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Eu abri olhos, mas pera aí?, eu não deveria abri-los tinha me jogado de quase 25 metros segundos atrás. Estava sentado em uma cadeira bastante confortável, e meu corpo estava sem marcas e sem nenhuma dor.
A sala era aquecida por uma lareira e as paredes eram escuras, parecendo as de um castelo. Na minha frente uma mesa e outra cadeira um pouco maior estava desocupada.

-Deus?, Diabo?- falei na minha alta ingenuidade. Me desculpe mas eu não esperava acordar depois de morrer, sempre fui um rapaz muito cético quanto a religião e crença.
Não obtive resposta e resolvi me levantar, caminhei até a mesa a minha frente e olhei para uma das muitas folhas espalhadas sobre. Era uma espécie de ficha com meu rosto estampado, havia uma grande marca de carimbo e formando um círculo as seguintes palavras "criação rebelde".
Não tive tempo de pensar muito sobre aquilo pois a porta as minhas costas foi aberta e me virei com um susto.

-sente-se Thomas- disse a mulher.
-tá bom- sussurrei e obedeci sem exitar. Ela era mais alta que eu, estava usando roupas negras e o cabelo preso em um rabo de cavalo. Nunca irei esquecer de como sua pele pálida parecia brilhar em contraste ao seu olhar castanho acizentado.
-sabe porque está aqui?- ela indagou e depois sorriu. -óbvio que não, desculpe a idiotice mas o dia hoje foi bem puxado- ela sorriu pra mim.
-acho que estou finalmente louco, enlouqueci de vez- confessei sem esperar uma resposta. -esse é o inferno?, ou purgatório?- fiz uma careta ao perceber que talvez os cristãos sempre tiveram razão.
-quase isso, mas vamos com calma- ela já estava sentada quando puxou minha ficha e mordeu o lábio intrigada.
-posso saber seu nome?, ou oque você é?- tentei quebrar o silêncio, minhas mãos estavam molhadas de suor e minha perna não parava de balançar.
-Agatha, sou um demônio- ela nem olhou para mim, parecia mas interessada em algo na minha ficha.
-demônio- sussurrei enquanto a temperatura parecia baixar rapidamente, pensei que desmaiaria ali mesmo, teria como morrer uma segunda vez ?.
-sou responsável por pessoas como você Thomas- disse ela voltando a me olhar e ainda com sorriso no rosto.
-como eu você diz pecadores?- perguntei tentando manter meu olhar com o dela, oque era uma tarefa difícil.
-não, todos nós somos pecadores- Agatha debochou e parecia falar uma coisa bem óbvia.
-eu não entendo- balancei minha cabeça.
-suicidas Thomas, pessoas suicidas- ela balançou os ombros e se rocostou na cadeira. -o céu e o inferno não são apenas dois lugares, não é tão simples assim. Existem vários departamentos responsáveis por assuntos específicos e eu sou responsável pelos suicidas, existem dos assassinos, idolatras, ladrões, invejosos, e todos os outros pecados que você imaginar, a lista é enorme- Agatha passou a mão pela própria gravata. Parecia que eu não era seu primeiro cliente ou paciente.
-então é uma espécie reabilitação pós morte ?, de que isso vai adiantar?, eu já estou morto- perguntei.
-Deus escreve certo por linhas tortas amigo, e aí de mim questionar algum dos chefes- Agatha voltou atenção pra mim.
-Chefes ?- perguntei e minha cabeça começava a latejar.
-Lúcifer comanda os outros cinquenta por cento do lote, e cá entre nós ele é bem mais descolado- ela sorriu e se levantou. Eu apenas a acompanhei com os olhos, percebi que fisicamente ela deveria ter a mesma idade que eu, talvez até um ano mais nova.
-como faço pra ir pro céu ou pro inferno ?- minha perna havia parado de balançar e comecei a aceitar em partes toda a aquela loucura.
-tenho três desafios pra você- Agatha caminhou até um arquivo grande e abriu a primeira gaveta de cima.
-desafios, tipo uma gincana?- a perna voltou a balançar.
-você não consegue esperar em?- ela sorriu pra mim enquanto trazia uma pequena pilha, eram três caixas feitas de madeira.-aqui está tudo que você precisa- Agatha me entregou as caixas e voltou a sentar no outro lado da mesa. Cada uma das caixas continham um número gravado na frente.
-eu posso abrir todas agora?- perguntei e dessa vez não olhei para ela, estava passando minha mão pela tampa da caixa com número "1" sentindo a sua textura.
-não, você vai ter o tempo necessário para cada uma. Em resumo, cada conteúdo é destinado a uma pessoa que sofre dos mesmos sintomas que você antes de tirar a própria vida. Salve as três e você será bem recompensado Thomas, pode conseguir um puta apartamento no céu, ou, se preferir o verão, temos uma com piscina no inferno- Agatha balançou os ombros e bocejou.
-e como eu vou salvá-las, eu tenho alguma arma pra receber, ou algum poder sobrenatural?- perguntei um pouco entusiasmado, e confesso que tinha ficado ansioso. Quando estava em vida eu era um bom consumidor da literatura de fantasia.
-sim- respondeu Agatha, e no instante seguinte não havia nenhuma Agatha ali na minha frente e sim um gato negro. Quase cai da cadeira e precisei engolir um grito.
-eu vou me transformar em um gato?- sussurrei. E no mesmo momento o gato desapareceu e um homem careca agora estava sentado na mesa com as pernas cruzadas.
-metamorfose- respondeu o careca.
-que loucura, eu preciso vomitar- desviei o olhar do homem e esfreguei minha testa.
-não na minha sala bonitão- Agatha havia voltado e colocou a mão no meu ombro. -vou levar você até seu quarto, acho que por hoje é só, e não se preocupe eu vou te ajudar a se adaptar, todo mundo estranha no começo, depois passa- ela tinha novamente o sorriso no rosto, na época eu não notava, mas aquele gesto me passava uma grande tranquilidade.
-Agatha, eu tenho uma última pergunta- falei olhando nos olhos dela.
-pode falar- Agatha retirou o mão do meu ombro sentou encostou na mesa.
-alguém conseguiu comprir os três desafios?- perguntei.
-acho melhor irmos, você tem um longo dia amanhã Thomas, suas perguntas serão respondidas em breve- Agatha já não tinha o sorriso e se adiantou rapidamente até a porta. Eu não tinha gostado daquela resposta.

Expulsos do Paraíso - Sangue e RebeliãoOnde histórias criam vida. Descubra agora