Uma Namorada (Quase) Perfeita | WENCLAIR

Ciúmes?

— O que você achou? — Inclinei o corpo de frente para ela. — Achou bonito?

— Muito mais do que bonito.

— E por que está assim tão surpresa? Você também é de uma família rica. Já deve está acostumada com esse tipo de coisa, loirinha.

Ela suspirou e eu tremi até as bases quando ela buscou uma das minhas mãos.

— É que eu nunca andei em um... — Falou toda constrangida.

— Por que? — Fiquei curiosa, olhando-a atentamente.

—Não vou te dizer. Você vai me achar uma boba! — Apertou minha mão com mais força quando ouviu o jatinho começando a decolar.

— Prometo não te zoar.

— Jura?

— Sim. — Afirmei séria. — Eu juro.

— É porque eu tenho muito medo de altura... — Admitiu com certo receio, deitando a cabeça quase na altura dos meus ombros. — Então eu quase nunca ando nessas coisas... Assustadoras.

— Tudo bem, todo mundo tem medo de alguma coisa.

Ela ergueu o olhar para mim. Seu olhar era intenso, seu perfume era incrivelmente doce e os lábios muito convidativos. Contive a minha vontade de querer beijá-los. Isso não poderia acontecer. Nós só nos beijávamos na frente das pessoas e agora nós estávamos sozinhos. Há apenas a presença do piloto lá na frente e nada mais do que isso.

— Até você? — Perguntou perto demais.

— Sim.

— E do que você tem medo, Wednesday?

Um silêncio pairou no ar antes que eu respondesse.

— Eu tenho medo de amar. — Admiti com naturalidade. — Eu vejo os casais ficando juntos, se magoando e depois se separando e isso me dá medo. Deve ser muito difícil você amar uma pessoa e depois de um tempo, ter que lidar com o fato de que ela não fará mais parte da sua vida.

— Então é por esse motivo que você nunca namorou? — Quis saber, intrigada. — Por medo do amor?

— Sim. — Baguncei seus cabelos e ela riu. — É por isso sim.

— Não discordo de você. Eu fui amar o Logan e olha só onde eu fui me meter. — Me apertou mais contra si. Ela estava tremendo, o coração acelerado e a respiração embargada. — Fui machucada e ainda tô fingindo um namoro com alguém que me detesta.

— É a vida. — Acariciei suas mãos. — Pode me abraçar com mais força. Sei que você está aí morrendo de medo!

Ela revirou os olhos, mas acabou fazendo o que eu pedi. Fiquei olhando o céu através da pequena janela de vidro e tentei distrair os meus pensamentos com alguma coisa que não seja relacionada a essa garota.

E eu falhei.

— Esqueci de te perguntar, para aonde nós estamos indo? — Sua voz saiu bem baixinha. — Aonde você mora?

— Na cidade de Berna. Achei mais rápido e prático nós irmos de jatinho ao invés de pegar um trem. — Expliquei-me. — Você já foi lá?

— Só algumas vezes.

— Com a sua família? — Negou com a cabeça. — Com o... Logan? — Seu silêncio respondeu a minha pergunta e por algum motivo, aquilo me incomodou. — Hum, se você quiser eu te levo para a sua casa então. Não quero que você fique triste só por estar indo na cidade que você foi com o seu ex.

Por que eu estou me importando com isso mesmo?

— Não, tudo bem. — Fechou os olhos. — Eu quero ir. E talvez isso também me ajude a superar.

— Se você diz.

— Os seus pais não estão em casa não, né?

— Não, claro que não. — Menti. — Não se preocupe com isso.

— Que bom, porque eu não tô afim de intensificar essa farsa. Isso só nos causaria ainda mais problemas. — Alisou meus braços expostos. — E eu tô fugindo de problemas!

Ela ainda estava usando a minha blusa de frio e devo admitir que ela estava muito fofa com isso. De calça jeans, moletom azul e com uma maquiagem super leve, que agora já estava toda borrada devido a maneira torta que ela estava deitada.

— Eu sei, eu também estou.

— Ainda vai demorar muito? — Levantou a cabeça. — Eu tô muito apertada pra fazer xixi!

Ri da cara dela.

— É só ir no banheiro. Fica ali nos fundos.

— Eu não vou ficar em pé enquanto essa coisa está em movimento! Você ficou doida?

— Então faz na roupa.

— Idiota! — Socou meus peitorais. — Você deveria ter me avisado que nós iríamos para outra cidade de jatinho!

— E você teria vindo comigo se eu te dissesse?

— Óbvio que não! Eu tô morrendo de medo aqui! — Se jogou encima de mim novamente, me apertando contra si cada vez mais. — Você é muito mau comigo! Muito mau! Muito mau!

A abracei de volta.

— Calma, fique quieta, isso não vai demorar muito.

— Mas... E quanto aquela garota no seu quarto ontem? — Mudou de assunto, perguntando isso completamente do nada. — Você ainda não me disse quem ela é.

— A Ashley é só uma amiga.

— E ela é gostosa? — Ri daquela pergunta. — Hein, responde! - Bateu em meus ombros. — Ela é gostosa?

— Por que você quer saber disso?

— Porque se ela for bonita e gostosa, eu tenho certeza que você já deve ter pegado.

— Tá, e se eu tiver? — A segurei pelo queixo. — Qual é o problema disso? Você está com ciúmes?

— De você? — Forçou uma risada e me empurrou, afastando-se. — Nunca! Jamais! Em hipótese alguma!

— Então eu não tenho que te responder nada. — Rebati.

Enid inclinou o corpo para o outro lado, ficando de costas para mim. A ouvi bufar, toda zangada. Toquei seus ombros e pedi que ela se virasse de volta para mim, mas ela não fez isso.

— Se não quer mais me abraçar, então aqui, — Estiquei minha destra. — Segure a minha mão. —  Ignorada. — Anda Enid, para de ser teimosa! — Ignorada de novo. — Ok, fica aí com o seu medo então porque eu vou dormir!

Fingi me virar de costas para ela e olhei para trás no mesmo instante em que ela se virou. Enid puxou minha mão com certa grosseria e a segurou contra o peito, abraçando-a contra si. Ela fechou os olhos e acabou adormecendo alguns minutos depois. Quis me levantar para pegar algo para cobri-la, mas mesmo dormindo, ela não soltou a minha mão.

— Sra. Addams? — O copiloto abriu a pequena porta que nos separava e olhou para mim. — Nós iremos aterrissar em 20 minutos, está tudo bem por aqui?

— Sim, está tudo bem sim.

— Ok.

Voltei a olhar para aquela garota irritante, já imaginado a fera que ela iria se transformar, quando descobrisse que iria conhecer os meus pais ainda hoje. Merda. Isso não vai prestar.

Não mesmo...