Existe uma teoria que diz que a cada decisão que tomamos na vida abre uma nova linha no multiverso, por exemplo, se eu tenho que escolher entre pão ou bolo e minha decisão final é pão se abre uma outra linha temporal onde escolhi bolo, isso é a teoria do multiverso. O que nós leva para outra teoria, o bater de asas de uma borboleta no Japão causa um furacão nos Estados Unidos, a teoria do caos é isso, pequenos eventos tem grandes impactos no futuro.
— Não acredita em destino? —Alice me perguntou em mais uma de nossas brisas diárias.
— Óbvio que não, coisas acontecem e desacontecem a todo momento.
— Justamente por isso o destino deve existir, situações imprevistas aparecem para te levar a algo destinado.
— Está sugerindo que eventos negativos ocorrem para um bem maior? —questionei.
— Talvez.
Maria Alice era uma constante mais imprevisível com quem eu tive contato. Sabe, sou um cara de exatas, porém ela sempre foi um cálculo sem resultado.
— Maria, não era pra ser. —confortei enquanto ela chorava em meu ombro pela recusa da universidade.
— Eu não fui boa o suficiente, eu não devo ter ido bem na prova ou na entrevista. —dizia em meio a soluços.
— Você tem outras boas opções.
— Mais essa universidade era a minha primeira opção.
— Foi o destino, você terá um futuro ainda mais brilhante na sua segunda opção.
— Pau no cu do destino. —eu não consegui segurar um pequeno riso ao ouvir suas palavras.
Pequenos eventos com grandes impactos, esse pensamento me atormentava muito. Quem eu seria sem as escolhas que fiz no passado? Quem eu seria sem o eventos difíceis que passei? Quem eu seria sem ela? E se por algum acaso Maria Alice faltasse naquele dia na escola, nós encontraríamos em algum outro dia ou em alguma outra época. Acho que não, sempre fomos de classes distintas, não teríamos muito contato.
— Acha que seríamos amigos se naquele dia na escola você tivesse faltado? —perguntei.
— Sim, você não acha?
— Não, nunca tivemos contato antes daquele dia mesmo já fazendo um ano que eu estudava lá.
— Talvez nossa amizade daria errado se nós falássemos antes ou não seria tão duradoura se por algum outro motivo eu falasse com você dias depois.
— Papinho de destino de novo?
— Somos diferentes, se somos amigos até hoje é o destino que tem algo reservado para nós dois.
— Eca, não vou me casar com você. —pobre eu do passado, era tão ingênuo.
— Não nesse sentido, animal, estou falando de evolução como ser humano.
Episódios ruins em sua vida faz com que episódios bons se torne algo verdadeiramente bom. Se a vida fosse somente coisas ruins uma hora deixa de ser ruim e apenas se torna o normal, assim como somente coisas boas. Situações ruins existem para que possam existir situações boas.
— Vamos lanchar aqui? —perguntei para Alice após a sessão de cinema.
— Onde você quiser. —naquele tempo eu não entendi o olhar alegre e cheio de sentimento positivo que Maria me entregou, hoje eu sei o porquê.
Se Maria Alice não tivesse em minha vida, naquele dia eu não teria comido aquele x-tudo e nem é porque meu eu do passado não teria ido ao cinema e sim porque ainda estaria doente e preso a ideia de perfeição do corpo magro.
Não, eu continuo não acreditando em destino, mas sei que no universo que escolhi não manter amizade com Maria Alice eu vivi em uma constante rotina de normalidade com a infelicidade.
