Você não pode me obrigar a comer

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O garçom nos traz o pedido e eu apenas ouso beber o café. Jk está em silêncio comendo seu waffle e olhando para mim, embora eu saiba que ele vai abrir a boca logo logo e o circo vai pegar fogo. Não quero fazer tempestade num copo d'água, só acho que ele deve respeitar minha opinião.

— Come — acho até que ele demorou para dizer. — É tudo seu. Come.

Como se fosse fácil ter as coisas assim. Queria chegar na frente de um banqueiro e dizer: "Um bilhão na minha conta, babaca." O mundo não funciona assim. Eu não funciono assim.

— Eu não como muito — cruzo os braços sobre a mesa. — Nem pedi isso. E você não pode me obrigar a comer.

— Por que é tão cruel consigo mesmo, droga? — seu copo pousa violentamente sobre a mesa, mas ninguém está mais metendo os olhos no que estamos fazendo. — Pô, Jimin, estou tentando te ajudar. Você precisa de comida de verdade, sei lá, uns nutrientes. Quando foi a última vez que comeu uma salada? Uma fruta?

Fecho a cara e não respondo pergunta alguma. Silencioso, puxo um brownie e começo a comer. Está gostoso, eu também sou humano e não resisto. É meio amarguinho, do tipo que eu gosto. Jk me observa. Eu comendo deve ser realmente uma boa visão.

— Viu só? — ele brinca comigo.

Os minutos passam e ele está comendo junto comigo. Vez ou outra Jk decide roubar um pedaço do meu prato, então praticamente fazemos uma briga de garfos. Seu riso é gostoso e eu desejo estar próximo o bastante para sentir o seu cheiro de flores, baunilha e mel. Nem posso deixar de comentar sobre o fato de ele se vestir tão bem que chega me bater uma inveja. Eu pareço um farrapo ao lado dele, mesmo que eu goste da minha camisa do Homem Aranha — sem a teia, porque depois de tantas lavagens a coitada decidiu vazar.

Finalmente vamos ao restaurante e eu não sinto minha barriga cheia assim há tempos. Não poupo agradecimentos e ele não hesita em sorrir por ter conseguido me convencer. Logo estamos cada um em seus afazeres. Eu já estou vestindo o uniforme e servindo os clientes. Ele está na cozinha, preso e angustiado pela crítica daqui a dois dias. Queria poder acalmá-lo como ele faz comigo, porém sei que somos apenas colegas de trabalho.

Nos meus trinta minutos de folga sou parado por um dos funcionários antes de ir ao parque. Ele está segurando uma marmita e empurra-a para mim, alegando que Jk mandou-me e que eu deveria comer senão ele ia contratar uns caras aí para me ensinar uma lição.

— Foi isso o que ele disse — ele dá de ombros e se afasta de mim. Não gostamos muito um do outro desde o dia que eu escrevi aquela droga errada e ele implicou comigo.

Não quero me sentar aqui e comer, porque seria muito estranho e desconfortável. Há um canto mais afastado onde alguns funcionários comem, então é para lá que eu vou. Como rapidamente contra a minha vontade. Eu comi tanto de manhã que não estou com tanta fome assim. Mesmo assim, como tudo de uma vez e entro na cozinha. Jk está preparando um caldo.

— Oi, Jk. Obrigado — desvio de alguns cozinheiros e me aproximo dele.

— Ah, não foi nada — ele está realmente focado nos temperos.

— Ei, você pode me tirar uma dúvida? — ele não responde, mesmo assim faço: — Um dia alguém me chamou de "va te faire foutre" e eu não sei o que significa.

Metade da cozinha cai na gargalhada e eu fico vermelho de imediato. Tem um homem que está rindo tanto que eu não consigo esconder a vergonha. O que eu fiz, ué? Felizmente Jk não está rindo, pois é tão focado que vai de um lado para o outro em busca de ingredientes e nem presta atenção nas risadas.

— Vá se foder — ele simplesmente diz ao passar ao meu lado.

Mas que droga, eu não fiz nada e ele já vem me xingando? Credo, eu só estava com uma dúvida, ele não precisava me tratar assim. Estou com raiva agora e esses caras estão rindo mais ainda da minha cara de estupefato diante das palavra pouco gentis desse tailandês ridículo. Que vergonha minha.

— Por que você não vai? Seu egoísta, eu só fiz uma pergunta! — decido revidar. Não vou engolir desaforos de ninguém.

— Puta merda, ele não faz a mínima ideia! — um moço ocidental está caindo na risada bem ao meu lado. Seu rosto está vermelho de tanto rir.

— Jimin, foi o que ele falou. Esse alguém pediu para você ir se foder — responde Jk calmamente e, aos poucos, isso vai fazendo sentido na minha cabeça.

— Como se diz "filho da puta"? — indago, já com o indivíduo em mente. — Ou melhor: "Eu vou meter tua cabeça na guilhotina, filho da puta!"

Isso foi muito pesado? Espero que não. Mas você sacou, não sacou? França... Guilhotina... Ok, isso foi absolutamente pesado e eu quero desfalar.

—Jimin, tem como parar de xingar? Tem como vocês todos pararem de rir e falar palavrões? Sabem que não podem — Jkzinho reclama com a cara séria. Injusto o monstro me xingar e eu não poder fazer o mesmo.

É uma pena eu não estar com celular. Saudades Google Tradutor, porque Jk está me deixando na mão e eu não estou gostando nada disso. Saio da cozinha antes de me irritar mais e aproveito os últimos dez minutos de folga indo para uma livraria daqui a três ruas. Compro um livro para francês iniciante e apareço todo sorridente para retomar o trabalho, pois finalmente vou aprender alguma coisa em francês e vou virar mais avançado que o próprio chefinho.

Ele pode até criticar minha pronúncia, mas deve ser porque é melhor que a dele e ele não quer pensar que sou melhor do que ele em alguma coisa. Hm... Estou sentindo cheiro de inveja.

Café et Cigarettes • JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora