Uma Namorada (Quase) Perfeita | WENCLAIR

Dietas

Minha intenção era ignorá-la e foi o que eu fiz. Ouvi passos rápidos atrás de mim e eu até teria ignorado isso também, se eu não soubesse de quem se tratava.

— Agora não, Wednesday. — Falei sem olhar para trás. — Agora não...

— Ainda está brava comigo por conta do chiclete?

Obviamente.

— O que você acha?

— Que você deveria ficar muito mais. — Apressou os passos e se colocou á minha frente, impedindo a minha passagem. O sinal já havia batido. — O professor não vai mais deixar a gente entrar na sala hoje e ainda mandou a gente fazer as atividades que a gente perdeu. E tem que ser lá na biblioteca.

— Que ótimo. — Estou precisando ficar um pouco sozinha mesmo. — Agora me dê licença.

— Mas... — Riu com certo divertimento. — Ele mandou a gente fazer isso em dupla. — Enfatizou a última palavra. — E eu o avisei que se o seu cabelo se transformar em uma goma de mascar, a culpa não é minha!

— Eu prefiro tirar um zero a ter que me juntar com você naquele lugar. — Falei naturalmente. — Cada um faz o seu, agora sai!

— Opa, nananinanão! — Me segurou pelos os ombros. — Não vou tirar um zero por sua culpa, então apenas se sente lá e me deixe fazer todo o trabalho sozinha, ok? Sou inteligente o suficiente para não ter que precisar da sua ajuda.

— Está mais para uma idiota e a propósito, acho que você deveria ir tomar um banho. — Tampei o nariz. — Você está fedendo a suor!

— Isso aqui é o cheiro da vitória, baby! — Exibiu os próprios músculos. Ela se acha demais. —  Fiz todos os gols hoje de novo!

— Bom pra você.

— Pois é, agora vamos. Eu ainda preciso ir dormir um pouco.

Wednesday Addams

Rolle, Suíça

Instituto Le Rosey

Finalizei mais três questões e mordi a ponta da caneta, enquanto foleava as páginas do livro de história. Enid estava sentada de frente para mim e estávamos caladas. Esse foi o trato para ambas conseguimos ter um pouquinho de paz aqui, pois caso contrário, nós duas acabaríamos brigando de novo. Contive a vontade de pregar o meu chiclete mascado no cabelo dela. O professor passou por aqui duas vezes para verificar se estava tudo bem e ficou até surpreso por nos encontrar assim, tão comportadas.

Mas é claro que aquele silêncio não durou por muito tempo, ainda mais quando ela começou a bater as unhas no vidro da mesa. Ela conseguia ser irritante até sem falar nada.

— Será que da pra parar de fazer barulho? — Reclamei. — Tem alguém inteligente querendo estudar aqui!

Ela apenas revirou os olhos e apoiou os braços encima da mesa, encarando-me. Sua expressão estava séria demais e tenho até uma leve impressão de que ela esteja triste. Será que eu deveria perguntar o porquê? Acho que não. Não estou em aí pra ela e a vida dessa garota nem é da minha conta, porém aquela curiosidade estava me matando.

— Por acaso você está com fome? — Perguntei.

— Não.

— Já ouvi dizer que cara feia é fome. — Impliquei. — E a propósito, acho que você deveria comer mais vezes. Vai acabar ficando anêmica e desmaiando pelos corredores a fora por aí.