Você não está me traficando, certo?

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A França é... Uau! Tudo é completamente perfeito, igualzinho ao Google Maps, só que melhor. Eu sei que estamos só na porta do aeroporto, mas posso ter uma boa visão panorâmica das proximidades e é de tirar o fôlego. Quero andar, explorar, tirar fotos, vivenciar... Parece até que estou preso num telejornal da área de notícias internacionais ou numa gravura de um livro de artes.

Noto que Jk se sente mais confortável ainda em poder falar em francês. Ele não para de ler placas e billboards (outdoors) em voz alta e isso só me prova a sua pronúncia impecável. Estamos seguindo para fora e me disponibilizo para segurar uma das suas bolsas de viagem. Depois de muita insistência ele cede, então nos dirigimos a um dos táxis ali parados.

Eu gostaria de apresentar o que raios Jk conversou com o taxista, mas eu não entendi nada senão o bonjour. Eu até pensei que conseguiria me virar, porém já vi que eu estou frito aqui sem Jeon. Vou grudar nele como carrapato. Será que ele vai se enjoar de mim?

— Entra, Jimin — ai, que delícia escutar um coreano, senhor. Eu não tardo a entrar e ele faz o mesmo, após enfiar as malas no porta-malas com o cara.

Aqui tem um cheirinho gostoso até. O taxista está com o rádio ligado e aparentemente deve ser alguma música puxada para o pop ou sei lá. Jk conversa com ele algumas coisas, ele concorda e então há silêncio.

— Está tenso — ele observa. Só agora vim perceber quão a barreira linguística é sufocante. É foda ver alguém conversando num idioma que você pouco conhece e não poder fazer parte da socialização.

— É tudo muito novo. E bonito, também — estou olhando para a janela, acompanhando tudo surgir e desaparecer com o avanço do veículo. O Tumblr nunca me mostrou esse aesthetic.

— Sim... — Jk desliza sobre o banco e para bem ao meu ladinho. Nossos ombros estão coladaços e eu amo esses contatos raros. — Ei, você viu aquela sorveteria? Para mim, é a melhor. Eu costumava frequentá-la no meu ensino médio.

— Espera. Quê? — estou confuso. Pensei que ele tinha feito somente faculdade aqui. — Você cursou o ensino médio na França?

— Só o primeiro ano. Um intercâmbio, sabe — Jeon encosta a perna esquerda na minha direita e eu fico em choque com esses contatos. O Jubileu está estranho hoje. — Gostei tanto que prometi a mim mesmo que voltaria para fazer faculdade.

Que sortudo. No meu primeiro ano eu me fingia de hétero para não apanhar e vivia sendo ameaçado por ter ideais comunistas. Foi a minha Idade das Trevas, nem quero me lembrar minuciosamente. Foi daí que surgiu a porcaria de Maldivas, as três gatinhas (e o garçom) e mais inúmeras bostas aí. Acho que eu estava mais preocupado em refutar o capitalismo sem ser linchado do que estudar num outro país.

— Então isso foi bom — respondo. De repente me pego tentado a perguntar quantos anos de fato ele tem. Não posso julgar sua aparência, ele absolutamente ainda tem cara de estudante do ensino médio. Será ele mais novo ou mais velho que eu? — Jk.

— Sim? — ele está tão focado na rua, matando as saudades, que sequer olha para mim.

— Eu devo te chamar de hyung? — minha voz sai tão meiga que até eu fico surpreso com isso. Desde quando meu jeito de falar é tão delicado assim? Trocamos de vozes, foi isso?

Jk solta uma risada e me olha com atenção.

— Deveria ser o contrário — a criatura revela e eu arregalo os olhos.

Como assim, glorioso Rá?

Aliás, eu disse que iria pesquisar sobre mitologia egípcia e cá estou eu super informado e cheio de nominhos novos a quem aclamar. Agora eu estou um nojo.

— Eu sou seu hyung? — me sinto um velho por ser hyung de todo mundo. Que droga, já não basta ser do Jihyun. Ah, que mundo cruel!

— Sim — ele concorda com a cabeça.

— E como você sabe?

— Eu vi no seu currículo, obviamente — ele revira os olhos. Ah, agora faz sentido. Eu sou burro, Jk, entenda.

Eu poderia até fazer da França a minha segunda casa, mas ultimamente ela tem sido a presença de Jungkook.

Eu faço careta e ele ri disso. Estamos tão próximos e ele se vira tanto para apontar lugares, que se aproxima mais e mais. Estou feliz por tê-lo aqui comigo, ele não para de contar histórias e mostrar lugares. Ele gosta realmente daqui, deve ser a sua segunda casa.

Coréia — finalmente consigo entender algo que Jk fala com o cara. Estamos na frente do hotel e meu companheiro está pagando o moço gentil. Ele tinha feito uma pergunta e essa foi a resposta.

Bem-vindos — consigo traduzir alegremente e não tardo a agradecer.

Obrigado — acho que dei entonação na sílaba errada, mas não ligo. Jk agradece formalmente e se despede do moço. Ele arrasta o carro.

Estou tão nervoso quanto Jungkook. Aquela pergunta no avião me pegou desprevenido e eu não queria que essa merda se repetisse outra vez. Não é que eu queira pegá-lo, não. Eu respeito-o e gosto muito dele como amigo. Tudo bem que talvez até demais por conta de uma leve atração nisso, mas isso não significa que devemos ter relações mais que amigáveis. É ridículo pensar assim.

O Brad Pitt, por exemplo, quem não sente atração? Ou o Zac Efron? Leonardo DiCaprio? Por acaso eu estou me humilhando no pé de algum desses para trocarmos uns beijinhos ou, talvez, algo mais? Não. O cremoso é bonito, cheiroso, legal e tudo mais.

Entretanto, não quer dizer que devemos ficar com ele. São coisas completamente diferentes.

Depois de conversas sem fim nesse hall chato e chique, nos encaminhamos ao nosso quarto. Quando Jk abre a porta, eu penso que erramos a porta e que algo está errado. É sério que a organização do evento tinha reservado esse paraíso para o meu Jeonzinho? Querido, isso daqui é o dobro do meu apartamento.

— Que enorme — comento ao entrar. Estou perdido no meio de tanto brilho.

— É, sim — pelo seu tom, é óbvio que ele sabia que ia ser assim. Não é uma novidade para ele, pois então começo a me indagar sobre ele já estar acostumado com lugares do tipo.

Jk fecha a porta e olha para mim. Eu não queria mencionar isso de novo, mas aquele sonho me trouxe traumas, por mais que eu queira esquecê-lo. Será que é agora que ele vai tirar uma corda da mala e me amarrar todo, dizendo que quer um pagamento digno pela viagem? Eu tenho muito medo. Onde foi que me meti? Será possível que eu não lembrei de Salve Jorge antes de vir aqui?

Quer saber de uma zorra? Eu vou bater a real pra ele. Falta só a coragem.

— Hã... Jk... — eu poderia até falar direito, mas parece que estou com alguma merda na boca, não é possível. — Eu queria saber de uma coisa...

— Hm? Pode dizer — ele respira tão fundo que até eu escuto, e olha que estou um pouco distante dele devido ao medo de, sei lá, um chicote que ele possa tirar da mala.

Ai, eu to com medo, me respeita. Vou ligar pra polícia francesa, falta só eu saber falar "tem um cara sendo um estranho sugar daddy sem minha permissão", em francês.

— Hã... É que... — até eu estou me irritando comigo mesmo. — Você não está me traficando, certo?

Ele abre uma risada tão alta que eu me surpreendo em como ele consegue ser tão espalhafatoso. Abanando a cabeça, demonstrando não acreditar naquelas palavras, ele carrega uma das suas malas até a cama e abre-a.

Ai. Meu. Deus. Lá vem o chicote, não estou preparado. Se ele vier atrás de mim, vou bem dar uma rasteira nele e depois um mata-leão. Quer dizer, vou renomear essa droga para "mata-amor-da-minha-vida". Eu não sei o que estou pensando, me desculpa. Estou nervoso.

Salve Jorge é o caralho, agora é Salve Jimin. É sério, alguém me salva? Por favor, eu estou entrando em desespero. Espia só minha paródia da abertura:

Olhando para o inferno, não sou capaz de crer. Salve Jimin no hotel. To implorando, to pedindo, vem me socorrer. Salve Jimin, pro céu. Olhando para a janela, eu sou capaz de descer. Salve Jimin do hell. 190, alguém me ajuda, eu quero viver. Salve Jimin desse pitel.

Eu nasci foi pra passar vergonha, me desculpa por isso.

Café et Cigarettes • JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora