O temporal que caía lá fora não passou nem por reza e acabamos tendo que dormir no hospital, quando amanheceu, levei Chloe para casa e coloquei ela para tomar banho e se arrumar para ir para escola. Quando retornei ao hospital, percebi que o movimento não estava nada fraco, era médicos se virando nos trinta para socorrer os acidentados, acabou de chegar um bocado de jovens aparentemente em estado gravíssimo causado por um acidente.
Estava parada na porta olhando os cirurgiões mexendo em um paciente, a cara deles não era uma das melhores.
Xx: Prepare uma sala de cirurgia agora!. Escuto o Érik dizer.
Xx: Todas as salas estão ocupadas, doutor, a doutora Ferreira ainda não terminou a cirurgia dela!.
Érik: Eu não quero saber, a doutora Ferreira está ocupando aquela sala já faz duas horas e olha que a cirurgia dela nem é tão complicada assim!. Diz agitado.........— Eu não vou perder esse paciente, doutora Moura, vai já tirar a Ferreira DAQUELA MERDA DE SALA!. Ele começa a ficar nervoso.
A área da psicologia é bem tranquila comparada a isso, a pressão que eles tem em cada caso é gigantesca, um passo em falso corre o risco de matar o paciente. Sai dali antes que eu fosse expulsa, já que não pode ficar ninguém ali além dos profissionais que estão com o caso, e aproveitei para pegar o prontuário do meu primeiro paciente do dia.
Eu: Olá, Lucas!. Digo sorrindo para o menino.......— Tudo bom?. Ele apenas confirma com a cabeça.......— Treze aninhos?, idade da minha filha!. Ele me olha........— Quer me contar o que está sentindo?, prometo que não conto para ninguém!. Pisco para ele.........— Vamos começar de novo?. Ele continua calado........— Olá, eu sou a Maiara e a partir de hoje eu vou cuidar da sua cabeça, vou te ajudar a resolver tudo que acontece aí dentro, pode ser?. Ele assente com a cabeça........— Bom, alguma coisa chateou você hoje?.
Lucas: Sim!.
Eu: Quer me contar o quê te chateou?. Ele abaixa a cabeça........— Lucas?.
Lucas: Os valentões da minha turma!. Continua de cabeça baixa.
Eu: E o que eles fizeram pra você?.
Lucas: Bullying!. Ele me encara com uma carinha de dar dó.
Lucas me contou com detalhes cada atrocidades que esses garotos fazem com ele e sério, é impressionante como a maldade está impregnada nas pessoas.
Quando o horário dele acabou, o próximo paciente entrou e assim foi até o fim do dia, nada do que ouvi hoje me impactou tanto quanto a história do Lucas, tão novinho e já com problemas. Assim que cheguei em casa fui direto para o quarto da Chloe, precisava conversar com ela sobre certas coisas.
Chloe: Que cara é essa, mãe?, seu dia foi ruim?. Ela estava penteando o cabelo sentada em frente a penteadeira.
Eu: Feia, responde uma coisa pra mim e por favor, não minta!. Pego o pente da mão dela e começo a pentear o cabelo dela........— Alguém já fez ou faz bullying com você?.
Chloe: Por que está perguntando isso agora, mãe?.
Eu: Porque eu tenho que saber, muitas das vezes os filhos sofrem bullying na escola e não contam para os seu pais, e os pais também não percebem ou simplesmente não perguntam. É super necessário tanto o pai quanto a mãe buscar saber o que acontece com os seus filhos, por isso estou perguntando e espero que você não me esconda nada, sabe que pode me dizer qualquer coisa!. Escuto ela suspirar e logo em seguida se levantar.
Chloe: Tem umas meninas na escola que ficam zombando de mim!. Diz tristinha........— Elas me chamam de órfã, ficam fazendo piadas sobre os meus pais!. Coloco o pente na penteadeira e me sento na cama com ela no meu colo.........— Elas me cercam no banheiro todos os dias e fazem chacotas de mim e da Marcela!.
Eu: Por que você nunca nos disse nada, meu amor?. Meus olhos estavam marejados.
Chloe: Você e o papai já tem problemas demais, não gosto de ficar incomodando com os meus. Já cuidam de mim como filha, não são obrigados a me proteger de tudo!.
Eu: Chloe, presta atenção. Seus problemas são os nossos problemas, tá me entendendo?, e sim, somos obrigados a te proteger de tudo sim porquê você é a nossa filha. Você não nasceu de mim mas eu te criei, então sim, você é a minha filha!.
Chloe: Você nunca me disse como os meus pais morreram!. Sinto o meu coração acelerar.
Eu: Isso importa pra você?. Ela assente.
Chloe: Preciso saber, eu não sei praticamente nada!.
Eu: Eu vou contar tudo que você precisa saber, mas não hoje, não agora!. Percebo a confusão no olhar dela.........— Amanhã você não vai para escola, eu vou deixar você com a Marília, preciso resolver essa questão do bullying que você e seus amigos sofrem!.
Chloe: Não precisa resolver nada, não posso faltar aula amanhã!. Ergo a sobrancelha........— Por favor, tia Maiara, deixa isso quieto que eu resolvo sozinha!.
Eu: Tia Maiara?. Pergunto num tom de voz triste.
Chloe: Mãe!. Ela abaixa a cabeça........— Preciso aprender a enfrentar os meus problemas sozinha!.
Eu: Só tem treze anos, não tem que aprender por agora!. Ela nega com a cabeça.
Chloe: Prometo que se o bullying continuar, eu peço a sua ajuda para resolver. Mas por favor, não mexe nisso não!. Ela tinha uma carinha de choro.
Eu: Tá bem!. Puxo ela para um abraço.........— Por favor não me esconda nada, pode confiar em mim para tudo nessa vida!. Ela assente.
***
Depois dessa conversa que claramente me deixou um pouco abalada, vou até o meu quarto, precisava pensar no que iria fazer. Chloe sempre me chama de "tia Maiara" quando se sente encurralada ou algo do tipo, nunca falei nada mas esse pequeno detalhe mexe comigo de uma tal forma, sei lá, tenho a sensação de que ela só me enxerga como mãe quando tá feliz e já nos momentos difíceis eu sou só a tia.Sinto os meus olhos lacrimejar, mas logo trato de mandar as lágrimas para bem longe e entro no meu closet a procura de uma roupa para sair, assim que escolho, pego o meu celular e mando uma mensagem para o Érik que me responde em frações de segundos.
Mensagem on...
Eu: Tá por onde?.
Bittencourt: Oi, meu cheiro. Tô no hospital ainda, aconteceu alguma coisa?.
Eu: Não, quero dizer, aconteceu e não aconteceu!.
Bittencourt: Explica!.
Eu: Que horas você vai sair daí?, pode me encontrar?, preciso conversar!.
Bittencourt: Se quiser eu posso sair agora mesmo, vou pra casa tomar um banho e já já passo aí!. Pergunto se ele não está ocupado.........— Pra você?, nunca. Se está precisando de mim, eu largo tudo para ir te ajudar!.
Eu: Está tentando me conquistar, senhor Bittencourt?. Sinto um sorriso inesperado nascer nos meus lábios.
Bittencourt: Se me permitir, não custa nada tentar😉
Eu: Besta ksksks. Enfim, vou me arrumar para te esperar, beijinhos!.
Bittencourt: Beijos, meu cheiro!.
Mensagem off...
Sigo para o banheiro com aquele sorrisinho bobo no rosto, é assim que começa a se ferrar.
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Se Tudo Fosse Fácil: Spin off
Hayran KurguAqui vamos falar um pouco da vida desse futuro casal, e acompanhar de perto os altos e baixos de duas pessoas tão parecidas.