🐇 | Amora Golden

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"Minha mãe diz: "Quando você vai viver sua vida direito?"
Oh mamãe querida, nós não somos os afortunados
E garotas, elas querem se divertir
Oh garotas só querem se divertir"

Girls just wanna have fun —Cyndi Lauper

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Amora Golden P.O.V

Acordei me sentindo indisposta, eu sempre me sentia assim quando precisava ir para escola, bom, não é por que eu sou uma autodeclarada nerd que eu na verdade goste de ir a escola.

Um dia tudo foi diferente, não existia "Os atletas" "As líderes de torcida" ou "Os populares" em geral. Houve um momento, lá entre a 3° e a 8° série, em que todos éramos amigos, íamos a casa da árvore e eu até perdi o bv com o Jonathan Connor da 7° série B.

Mas tudo mudou quando a Camille Cristine menstruou e voltou do verão na 8° série se achando a maior gostosa, não que ela realmente não seja linda. Mas de repente, todas as meninas eram esbeltas e gostosas, e eu, bom, eu era a mesma Amora.

Depois de virar o patinho feito e não ter mais amigas, os caras também perceberam que jogar Mario Kart depois da aula não era lá grande coisa como se beijar na casa da árvore. Eu só o fiz uma vez, e me senti estranha, péssima na verdade, eu não queria, mas o Jonathan Connor queria.

Eu não consegui contar à mamãe porque estava chorando quando cheguei em casa, não pude dizer que o Jonathan Connor me pressionou contra a parede de madeira e me roubou um beijo.

Meus devaneios foram longos enquanto eu me arrumava com calma e descia até a cozinha, sorri vendo minha mãe lendo jornal e bebendo seu café.

—Bom dia! —Disse sorridente lhe dando um beijo na bochecha e me sentando ao seu lado, ela sorriu de volta e me serviu uma xícara com chocolate quente, o clima estava frio, temia que começasse a nevar e meu moletom branco e rosa com orelhinhas de coelho não fosse dar conta.

—Bom dia querida, deveria vestir outra blusa por baixo, talvez neve! —Ela parecia ter lido meus pensamentos, por isso ri enquanto pegava minha xícara —A prefeita Madeleine está se esforçando pra diminuir toda essa separação que existe entre a zona sul e a zona norte, eu gosto disso. Me lembra o Martin¹ nos anos 60 —Ela disse de uma forma animada enquanto lia o noticiário.

Após as eleições daquele ano uma nova prefeita assumiu o cargo na cidade, Madeleine Red era uma "forasteira" na política local, mas foi eleita por causa de sua grande popularidade entre a população periférica da cidade

Para nós era meio estranho, não somos ricos, mas também não estamos na periferia, somos a "zona neutra", somos só uma família classe média baixa, com uma chefe de família que trabalha dobrado para suprir nossas necessidades e uma filha nerd que se esforça o dobro nos estudos para conseguir uma bolsa, já que definitivamente minha mãe nunca conseguiria pagar uma faculdade pra mim.

—A escola parece mais assustadora agora, sabe...com mais gente e todas essas mudanças —Ela me olhou enquanto se levantava para lavar sua xícara e riu

—É como seu avô me dizia...

—Tenha medo de brancos e ricos! Eu sei bem mãe! —Eu me levantei indo a ajudar com a louça.

Não peguei almoço, o prato da cantina do primeiro dia era sempre incrível, então nem me preocupei, sem mais demoras para não me atrasar me despedi de mamãe com um abraço e recebi um beijo na testa e um desejo de boa sorte.

Obrigada mãe, eu vou precisar, por que a escola Thomas Jefferson vai tentar me quebrar.

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Enquanto estava em meu armário eu podia ver os novos rostos dos alunos, era curioso e empolgante. Como se 1955² tivesse voltado e agora os oprimidos estivessem se rebelando, não parecia nada demais para quem via de fora nos outros estados mas era grande coisa para aqueles almofadinhos ricos em seus próprios pedestais ter sua escola tomada pela "ralé".

A verdade é que Jonathan Connor e Camille Cristine eram apenas dois daqueles que se intitulavam reis daquela escola. Eu preferia a parte de trás da cortina, bem longe dos holofotes, embora não fosse possível as vezes.

Vi pelo meu espelho no armário a Madison Beer e a Charli D'amelio passarem acompanhadas de outros caras. Me correu um frio na espinha, se Jonathan Connor e Camille Cristine enchem meu saco, o que impedia de Madson e Charli também entrarem nessa?

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Minha paranóia durou todas as aulas da manhã, as quais eu sempre tentava me esquivar de qualquer um ou qualquer coisa que pudesse chamar atenção. Parecia loucura, mas o nível de bullying que é praticado por aqui, é outro.

Sai em direção aos chuveiros para me trocar após a aula de ginástica, não haviam muitas garotas na minha turma, então me sentia um pouco mais tranquila.

—Eu só não entendo porque elee tem que estar aqui na NOSSA escola!—Eu ouvi Camille Cristine espernear como uma criança que perdeu seu brinquedo favorito.
Ao adentrar um pouco mais percebi que ela estava rodeada com suas amigas, aquilo me fez suspirar, pensei em tentar passar bem rápido, para não ser notada.

E foi o que eu fiz, passei como uma bala, eu estava morrendo de fome então tomei banho bem rápido, quando fui até meu armário percebi risadinhas, meu coração palpitou e senti um frio na espinha, me perguntava o que estava pra acontecer, quando senti um balde de tinta rosa cair encima de mim.

As risadas aumentaram enquanto eu tinha minha cabeça abaixada, tentava controlar as lágrimas, não podia chorar agora.

—Achei que você adorasse rosa! —Disse Emma Vancy atirando meu moletom no chão próximo aos meus pés. Olhei meu casaco favorito jogado no chão manchado e com diversos rabiscos, os quais eu não tinha certeza se saíram

—Feliz primeiro dia de aula, bruxinha! —Camille Cristine gritou em meio a risadas enquanto eu me abaixava agarrando a toalha em meu corpo e pegava o moletom do chão.

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1—A mãe de Amora está se referindo a Martin Luther King Jr, um ativista político dos anos 55 até os 68 quando foi misteriosamente assasinado.

2—Nos anos 55 nos Estados Unidos houve diversas revoltas em razão da não segregação racial. Coisas como, banheiros para negros, ou como eram chamados "Pessoas de cor", e banheiros para não negros. A mãe de Amora faz uma comparação a segregação racial de 55 com a segregação de classes sociais presente na cidade

Afetropia - Vinnie HackerOnde histórias criam vida. Descubra agora