Expulsos do Paraíso - Sangue e Rebelião

fragmento

Lúcifer estava em um alto monte, ele tinha resolvido voar até o lugar, já Miguel disse que admirava uma boa caminhada. Seus olhos que possuíam um vermelho vivo, estavam admirando o jardim e cada detalhe, olhando de cima parecia perfeito e mesmo assim ele não entendia por que seu irmão havia abandonado Celéstia.

-oque achou ?- perguntou Miguel finalmente chegando ao topo do monte. Usava vestes largas e escuras, estava descalço e sua pele já não tinha o mesmo brilho que os anjos costumavam possuir.
-é lindo, eu preciso admitir- Lúcifer sorriu.
-trabalhei bastante com a poder que nosso Pai me dera, e agora o jardim inteiro está conectado a mim- Miguel abriu os braços e agora estava do lado do irmão.
-e quando você espande o poder, ele se revigora e tende a ficar mais forte- sussurrou Lúcifer. Além de ser mais novo que outro, ele nunca foi apreciador de magia ou poder celestial, seu foco sempre era as batalhas. Olhando para o irmão mais velho ele se sentia leigo.
-exatamente- falou Miguel um tanto satisfeito.
-como você conseguiu criar aqueles, qual o nome?- perguntou o mais novo.
-humanos, seres humanos Lúcifer...
-isso...
-Adão e Eva não passam de um pequeno projeto ambicioso...
-você não respondeu minha pergunta...
-o Jardim do Éden tem vida, desde as plantações, animais, até a água tem organismos vivos, então não foi difícil recriar uma versão nossa inferior, juntei um pouco de barro e moldei com minhas próprias mãos...
-por quê?....
-eu quis- Miguel precisou conter o grito e cerrou os punhos.
-você está mentindo pra mim- Lúcifer confessou, e pra sua surpresa o mais velho não tentou negar.
-a Escuridão- sussurrou o mais velho.
-eu sabia, desde a Batalhas dos Ossos não foi ?...
-você sempre foi atento irmão...
-por que não me contou ?, eu poderia ter te salvado, poderíamos procurar uma cura...
-eu gosto dela...
-mas...
-quando eu fui atacado e preso, antes de você ir me resgatar e sair como o bom moço, eu envenenado. Eu senti medo, achei que seria doloroso e que sofreria uma morte ruim, até que, senti ela correr nas minhas veias- Miguel fechou os olhos e saboreu suas próprias palavras.
-você está doente...
-nunca me senti tão bem em todo esses anos. Eu descobri que havia prazeres e sentimentos que jamais sentir, e que naquele momento eu finalmente senti...
-mas éramos felizes na casa do nosso Pai...
-não passávamos de escravos...
-isso é mentira...
-veja- Miguel balançou os ombros e de suas costas surgiram um enorme par de asas, agora estavam negras, totalmente diferente do seu irmão mais novo. A aparência de fraco e cabisbaixo pareceu sumir em questão de segundos em seu rosto, era detentor de uma beleza cruel e autoritária.
Lúcifer sentiu o perigo, seu corpo emanava sinais de alerta constantemente, ele era um tanto cabeça dura desde novo, e lutaria para salvar seu irmão, irmão de crescimento, de inúmeras batalhas, da vida.
-esse poder é ilusório Miguel, você precisa me escutar, uma hora outra você precisar pagar o preço, nada é de graça e principalmente vindo de algo mal- proferiu Lúcifer.
-oque você sabe sobre bem e mal irmãozinho?, nosso Pai sempre nos privou de tudo, e fez a gente acreditar que todos que não fossem de Celéstia eram inimigos, tinha a Escuridão dentro de si, eram condenados e amaldiçoados- Miguel ainda mantinha suas grandes asas negras a amostra, estava imponente.
-você está distorcendo as...
‐distorcendo?
-talvez seja essa...
-a culpa é minha agora ? fui fraco o bastante para me corromper ? você é um tolo Lúcifer...
-espere, não vai se safar bacando o raivoso...
-olhe pra mim- Miguel colocou as mãos no ombro do mais novo, e agora os dois se fitavam intensamente.
-me fale- Lúcifer sussurou e sentiu que qualquer momento teria o pescoço apertado.
-você acha que, se eu soubesse que a Escuridão era algo mal, eu teria me curvado e me entregado tão facilmente? acha que eu não resistiria ?- perguntou o mais velho e o cansaço voltou ao seu rosto.
-o inimigo é traiçoeiro, lembra do nosso jargão? o poder corrompe a mente- Lúcifer sorriu, ele não sabia como, mas queria despertar um pouco de sensatez e esperança no mais velho.
-eu me sinto bem e livre, posso usar meu poder e criarei meu próprio mundo aqui, você não fica contente com isso?- perguntou Miguel já incrédulo.
-volte comigo para Celéstia, como nos velhos tempo...
-fique aqui comigo, podemos ser oque quisermos, sem ninguém para nos ditar oque é certo ou errado...
-você sabe que não vou aceitar...
-eu sei Lúcifer, e sinto muito...
-pelo oque ?...

Com um movimento rápido, Miguel encostou o indicador na testa do mais novo que caiu de joelhos. Suas asas bateram em excitação.
-eu voltarei para Celéstia, preciso libertar aquele povo e levar o verdadeiro poder a eles- Miguel voltava a sorrir.
Lúcifer sentiu um frio tremendo, estava se joelhos e perdendo ainda mais seus sentidos. Não conseguia falar e nem dar atenção para as palavras que lhe eram ditas.
-você iria atrás de mim, e me impediria, eu não irei subestimar sua força querido irmão- o mais velho deu alguns passos para trás.
Lúcifer sentiu que suas pernas estavam coladas, e agora suas mãos se juntavam ao seu tronco. No momento seguinte, sua pele pareceu pegajosa, e teve certeza que estava criando escamas por todo corpo. Seus dentes estavam diminuindo a finas lascas afiadas, e seus olhos que sempre exibiram um vermelho vivo, agora estavam adquirindo um amarelo opaco.
Lúcifer, o anjo de luz, filho do Deus Pai, havia sido transformado em uma serpente.