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Lúcifer fechou o olho bom, seu rosto cansado demonstrava decepção. Não estava em seus planos ser atacado, invadido tão cedo.
O som da trombeta havia cessado e continuei imóvel, meu corpo estava arrepiado e meu coração batia com força. Não sabia oque fazer.
Lúcifer caminhou quase correndo até onde presumi ser sua cama, era parecido com a maca em que eu estava deitado no dia seguinte a explosão do castelo. Ele segurou um objeto grande e escuro, e só quando se aproximou, pude ver oque se tratava.

-você tem arma Thomas?...
-não senhor, deixei minha lâmina na tenda- murmurei.
-nao vai dar tempo- ele balançou a cabeça negativamente. Deduzi que a mente dele estava fervendo em pensamentos, tentando elaborar um plano de última hora.
Continuei em silêncio, evitando olhar o mais velho. Enquanto isso vozes murmurando entre si, ou gritando ordens, passavam de um lado a outro no exterior da tenda.

-Lúcifer, os traidores estão aqui !- Azazel irrompeu derrepente e quase desmaiei no susto.
-quantos são?- quis saber Lúcifer.
-contamos dez, mais ainda não fizeram nada, estão apenas sobrevoando o acampamento- respondeu o grandalhão.
E notei que, diferente de Mamon, ele não tinha facilidade de esconder o medo ou qualquer outro sentimento. O corpo forte e robusto, grande, com a cara marcada de cicatrizes, seu terrível penteado que não passava de um moicano mal feito. Não era suficiente para esconder sua feição, que estava tão pálida, e temerosa quanto a minha.
-não vão atacar- sussurou Lúcifer.
E enquanto as palavras saiam de sua boca, percebi que o grande objeto em suas mãos era uma banhia de tecido preto. De dentro, com um som fino de metal, ele puxou uma espada.
Era grande, e sua lâmina parecia tão afiada que eu jurei ter visto meu reflexo nitidamente naquela arma. Sua empunhadura era cravejada com pequenas pedras vermelhas, e senti que a tenda pareceu se iluminar um pouco da presença da espada. Estava apaixonado pela beleza mortal dela, era o momento perfeito para uma mosca entrar na minha boca aberta.
-pelo menos não por enquanto- concluiu Lúcifer. E nós três caminhamos em direção aos invasores.

No meio dos vários demônios, alguns com espadas, outros com lâminas semelhante a minha. Mas todos caminhavam até o centro do acampamento, olhavam para cima, na direção do inimigo.
A primeira vista, achei ter visto estrelas no céu escuro. Porém os pontos dourados se moviam de um lado para outro, desciam e subiam. E assim como fiquei extasiado vendo a espada de Lúcifer, eu estava contemplando o voo do inimigo.
Eram o oposto do seres que eu estava convivendo a mais de um mês. Os demônios pareciam sujos, guerreiros sanguinários, seres amaldiçoados. Enquanto os aqueles anjos, mesmo distantes eram belos, tinham um brilho encadecente e puro. As asas eram enormes e brancas como a neve, davam um ar a mais de imponência. A cada rasante que eles davam em nossa direção, o enorme rastro de vento batia contra meu corpo.
Minha transe foi quebrada com quando fui acertado com o tapa na parte de trás da cabeça.
-oque você está fazendo?, não se deixe enganar pela beleza- era Mamon que havia me batido. Fiquei pensando no fato dele ter que ficar na ponta dos pés para poder acertar minha cabeça. Acabei segurando o riso, a mente humana as vezes enlouquece quando não consegue assimilar acontecimentos tão fora da realidade.
-eles estão apenas dando um aviso, não querem nos atacar, mas ainda sim não se aproximam e nem falam nada- ele parecia falar consigo mesmo, com seu jeito frio e monótono, diferente de Azazel.
-e como eles sabiam que estamos aqui?- perguntei olhando novamente para o anjos que voavam sobre nossas cabeças.
-eles sempre souberam, o ponto é que. Os anjos não costumam atravessar os portões de Celéstia, Miguel não quer deixar o castelo vunerável. Ele é odiado por vários seres, não só os demônios. Se juntarmos todos os seus inimigos, teríamos um exército quatro vezes maior...
-e por que não se juntam ?...
-está vendo que tem apenas dez deles aqui ?...
-sim...
-somos mil vezes mais em quantidade, e ainda sim perderíamos feio se fôssemos a luta...
-vocês não tem mais a graça...
-isso, alguns não tem nada, outros apenas resquícios...
-se eles não querem matar vocês, então por que vieram até aqui ?- perguntei. Nesse momento Mamon apenas apontou para na direção do meu peito. A Pedra do Éden.
-não a chance de vencermos não é?...
-Lúcifer nos guiará Thomas...
-eu tenho certeza que sim- sussurrei. A verdade era que eu não tinha certeza de nada.

Expulsos do Paraíso - Sangue e RebeliãoOnde histórias criam vida. Descubra agora