Capítulo VIII - Gênese

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Imagem gerada por I.A

4685 palavras

Tamar, província de Tahagul

Ilana mal conseguia se equilibrar. Parecia uma criança dando seus primeiros passos. Ela sequer imaginou que fosse necessário passar por isso. O acidente e o tempo em que ficou acamada lhe trouxe sequelas, porém, reversíveis, bastava apenas um pouco de ânimo e determinação. Era uma tarefa cansativa, mas aquele era o preço a ser pago por ter sobrevivido.

Andras era o seu apoio nessa jornada. No início ele a segurava e guiava seus passos. Depois, ele a deixou caminhar sozinha, mas lhe deu uma bengala de madeira, já que a garota não possuía o total equilíbrio. Era assim que Ilana dedicava seus dias naquela vivenda.

— Chega por hoje. — Ilana disse, sentando-se na poltrona e suspirando de alívio.

— Você desiste muito rápido. — A voz de Andras soou como um falso ar de descontentamento.

— É mais fácil quando não se tem a sensação de ter pontas de facas na sola dos pés...

— Quer que eu chame a Téça? Ela pode usar magia para aliviar a sua dor.

— Não precisa! — Ilana recusou, com firmeza. — Eu não gosto do efeito que a magia causa em mim.

A magia fascinava Ilana, era algo raro em sua vida. Aquela fonte de poder inesgotável e inabalável a excitava, mas estar diante dela, fez com que Ilana mudasse sua opinião. Ela sentia que Téça a estava privando de usar suas habilidades, e aliviar sua dor por meio de magia era uma forma de trapaça. Aquilo não era natural para ela, não que a dor fosse, mas ao menos a sensação lhe aproximava da realidade.

Apesar de tudo, ela reconhecia que estava sendo bem tratada naquela casa. Era quase como se fosse uma hóspede, e não uma prisioneira. Em poucas semanas, ela ganhou peso, deixando de ser uma garota franzina, sua pele havia ganhado mais cor. Os passeios matutinos entre ela e Andras só lhe trouxeram benefícios.

A convivência com o feiticeiro também mudou. Não era como fossem melhores amigos, mas se toleravam para uma boa convivência. Andras era tagarela, respondia todas as dúvidas que Ilana tinha sobre Tamar e toda a cultura que envolvia aquele lugar, mas nunca falava de si mesmo. Ilana era reservada, e mal se aprofundava sobre assuntos de seu passado. Eles compartilhavam algumas histórias, mas não revelavam seus segredos.

Com o passar dos dias, Téça se tornou cada vez mais ausente. Ela só aparecia ao entardecer, e logo se trancava em seu quarto. Ilana não sabia o que ela fazia o dia todo para mal ter tempo de ficar em casa. Achava curioso que Andras cuidasse dos afazeres domésticos, enquanto Téça saia por aí. Mas ela tinha que admitir que Andras cozinhava muito bem.

Inclusive, aproveitou o tempo ocioso para aprender a cozinhar. Ele lhe ensinou receitas deliciosas e típicas da região, com ingredientes que ela nunca tinha visto antes. Ela se surpreendia com a fartura daquele lugar, tão diferente da sua casa. Ilana sentia saudade de seu lar, e ansiava para poder voltar. Quem sabe, quando retornasse, ela pudesse preparar um banquete para comemorar o seu retorno.

Ilana e Andras sentiram a fome apertar, e resolveram ir até a cozinha preparar o jantar. Mais cedo eles haviam comprado um faisão, era uma carne rara e saborosa. Caso Ilana quisesse algo semelhante, teria que dedicar o seu dia à caça, e nem assim conseguiria caçar uma ave que chegasse aos pés daquela.

Andras ficou responsável por temperar e assar o faisão, enquanto Ilana cuidava de cortar os legumes para acompanhar. Eles trabalhavam em harmonia, e se sentiam cada vez mais próximos.

Ascensão ImperialOnde histórias criam vida. Descubra agora