meu namorado, só isso. - falo puta, com ódio já

LK: E seu olho roxo?

Alice: Sinceramente, não é da sua conta - ele ri exasperado, como se eu tivesse contando piada.

LK: Se quiser passar, vai ser do meu jeito, princesa.

Alice: Só posso ter jogado pedra na cruz. - grito internamente sei lá quantas vezes até responder.

Alice: O olho roxo, foi meu namorado. Nós brigamos, eu falei coisa que não devia, ele me bateu, saí de lá, já que ele não iria me deixar em casa, por isso, quero cortar caminho pela favela, só quero ir pra casa. Vou ficar na minha tia, pelo menos hoje - não sei quando comecei a chorar, mas enquanto falava senti o gosto amargo das lágrimas na minha boca. Enquanto ele só me encarava.

LK: Que tipo de namorado deixaria uma mulher que nem você, sair tarde da noite sozinha e pior... que tipo de mulher é você, que apanha de namorado? - eu não sei se ele estava julgando ou só confuso, a pergunta era genuína e o interesse dele também.

Em vez de responder alguma coisa, só consegui chorar. Ele tinha razão, que tipo de mulher me tornei? 

Ouço ele andar enquanto limpo o rosto, ele tira a camisa mostrando aquele corpo gostoso, põe uma arma na cintura e passa por mim.

LK: Anda. - sigo sem discutir.

Ando atrás dele ate um carro muito chique, todo preto, eu com certeza acho que é a cara do sequestro.

LK: Entra no carro. Vou te levar pra casa.

Alice: O quê? Sério? Não precisa se incomodar - fiquei confusa que falei quase gritando, talvez seja medo de ficar sozinha com ele, sei lá.

LK: Entra logo pô, se tu passar mais uma hora com essa roupa molhada, capaz de ficar doente.

Alice: Não vejo onde isso é da sua conta - eu e minha boca grande, não consegue só agradecer, Alice? - ele ri com a minha resposta e solta.

LK: Cheia de marra. Tua sorte é que eu não sou o babaca do teu namorado. - Sento no banco da frente e coloco o cinto, ele tira a arma da cintura e coloca ao lado de mais duas. Olho desconfiada até porque né, tenho cu e medo. - Qual foi? - ele pergunta me olhando.

Alice: Precisa disso tudo? - digo olhando as armas

LK: Preciso. - curto e grosso. Tá com medo de mim?

Alice: Preciso? 

LK não fala nada. Mas pela sua feição é óbvio que a resposta é sim.

Digito meu endereço no gps do carro dele, enquanto ele avalia cada movimento que eu faço. Aperto em iniciar e ele liga o carro.

As vezes eu fico me perguntando se tenho algum juízo. Literalmente acabei de dar meu endereço pra um traficante e como se só isso não fosse o bastante, tô levando ele lá.


O Dono do MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora