Capítulo III - Os primórdios

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ART by Lim Chung Hee

4352 palavras

Vallos, província de Montuália

Os dias passaram relativamente rápidos e a recuperação de Filippo foi efetiva. O rapaz já estava disposto a regressar à sua rotina de antes do acidente. Apenas uma cicatriz horizontal se formava em seu abdômen como lembrança de sua sobrevivência.

Filippo olhava para Ilana com ternura enquanto a moça brincava com as crianças da aldeia, que riam e se divertiam. Ela esboçou um belo sorriso e, na leveza que seu olhar trazia, Filippo sentia paz, o acalmando internamente. O rapaz estava contente em sua decisão de pedi-la em casamento. Ilana era uma mulher doce e protetora, apesar de inicialmente esconder muito bem esse lado para o rapaz, mas com o passar do tempo, se permitiu ser vulnerável a alguém de sua confiança.

Filippo não só tinha apego com a moça, mas também com sua família, possuindo uma relação fraterna e respeitosa com Yaco e afeição por Airam.

Yaco retornou das lavouras após seu último trabalho nas colheitas. Ele carregava uma enxada nas costas e se sentia exausto após mais um dia de trabalho. Só queria poder descansar daquele dia fatídico.

Assim que avistou seu pai, Ilana deixou as crianças a sós, e marchou em direção ao seu progenitor.

— Boa tarde, pai! — Ela o cumprimentou segurando sua mão e depositando um beijo, Yaco replicou o mesmo gesto. Em Montuália, beijar o dorso da mão representava respeito, e se a outra pessoa repetisse o mesmo gesto, significava que o respeito era mútuo. — Já aqueci a água para seu banho.

— Muito obrigado, filha! — Yaco largou a enxada no chão e respirou profundamente algumas vezes, olhando o horizonte.

— Aconteceu algo, papai?

— Não. — Yaco sorriu, e a garota ficou sem entender nada. — Estamos a um passo de largar esse lugar, está preparada?

— A minha vida toda! — Ilana sentiu seu coração se aquecer, estava muito próxima da liberdade. — Filippo e eu iremos até a cidade vender a outra parte das jóias.

— Perfeito!

Como havia dito, Ilana e Filippo pegaram os cavalos e seguiram até Bolgdra. Seus corpos vibravam em alegria, após a venda daquelas jóias, eles iriam começar a construção da embarcação e abandonariam de vez Montuália, deixando para trás toda a miséria que já viveram um dia.

— Você está melhor? — A voz de Ilana se misturava com o trotar dos cavalos, os dois andando calmamente lado a lado, exceto pelo coração de Ilana, que batia descompassado, relembrando dos momentos de pavor que sentiu imaginando a perda de Filippo e de reencontrá-lo tão ferido.

— Estou me sentindo renovado. — Filippo sorriu, um sorriso que carregava cansaço. — Acredito que por ter sangue alfa nas minhas veias tenha colaborado para eu resistir por mais tempo. — Ele ergueu o queixo, com um falso ar de superioridade, tentando convencer a si mesmo de que estava tudo bem. Mas seu olhar dizia o oposto.

Ilana soltou uma risada curta, mais por nervosismo do que por qualquer outra coisa.

— Você não teve medo?

Filippo ficou em silêncio por um momento, o trotar dos cavalos era a única resposta, até que sua voz saiu baixa, carregada de um peso que Ilana não esperava.

— A dor era tanta que eu preferia a morte.

Ela virou-se para ele, alarmada, mas Filippo continuou, a voz mais dura:

Ascensão ImperialOnde histórias criam vida. Descubra agora