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A segunda carta estava logo abaixo na mesma gaveta, a essa altura meu estômago já revirava comecei a suar frio. O castelo continuava em silêncio, apenas o som de estalos que vinham da lareira, enquanto minha cabeça fervilhava em pensamentos, estava ansioso e com medo. O selo da segunda carta também se encontrava quebrado, porém tinha uma aparência recente.

"segue o relato da última missão de reconhecimento.

É difícil entrar, a anjos em todos os lugares, eles suspeitam da nossa movimentação e já se encontram em vigília.
Os líderes maiores passam o dia trancados no conselho, Miguel é quem lidera toda a ação. Ouvi dizer que ele anda inquieto e que o Pai não é visto a quase cinco anos..."

Pai?, talvez o remetente estivesse se referindo ao próprio Deus. Foi oque eu pensei naquele momento e, engoli a seco voltando a ler, minha cabeça parecia lenta demais para aquelas informações.

"...A certa relutância com o resto do conselho, acham que nós rebeldes não temos força necessária para agir. O único apoiando no momento é Raphael, que não passa de um lambe botas. Temos tempo, ainda não sei quanto, não vai demorar até os outros cederem..."

Nesse momento eu escutei um barulho, pareceu um ranger de madeira, como se alguém tivesse pisado mais forte que o necessário. Meu coração, que já estava acelerado, pareceu bater contra minha caixa torácica com mais força, eu conseguia ouvir meus próprios batimentos. Olhei em volta rapidamente e esperei que o som repetisse, não aconteceu.

"Miguel decidiu oferecer recompensa para pessoas do nosso lado, então precisamos ficar atento para potenciais traidores. REPITO!, usem o mínimo de magia possível, eles conseguem rastrear com um longo alcance.
Tivemos três baixas antes de sairmos das redondezas, outros cinco estão feridos, receio que em uma semana estaremos chegando ao acampamento oeste."

Não havia nenhuma assinatura, data ou qualquer outra informação precisa. Coloquei as duas folhas na gaveta, tentando deixar iguais como encontrei. Esperaria Agatha, e quando a visse iria colocá-la contra a parede e pedir um bom esclarecimento sobre oque estava acontecendo. Na verdade eu não estava nem um pouco interessado com essa tal "rinha de anjo e demônio", só precisava saber o meu papel em tudo isso. E quando soubesse, iria simplesmente dizer não, agradeceria gentilmente, e depois o não.
Em meio toda minha confusão mental do momento, eu não percebi que havia deixado de estar sozinho naquela sala. Uma silhueta se projetou atrás de mim com uma rapidez, que não tive tempo de reação. O braço esquerdo envolveu meu pescoço, dificultando minha respiração, enquanto na minha cintura, senti a ponta de uma lâmina encostar com força. Tentei me desvencilhar, balancei meu corpo mais era em vão. A voz sussurou no meu ouvido e percebi que se tratava de um homem.

-parece que a vadia adotou um cachorro de estimação- provocou o homem no meu ouvido.
-ela não está aqui, por favor me solta- falei e minha voz falhou. Meu corpo começou a tremer e o homem a minhas costas riu.
-vou te soltar quando minha faca estiver dentro de você donzela- gargalhou o homem. Conseguia sentir a barba dele roçar no meu ouvido, isso me fez querer vomitar. Nem mesmo no jardim de infância briguei com outra criança, fui assaltado duas vezes depois de adulto, reagir era minha última decisão. Contra um homem, provavelmente filho de alguma criatura mística, eu não teria chances.
-por que não espera ela chegar, você resolve com ela- falei, e não disfarcei nem um pouco meu desespero.
-chega de gracinha!- gritou o homem e começou a precionar a lâmina contra minhas costas.
-eu não sei onde ela tá!- gritei quase em forma de choro.
-onde está a pedra seu merdinha?- perguntou o homem sem nenhuma gentileza.

Nesse momento eu congelei. A lâmina rasgou o colete que eu usava e começava a perfurar minha blusa, a lâmina era gelada e fina, provavelmente bem afiada para fazer o serviço completo.
Estaria morto pela segunda vez em um intervalo de um pouco mais que um mês, talvez seria o recorde do castelo.
Como se surgisse do nada, como uma fagulha acesa, um pensamento surgiu em minha mente. A pedra, talvez não fosse possível, seria muita coincidência acontecer. Contudo eu estava "vivo", num mundo totalmente desconhecido pra mim, então nos permitiremos tal coincidência do destino.
Conhecia muito pouco sobre tudo, e demoraria um pouco mais para compreender exatamente aquele contexto. Mas envolta do meu pescoço, tirando o braço forte do homem que me sufocava, havia um fino colar de prata, e preso a ele a pedra. A Pedra do Éden.

-tirou a sorte grande amigo- tentei sorrir em meio ao desespero, aproveitando para puxar um pouco mais de ar. Usei minha mão para afastar a gola da minha blusa, deixando o colar a mostra.
-um frouxo dedo duro, Miguel pagaria uma fortuna por isso- zombou o homem. E com um movimento rápido ele virou meu corpo para ficarmos frente a frente. Parecia mais velho que Agatha, talvez por sua enorme barba e o excesso de cicatrizes no rosto. O homem rasgou a parte de cima de minha camisa deixando meu peitoral e a desejada pedra amostra. Ele pareceu hipnotizado, bem mais que eu quando vi pela primeira vez o colar. A mão dele ergueu em direção a pedra e percebi o sorriso dele de satisfação, nesse momento percebi o tal valor que objeto possuía.
Ele arrancaria o colar, ganharia uma enorme recompensa pelo trabalho feito, e provavelmente esconderia o fato de ter dado uma sorte incrível, pois a pedra estava nas mãos de um covarde. Mas não foi oque aconteceu, um brilho forte surgiu derrepente vindo do colar. E tudo aconteceu rápido, primeiro o calor, depois uma explosão, logo em seguida tudo ficou escuro pra mim.

Expulsos do Paraíso - Sangue e RebeliãoOnde histórias criam vida. Descubra agora