Capítulo 4- Interrogatório

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Angel

 -Sente-se senhorita? - Questiona-me o homem moreno a minha frente, ao contrário do Detetive Ethan, o agente Philipes não era nada agradável, seu olhar acusatório fazia com que o medo me atingisse. 

-Noviça Angel. -Respondo com cordialidade. 

-Então noviça, era muito próxima de Ana Monterrei. - Respondo que sim em um gesto com a cabeça. - Sabia do seu caso com o seminarista Pedro Rodriguez?

-Sim, senhor! - Minhas bochechas estavam coradas, baixo a cabeça impedindo que o homem visse tamanha vergonha. 

-Mesmo sabendo que era impudente você acobertou o romance? - Sinalizei novamente com a cabeça baixa. - Sua amiga foi escolhida devido ao pecado, o homem no qual procuramos é um justiceiro, devia ser você no lugar dela já que omitiu a verdade do Clérigo, ela poderia ainda estar viva se tivesse feito a coisa certa. - Olho para o homem a minha frente, a culpa transbordava dos meus olhos, novamente minha impudência havia matado uma pessoa. A três anos atrás quando Ryan morreu no trágico acidente de carro a culpa foi minha, havia me formado no colégio interno, não queria esperar até o outro dia para ir para casa por isso pedi para que me buscasse, se tivesse esperado Ryan ainda estaria vivo, agora fiz o mesmo com Ana. 

-Chega Jonathan, a menina não tem culpa. - Ethan entra na sala sem avisar, seus olhos azuis carregam um aviso ameaçador ao agente que nos deixa a sós. 

-Ele está nervoso. - Diz ele me alcançando um lenço que tirou do seu bolso, ele senta-se a minha frente com seu olhar acolhedor, não estava ali para me julgar. - A alguns anos atrás nos deparamos com o mesmo assassino, infelizmente como pode ver falhamos na missão de prende-lo. - Ele me conta vagamente, sua necessidade em me explicar a situação deixava-o ainda mais interessante. - Me diga, você sabia do caso da Ana?

-Sim! - Digo me recompondo. - A alguns meses Ana me contou que estava se encontrando com Pedro. - Respiro para que consiga terminar com a história. - Em uma das missas os dois sumiram por um longo prazo de tempo, depois retornaram um pouco bagunçados. - Ethan se ajeita na cadeira, suas costas pousando no encosto lhe dão um ar misterioso, ele cruza novamente os braços prestando total atenção e gesticula para que eu continue. - A uma semana atrás ela descobriu que estava esperando um bebe de Pedro e os dois juntos decidiram que iriam pedir afastamento do clérigo para poder casar. 

-Espera, Ana estava grávida? - Concordei. - Quando a pericia examinou o corpo dela não havia vestígios de gravides. - Olho para ele com curiosidade. - Escute Angel, você conhecia bem a menina?

-Um pouco, haviam pedido  sua estadia aqui  mas não relataram os motivos. - Expliquei.

-Você acha que ela podia estar mentindo para chantagear o namorado? - Penso um pouco sobre a questão.

-Ana contou-me certa vez que Pedro queria o término, seus avós pagaram muito caro sua educação para que seguisse vocação. Logo depois Ana me contou sobre a gravidez. - Agora algumas coisas se encaixavam.  - Acho que sim, ela poderia estar mentindo em relação a isso. 

 Ethan anota algo em um bloco no qual não consigo ler, seus olhos azuis leem atentamente as informação na ficha ao lado. Depois de um tempo ele me olha docemente e suspira, estava evidentemente estressado com tudo aquilo e cansado pela grande demanda de serviço que ainda estava por vir. 

-E você Angel, por que esta aqui? - Essa pergunta me acertou em cheio, uma onda de lembranças se apossou de mim. 

-Meu irmão... - Abaixei a cabeça para não demonstrar fraqueza. - Ele morreu em um acidente de carro a três anos atrás, seu sonho era ser padre da paróquia local. 

-Você então decidiu seguir o sonho dele? - Seu olhar tentava decifrar minha alma.

-Não. Entrei para ter rendição dos pecados cometidos. -Ninguém ali sabia do meu passado, porque então eu estava contando tão abertamente para aquele desconhecido, talvez por transparecer confiança? -Se eu não tivesse implorado para que ele estivesse comigo naquela noite, ele ainda estaria aqui.

-Todos carregamos culpa, querida. Bastava você saber quais são as suas e quais não são. - Me responde com um sorriso, suas palavras trouxeram um alivio que a muito tempo não tinha. -Talvez um dia também se aventure fora dessas paredes. - Me contive em apenas sorrir, ele apenas estava sendo simpático comigo, devia ser aquilo que todos dizem " policial bom e policial mau". - Esta liberada. -Agradeço e sigo para fora. 

 No resto do dia foquei-me em limpar o convento, esfregar as escadas e lavar as janelas, todos ali estavam com medo e angustiados pelo o que aconteçam, algumas das noviças agradeciam pela morte de Ana, diziam que era punição divina, mas se Deus é misericordioso porque faria isso com sua serva?

 A Madre e o Padre ficaram envolvidos com a investigação, mas foi somente quando a noite chegou que os agentes começaram a se retirar, o tenente agradeceu novamente a colaboração e também saiu pela enorme porta que foi trancada com todo o cuidado. O sino havia dado as sete badaladas, subi correndo para meus aposentos, banhei-me e coloquei meu hábito limpo, desci novamente até a capela aonde se encontravam todas as noviças e freiras, seria ministrada a cerimonia daquela noite em memória de quem partiu. 

 No banco de trás pude ver de relance o detetive que olhava por todos os cantos, por um instante seu olhar cruza o meu, nele me fixo por um curto prazo e volto a abaixar minha cabeça e fechar meu olhos para a oração.

-Todos aqui agem tão friamente após uma morte? - A voz que bem conhecia sussurrava em meu ouvido, olhei para o lado para ver o homem que agora sentava próximo a mim. 

-A maior parte deles acredita fielmente na penitência, cada um tem o fim merecido perante o julgamento de Deus. - Explico.

-E você, Angel? - Pergunta. 

-Bem.. - Olho para os lados me certificando que ninguém esta prestando atenção em nossa conversa. - Eu acredito que o homem nasce mau, ninguém pode o coagir a fazer tal ação. - Dou uma pausa para olhar o homem. - Ou seja, nem o Diabo e nem Deus tem poder sobre nossas ações. - Ele molha seus lábios. 

-Concordo com você, noviça. - Assim ele sorri e se ajeita no banco, sento-me ao seu lado mas nenhum de nós pronuncia uma só única palavras, poderia dizer que era um silêncio confortável. Logo após sair para tomar a eucaristia não vejo mais o detetive ocupando seu lugar, suspiro frustrada pela falta de sua companhia. O jantar estava sendo servido, todos esperavam a Madre que entra no grande salão com um convidado especial.

-Meninas e meninos, todos aqui ja tiveram a oportunidade de conhecer o detetive  Willians. - Ela da uma pausa. - Durante as investigações afim de manter sua descrição ele ficará conosco. - Aquele mesmo sorriso pecaminoso que me fazia arrepiar estava presente enquanto ele caminhava em minha direção, desvio meu olhar me concentrando no prato de sopa. 

 O jantar ocorre sem nenhum som como de costume, apenas o tilintar dos garfos em atrito com os pratos,  após a refeição sigo para a cozinha com outras noviças para a limpeza da louças, todas elas estão alvoroçadas pelo ocorrido.

-Quem você acha que será a próxima Angel. - Monique me pergunta amedrontada. 

-Acho que será ela mesma Monique, do jeito que esta se atirando para o detetive. - Luna responde com desprezo, desde o dia em que coloquei meus pés no convento ela vem me odiando sem motivo algum. - Ja que não conseguiu o padre, não é mesmo?

-Escute Luna, esta preocupada que chamei atenção do doce detetive? - Retruco. - Felizmente algumas de nós tem mais do sexo para oferecer. - A loira atira o pano de copa no chão e sai esbravejando pela cozinha, eu dou de ombros enquanto Monique gargalha. 

-Foi bem feito para ela calar a boca. - Gargalha mais uma vez até se dar por conta do que disse. -Perdoe-me senhor! - Diz fazendo o sinal da cruz o que me faz sorrir. 





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