Você é muito especial para mim

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Está quente e ainda estou de cobertas. Está quente, ainda estou escondido neste cabelo. Sinto teu cheiro, ele está perto. Eu sei que Jk está aqui comigo, seu corpo emaranhado ao meu. O sol surgiu irado, forte, com raiva de mim, de nós. Tem inveja da lua. Ela viu tudo. Tudo e tudo. E eu lembro, sim, eu lembro do que fizemos. E de como fizemos. E de quantas vezes fizemos. E em quais lugares fizemos. Minha boca está seca e vejo que ele também lembra-se de tudo, está escrito no teu olhar. Nunca fomos de acordar assim, secando a íris do outro, um olhar expectador e perigoso. Aquele olhar que diz: ei, diz algo, nem que seja bom dia. Mas eu não quero falar. Acho que me decepcionei.

— Oi... — me diz.

— Ah, oi — envergonhado, cubro minha nudez e ergo- me atrás de alguma muda de roupa. Ainda bem que ele parou de olhar pra mim.

Estou estranhando meu corpo, seu corpo, nossos corpos. Estamos nos estranhando. Afasto-me um pouco atônito, ele faz o mesmo, porém leva o lençol consigo. Eu gostaria de dizer que não estou pelado, mas eu estou. E Jk sabe disso.

Visto um short praiano. Sento-me na cama ao seu lado. Encaramos a janela aberta, a placa do motel apagada, sem mais rosas e roxos. Rosa e roxo, apenas em nossos corpos. Ele evita olhar-me. Mas de relance, de repente descubro teu corpo salpicado de marcas. Ele ainda usa a gargantilha. O cabelo está uma zona. As pálpebras inchadas. O peitoral marcado. Meu short torto em seu corpo. Estamos uma bagunça.

— Eu... Eu vou tomar banho — levanta-se num sobressalto.

Ergo-me também.

— Ahn... Jk?

— Sim?

— É que... Você é muito especial para mim.

Nada diz, apenas inclina a cabeça. Eu também não esperava que ele fosse fazer algo diferente. Lhe arranjo uma toalha, digo que vou conseguir uma roupa e suas costas somem dentro do banheiro.

Enquanto Jk toma banho, talvez eu esteja um pouco perdido comigo mesmo. Recolho a roupa de cama suja do chão, levo-a para a máquina e enfio tudo de uma vez só. As camisinhas usadas, tudo isso vai para o lixo. Sua roupa, eu dobro. Quero lavar, mas Jk é cheios de caprichos que é capaz de recusar e criar caso. Não quero-o bravo. Ele está silencioso demais.

O fim da queda d'água aponta que ele já terminou o banho. Aproveito que talvez esteja se enxugando e ponho a água do café para esquentar. Sou das antigas. Nada de cafeteira, nada de máquinas, nada de expresso. Faço mágica com uma panela, água e pó. Me sinto estranho, devo enfatizar. Tudo em mim está estranho. Não sei como explicar. Ainda sinto seus dedos na minha pele.

As roupas que não uso ficam no outro quarto, o quarto da bagunça onde guardo minha bicicleta de raio quebrado e roda furada. Entre algumas roupas encontro uma mais parecida com o estilo de Jk, então acho que ele vá gostar dela. Sabe, eu quero agradá-lo muito. Há muito silêncio para nós dois. Onde está a gargalhada? Onde estão os gritos, as piadas, ou xingamentos, o sotaque? Estamos estranhos.

Minha cabeça está doendo, então talvez seja por isso que me sinto derrotado. Eu detesto quando bebo muito, porque nunca me sinto bem. Por isso vou preparar um café bem forte, mesmo que Jk não goste. Deslizo pelo corredor, enfio a cabeça na fresta da porta entreaberta do meu quarto. Olho-o. Está jogado à cama, olhando o teto, pelado, límpido. Teu corpo, escultura renascentista à minha frente, como se eu fosse merecedor de tal dádiva. Jk é minha divindade.

Meus ombros levemente empurram a porta e o som da dobradiça rangendo denuncia a minha presença. Teu olhar desce para mim. Nos encaramos, não movemos um músculo. Me pergunto no que ele está pensando agora. Não evito, não dá para ignorar seu corpo. Atrativo. Esta é a palavra.

Café et Cigarettes • JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora