Você sabe o que quero dizer

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Nossos dedos estão entrelaçados e eu estou destruído por querer beijá-lo e não poder. É como se nossos últimos feitos tivessem sido deslizes acidentais que não puderam ser evitados. Queria saber que gosto sua boca tem hoje.

— Vai ser bem rápido — ele me conta, incansavelmente tentando ganhar-me na luta de polegares. É claro que esse é o único motivo pelo qual estamos com os dedos entrelaçados.

— Jura? Eu pensava que essas gravações duravam uma eternidade — comento. Estamos num táxi, indo para o local de gravação do programa francês que Jk participará.

— É só uma pequena gravação. Não durará mais que duas horas.

Ah, mas é claro que duas horas são como dois minutos, que passam tão rápido que é até impossível de acompanhar no relógio. E eu nem sei o que vou fazer lá, afinal de contas. Quer dizer, vou prestar todo meu apoio e enaltecê-lo ao máximo, mas não quer dizer que isso seja inédito na vida dele.

— Ganhei! — exclamo depois de inúmeras vezes conseguir alcançar seu polegar e pressioná-lo para baixo.

Jk faz uma expressão de insatisfeito.

— Você está me distraindo — é a sua desculpa. Oh, ele não aguenta perder...

— Isso é mentira, Perdedor — dou língua para ele. — Você não aceita e fim de jogo.

— Você ganhou em algo, e daí? — ele cruza os braços sobre o peito e eu sorrio involuntariamente.

Ele é fofo demais assim, deveria ser ilegal. Deveria ser ilegal esse tipo de amor unilateral que estou preso. Talvez seja e, como sempre fui um fora da lei, não dou a mínima para isso. Me pergunto se nesta ocasião os policiais baterão na minha porta como noutra vez. Prefiro que me arranquem o coração para ver se assim eu não cometo esse erro de amar demais.

— Por que você ficou assim? — deslizo meu corpo sobre o banco e me aproximo gradativamente do seu corpo tatuado. — Tem que aprender a perder, bebezão...

— Você machucou meu dedão, besta — ele faz um beicinho dramático. — Você aperta muito forte.

— Sério? — aperto seu abdômen e inicio uma série de
cócegas para fazê-lo rir.

Ele se contorce de maneira engraçada e, quando avanço meu corpo próximo ao seu para contê-lo, acaba por ser ainda pior. Eu rio da sua risada, porém ela esvai-se por alguns segundos quando ele joga o corpo para frente e ambos batemos a boca uma na outra.

Aqueles dramas ridículos são meras mentiras para enganar o telespectador e fazê-lo cair na fábula que é o chamado "beijo acidental". Gente, pelo amor de Deus, não existe beijo algum quando isso acontece. A única coisa que existe é uma dor infernal e um gosto estranho parecido com sangue e eu estou rezando para que não seja isso.

Jk está fazendo uma expressão de dor e eu quero é falar "Ah, então a señorita também sentiu o mesmo que eu?" Ninguém mandou ele ficar se jogando pra cima de mim desse jeito e aí já vimos que deu merda. Mesmo assim, ainda estamos próximos e não vou desperdiçar. Um selinho doído não faz mal, né?

— Poxa, isso realmente doeu — ele resmunga, após meu beijinho, e toca nos lábios avermelhados pela pancada.

— Minha mãe sempre disse que beijinho melhora — sorrio e seguro seu rostinho com minhas mãos. Ele é tão lindo e delicado que eu penso que irá se desmanchar nas minhas mãos.

Eu quero é ter outro motivo para beijá-lo mais, acho que isso está virando uma mania. É como se eu precisasse disso para me sentir bem, como um remédio que traz efeitos colaterais fortes, mas que ignoramos pelo prazer ao entorpecimento. Acho que amo-o mais que cigarros e café.

— Você vai tirar minha maquiagem, boboca. Preciso dela para aparecer na TV — ele ajeita o cabelo ao rosto quando eu afasto-o.

— Você não precisa de nada disso.

— Quê?

Ah, a egípcia. Vai fingir que não me sacou enaltecendo-o.

Você sabe o que quero dizer — me curvo para beijá-lo, mas Jk imediatamente vira o rosto para o outro lado e não me deixa fazer isso.

Que saco, eu só quero beijá-lo. Poxa, qual o problema em amá-lo? O amor é normal, né? Todo mundo ama e eu acabei me apaixonando por ele. Não foi bem algo planejado. Na verdade, para ser honesto, quando senti a primeira coisada no peito, pedi que fosse um enfarto e não amor.

— Eu quero te beijar... — choramingo próximo a sua orelha. Ele tem muitos furos.

— Sim, isso eu percebi. — Jeon afasta-se de mim e recosta-se no banco. Acho que eu não deveria ter tentado fazer isso. — Mas não quer dizer que eu queira.

— Você quis nas outras vezes, então...

— Opa, apenas uma vez eu quis — ele ergue o indicador.

— Na primeira vez você retribuiu muito bem — explano. Não quero que fique parecendo como se eu estivesse forçando-o a fazer coisas comigo.

— Mas você só pensou em você quando me beijou.

Caso eu fosse um computador, explodiria com tantos códigos entrando e saindo erroneamente sem sentido algum por tamanha confusão que estou agora diante desta conversa. Acho que ele é meio problemático, extremamente viciado nessa mania de tornar tudo um problema e ir contra aquilo. Seu radicalismo é um banho de sol. Eu evito essa demasiada exposição.

— Quê? — cruzo os braços.

— Beijos são demonstrações de carinho, afeto, amor etc. Mas talvez você não tenha percebido que tudo isso é egoísmo.

Suspiro alto para que ele perceba quão exausto estou das suas desculpas ou princípios esquisitos e pisco os olhos lentamente. Quero que ele saiba que eu não estou tão interessado assim, embora não deixe de escutar.

— O amor é egoísta, Jimin. Pare um pouco para pensar sobre isso — como ele tem coragem de me fazer acreditar numa merda dessa? — Você quer me beijar, mas por acaso você se importa se eu quero te beijar?

— Eu não te amo — engulo em seco. Espero que meu nariz não esteja crescendo.

— É um exemplo, já que o beijo é uma das suas demonstrações — Jk dá de ombros. — Supondo que você me ama, está apaixonado, caindo de amores por mim... Vamos supor, só vamos supor...

Suposição? Quero abrir a boca e dizer "acertou, mizeravi", porque talvez seja a pura verdade. Honestamente, eu acho a palavra amor muito forte. Dizemos que estamos apaixonados, mas talvez estejamos enganados. Eu não sei se o que sinto é realmente amor. Eu nem sei o que de fato é o amor.

— Hm — inclino a cabeça e peço que continue.

— Eu digo que amo sua presença, amo quando você sorri, quando está bem, quando me abraça ou faz qualquer coisa que me encha de alegria — começa Jk, gesticulando as mãos para explicar-me ludicamente.

— Sim, mas isso é normal — umedeço os lábios com minha língua. Essa suposição dele poderia ser feita por mim e deixaria de ser suposição. Ele não sente nada disso, eu sinto.

— Porque o amor é egoísta, Jimin — recomeça ele. — Vamos continuar as suposições... Você faz coisas para mim, você cuida de mim e me trata bem para que eu fique feliz. Só que, parando para pensar, você só faz isso porque me ver feliz te deixa feliz.

Ué, não é que essa peste tem razão, parando pra pensar...? Isso faz sentido e ao mesmo tempo não faz. Quer dizer, sei lá. Acho que estou tendo um bug tremendo agora. Então, se o amor é egoísta, eu estou sendo egoísta esse tempo todo? Eu não gosto de ser egoísta.

— Hm... — resmungo.

Mas, no fundo, o que eu quero mesmo é ser o maior egoísta do mundo.

Café et Cigarettes • JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora