1.5

14 10 35
                                    

acha que ele vai lembrar de alguma coisa?...
-essa é nossa menor preocupação no momento, só por estar vivo e a pedra intacta, já é um alívio...
-eu não sei como ele conseguiu invadir o castelo, eu conjurei a magia de segurança, feitiço de ocultação...
-o inimigo é poderoso Agatha...
-eu sei, mas eles não enviariam um simples ladrão, essa pessoa tinha que possuir um forte nível de poder e conhecimento...
-eles pensaram que o colar estiver sobre sua posse, ou escondido em um cofre...e não pendurado no pescoço de um humano...
-você tem razão tio...
-precisamos fazer uma nova reunião, avançar nosso acampamento, não vai demorar para sermos descobertos...
-assim que a equipe do reconhecimento voltar...
-Agatha...
-oque foi tio ?...
-você confia nele ?...
-Thomas?...
-sim...
-eu acabei inventando uma história meio mirabolante, ele não nem sequer duvidou...então eu acho que vai ser difícil, a ingenuidade dele pode ser uma faca de dois gumes...
-entendo...
-só o tempo dirá...
-eu confio em você, somos o mesmo sangue, família, tenho certeza que fez um bom julgamento...
-obrigado tio...

A claridade não era tão forte dentro da tenda, mas meus olhos relutaram um pouco para abrir. Meu corpo estava dolorido, principalmente minhas costas. Tinha leve suspeita que a explosão tenha me jogado contra a parede, mas agora eu não estava no castelo. Enquanto minha visão era adaptada ao novo ambiente, escutei a conversa que acontecia próximo, e a voz de Agatha era facilmente reconhecida.
Eu estava deitado em uma mesa, que no momento se tornara minha maca improvisada. Minhas vestes tinham sido trocadas, estava apenas com uma camisa de pano branca e sem botões, e uma calça larga cor de vinho.

-Veja quem acordou- disse Agatha sorrindo.
-o que será preciso fazer pra uma pessoa conseguir morrer nesse lugar?- murmurei. E até a voz masculina que eu escutei mais cedo gargalhou.
-a morte é nossa aliada- respondeu Agatha e agora eu conseguia vê-la. Estava com os mesmos trajes negros de sempre, porém seu cabelo estava solto, e, sua aparência quase me fez esquecer tudo oque ela tinha feito, ou em partes sido responsável.
-você mentiu pra mim- confessei com raiva.
-eu sei- ela sussurrou.
-eu sei ?- quase gritei, porém minha garganta, igualmente a todo meu corpo estava doendo.
-simples assim- ela sorriu e pegou minha mão.
-oque você está fazendo?- falei tentando me mexer, algo em vão.
-eu precisava saber se você não estava enfeitiçado, se não era um traidor, ou uma bomba ambulante- explicou Agatha.
-era só ter perguntando, ou ter feito aquele lance de ler minha mente- sugeri oque pra mim parecia o óbvio.
-a mente humana é mais lenta do que você imagina, você precisava se adaptar a este lugar. Antes de você, muitos sucumbiram a loucura, não aguentaram por tanto tempo...você foi o ponto fora da curva Thomas- ela sorriu pra mim, sem nenhum sarcasmo, apenas um sorriso sincero. Aceitei aquilo como um pedido de desculpas, humanos são muitos sensíveis e eu era prova viva, ou prova morta disso. Minha raiva havia sumido.
-preciso entender tudo oque está acontecendo, sem mais mentiras- era esse meu veredito.
-tudo oque quiser saber- ela respondeu e soltou minha mão.
-certo- suspirei -por que eu não morri na explosão?- olhei fixamente pra ela.
-o colar causou a explosão, e mesmo colar te protegeu dela- explicou Agatha.
-por que você não usou ele?, não seria mais inteligente?- perguntei e franzi cenho.
-a Pedra do Éden e extramente perigosa para anjos e demônios, o excesso de poder corrompe o homem e pode levar a ruína tudo oque é bom. Você é um humano, e um suicida- ela balançou os ombros e continuou -sem nenhuma ambição e nada de poder mágico, a pedra fica anulada em você- Agatha colocou uma mecha de cabelo atrás da própria orelha.
-então agora eu sou o portador?- perguntei já sabendo da resposta.
-sim Thomas, e quando se detém a pedra, qualquer pessoa que tentar tirá-la de você, vai ter o mesmo destino do cara que atacou você- minha cabeça latejou e Agatha percebeu que as informações já tinha atingido o limite diário.
-isso é loucura- foi só oque consegui dizer.
-você irá descansar agora, depois terei o prazer de responder suas outras dúvidas, chega de loucura por hoje- ela falou calmamente. Eu não queria concordar, porém para evitar o colapso mental, apenas assenti.
-ok- murmurei.
-antes de você ir eu preciso te apresentar alguém- Agatha fez um sinal na direção oposta a minha, para que alguém se aproximasse.
-será um prazer- debochei cansado.
-ele quem está nos liderando, e confiamos em sua enorme sabedoria. Milhões de guerras foram travadas e graças a sua força e resistência estamos próximos de conseguir oque nos foi tomado- Agatha estava com os olhos brilhando e um sorriso, o maior que eu tinha visto até então.
Do meu lado esquerdo um homem surgiu, fisicamente falando parecia ter quase quarenta anos, era alto e robusto. Na lateral esquerda de sua cabeça, várias cicatrizes, mal nascia cabelo ali. Um tapa olho feito de pano se destacava em seu rosto. E o sorriso era bem parecido com de Agatha, logo descobriria o motivo.

-esse é meu tio- Anunciou Agatha.
-você deve ser o Thomas- disse o homem e sua voz era fria e áspera. Ele estendeu a mão em minha direção e eu apertei sem demora, está me sentindo muito desconfortável naquela posição.
-o próprio- respondi com um sorriso nervoso.
-é um prazer conhecê-lo- disse o homem com certa gentileza.
-digo mesmo- falei ainda mais nervoso. Ele soltou minha mão e o olho bom dele me estudava atentamente.
-qual dúvida Thomas?- perguntou o homem, e notei que pelo menos as duas sobrancelhas estavam intactas e se levantaram.
-o nome- falei.
-nome?- disse confuso.
-é, você não me falou seu nome- sorri sem querer soar minha fala óbvia.
-pensei que na terra eu fosse bastante conhecido, parece que minha fama está se esvaindo- gargalhou o homem e Agatha o acompanhou.
-eu era um jovem meio desligado de religião, desculpe a ignorância- falei sem querer falar, desejei ficar sozinho o quanto antes.
-é compreensivo- disse o homem e seu sorriso sumiu -sou conhecido por muitos nomes, e a maioria deles referem a coisas ruins, mas com as pessoas que acreditam em mim eu tenho apenas um nome- ele se aproximou, ou pelo menos foi minha cabeça achou. Senti meu corpo estremecer a temperatura baixou drasticamente. Esse nome ficaria gravado na minha mente por um longo tempo.

-me chame de Lúcifer-.

Expulsos do Paraíso - Sangue e RebeliãoOnde histórias criam vida. Descubra agora